RELEMBRE: Ricardo Boechat abre o coração à revista BOA VONTADE

Na oportunidade, o veterano jornalista abriu o coração, revelando um pouco de sua história, analisando ainda o jornalismo brasileiro.

Da redação

11/02/2019 às 14h53 - segunda-feira | Atualizado em 11/02/2019 às 20h19

Como uma justa homenagem à sua rica trajetória, nós, do Portal Boa Vontade, reproduziremos aqui a entrevista concedida pelo renomado jornalista Ricardo Boechat, que retornou à Pátria Espiritual, aos 66 anos, à edição 217 da revista BOA VONTADE, de março de 2007.

Na oportunidade, o veterano jornalista abriu o coração, revelando um pouco de sua história, analisando ainda o jornalismo brasileiro.

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Por Angélica Beck e Rodrigo de Oliveira

O relógio aponta 16 horas na redação da Rede Bandeirantes de TV em São Paulo/SP. Câmeras, repórteres, editores, cinegrafistas, todos prontos para cobrir a chegada do presidente norte-americano, George W. Bush, ao Brasil: ele desembarcaria dali a duas horas. É nesse cenário que Ricardo Boechat, apresentador do Jornal da Band, nos recebeu cordialmente.

Daniel Trevisan

Vislumbrar o currículo deste jornalista é fundamental para situar o leitor nas palavras que vêm a seguir. O início da carreira remete à  década de 1970, e com a nova profissão a sede de sempre querer saber mais. Daí o fato de ser bem-sucedido por mais de 35 anos no jornalismo. A grande escola de Boechat foi a prática ao lado de nomes respeitados como Ibrahim Sued (1924-1995) e Zózimo Barroso do Amaral (1941-1997). Boechat nos contou ainda que o povo tem sido sua constante fonte de informação para os noticiários cotidianos da TV Bandeirantes e Rádio BandNews FM.

BOA VONTADE — Você se considera carioca?
Ricardo Boechat — Claro, me considero carioca. Não sou no sentido nato, pois não nasci no Rio de Janeiro, e sim em Buenos Aires (Argentina) porque meu pai trabalhava para o Itamaraty. Meus irmãos e eu nascemos em países onde ele estava trabalhando, no final dos anos 1940 e meados dos anos 1950. Os três filhos mais jovens, dos sete que ele e minha mãe tiveram, nasceram já no Brasil, mas os quatro anteriores nasceram fora e eu fui um deles. Mas torço fervorosamente pelas derrotas da Argentina em todos os esportes possíveis, sejam quais forem os adversários, portanto que não me venham dizer: “Ah, argentino!”. Embora ache um país fantástico e tal, um povo belíssimo, mas não tem esse negócio, não. Fui registrado na embaixada já. Meu pai não deu margem a dúvidas (risos).

BV — Nas memórias de infância, de juventude, já havia alguma ligação com a profissão de jornalista?
Boechat — Não posso me considerar alguém que um dia se deu conta de que seria jornalista ou seguiria essa carreira. Na verdade, fui trabalhar em jornal do mesmo jeito que antes tinha tentado vender livros, material de escritório ou qualquer outra coisa que me permitisse o sustento. Saí de casa, segui meu próprio caminho, que era o que os jovens na minha época ainda pretendiam. Hoje mudou: eles permanecem mais tempo em casa com os pais e eu entendo como natural esse processo. Mas no meu tempo, não! As angústias, as demandas interiores, exteriores, as aspirações, os sonhos, as utopias eram outras, e realizá-las passava por sair de casa para ser dono do próprio nariz, como a gente dizia. E, então, fui trabalhar em jornal porque foi a oportunidade que apareceu.

BV — Isso ocorreu na década de 1970, certo?
Boechat — Sim, no Diário de Notícias, foi por aí, em meados de 1970, se a memória já não falha muito. Eu sei que a carteira está assinada já a partir de 1971 e demorei um certo tempo para ter a carteira assinada. Na verdade, meu primeiro trabalho numa redação sem nenhum vínculo e muito passageiro foi no Última Hora, de Niterói/RJ, com uma edição, um caderno feito em Niterói, no final dos anos 1960. Eu estava lá e conhecia um veterano jornalista cujo filho jogava bola com a gente. E pintou lá uma tarefa para a qual, em função de uma certa identidade que tínhamos, me chamaram para fazer, relacionada a uma cobertura que eles estavam realizando à época em torno do assassinato do filho de um velho jornalista do Última Hora, chamado Ivandel. Aí eles precisavam de alguém que não fosse conhecido daqui e que desse uns telefonemas. Então o meu primeiro contato com uma redação foi assim, no Última Hora, de Niterói.

BV — Esse primeiro trabalho pode ter estimulado essa sua veia de jornalista apurador, de investigação?
Boechat —
Eu prefiro chamar o jornalismo de apuração do que de investigação. O apurador é que a gente quer dar esse ar meio romântico, então diz que é jornalista investigativo. Se ele fosse um investigador da polícia, ele seria um investigador que investiga. Nós somos jornalistas; nós apuramos. Então, acabei imprimindo essa característica ao meu trabalho de forma mais acentuada do que outras — por exemplo, não desenvolvi nenhum pendor para a análise, para o texto mais longo, para a política, para o debate. O meu negócio era o factual, o instantâneo, era o tiro curto, frontal. Quem demandava isto de mim e, portanto, acabou imprimindo essa característica à minha formação profissional foi a atividade de coluna porque eram colunas de notas factuais, informativas. Colunas que, no início, eram feitas pelo colunista mais renomado que o país teve. Pelo menos o de maior nome nacional e internacional: Ibrahim Sued e que era profundamente exigente e bravo. Então não havia como sobreviver ao lado dele se não aprimorasse esse dom, ou se não o tivesse para aprimorar. No quarto ano de trabalho, ele chegou para mim, num sábado de manhã, e disse: “Olha, acho que você engrenou, até a semana passada o seu bilhete azul estava na minha gaveta”. O bilhete azul era o de demissão; eles usavam essa cor no departamento pessoal. Então, descobri no quarto ano de trabalho com o Ibrahim que eu estava em teste, na iminência de ser demitido a qualquer momento como alguém que fizera uma experiência de três meses, como reza a legislação. Era um grande professor, ao vivo e em cores, da arte de farejar a informação, de correr atrás, de apurar, de cultivar as fontes.

BV — Conte-nos um pouco sobre as colunas diárias. Como foi esse desafio na sua carreira?
Boechat —
É preciso levar em conta que esse aprendizado é como todos na vida: cumulativo. Quem tem 30 anos fazendo coluna, tende a ter uma performance melhor do que alguém que tenha 15, a despeito de que este que tem 15 seja muito mais talentoso do que este que tem 30. Porque você vai somando as fontes. Toda fonte tem um resíduo de notícia, tem um retorno. Há fontes que ressurgem das cinzas; outras, fora dos holofotes, são melhores; tem fontes que, no ostracismo, se abrem mais. Então, há mil químicas, mil mecânicas, que o tempo é que vai permitindo capturar, perceber, explorar — no bom sentido da palavra. Foi um aprendizado, um apanhar e suar de camisa diários, que foram sendo aprimorados pelo tempo e, claro, algum jeito para isso devo ter tido. Portanto, fazer coluna era o que eu mesmo me dava conta, muitas vezes com grande angústia, de dar de cara com uma maldita página em branco rigorosamente todo dia. E a constatação de que o mérito de ontem não é a medalha de hoje, não é o dever cumprido de hoje. Você ontem fez uma coluna que arrebentou e resultou em suítes*¹, manchetes em todos os jornais; mas hoje você tem que fazer a coluna de amanhã e nada do que você fez ontem vai salvá-lo de um fracasso, se você não lavrar a terra, suar a camisa, sentir sede do jeito que sentiu ontem. Então é isso, era basicamente a percepção de que era um por dia, saindo do zero. Uma coluna impressa é, sem dúvida, assim como o jornalismo impresso, na minha modesta opinião, a melhor escola do jornalismo. A coluna diária de notas é uma belíssima escola dentro do jornalismo impresso, maior intensidade de aprendizado e de acumulação de experiência.

BV — Você já citou Ibrahim. Além dele, na ocasião, quem também foi importante para você?
Boechat —
O Zózimo Barroso era um cavalheiro da notícia, um artista, que tinha um humor muito sofisticado, um gentleman na forma de escrever e de apurar. O Elio Gaspari disse que o Zózimo tinha a arte de tirar uma notícia de você, sem que você notasse que ele estava te ligando para pegar uma notícia. E é verdade. Ele era um doce de pessoa. O Zózimo pegava um ato e lapidava o fato no texto, na pontuação, no saque... Eu pegava um fato e enfiava o fato nas pessoas. Fui mais disso do que daquilo. Sempre fui um cara muito — vou me permitir dizer aqui — melhor que o Zózimo. Diria até que comparado, tempo a tempo, até tão eficiente quanto Ibrahim nesse aspecto. Porque a época que o Ibrahim fez isso era outra, ele meio que na baba, sozinho. Disputei com competidores diários, muito presentes. Mas ouso dizer, sem nenhuma pretensão à vaidade, que sempre fui bom ou competitivo (prefiro ver dessa maneira, competitivo) para farejar, localizar as jazidas. E o Zózimo, para manter essa comparação, se chegássemos juntos a uma mina de  diamante, eu provavelmente acharia a maior pedra bruta e ele faria a melhor jóia. É uma questão de lidar com as coisas. Tanto eu quanto ele teríamos mercado para justificar a nossa existência.

BV — Como você compara o colunismo social de hoje e o do passado?
Boechat —
Não sou hoje um leitor de colunas tão assíduo, que me sinta confortável para analisá-las. Vou fazer um rápido recorte do que aconteceu até o momento em que estava nesse jogo cotidianamente. As colunas eram mundanas até os anos 1940, início dos 1950. Se você pegar uma coluna do próprio Ibrahim, já nos anos 1960, 1970, você vai ver que tinha muita abobrinha, muita coisa. Era muito na primeira pessoa, o colunista era muito personagem da coluna, sua maneira de lidar com o meio, com o mundo e tal, ele era muito na primeira. O Ibrahim foi o primeiro a perceber que no mesmo salão onde ele colhia as amenidades com a elite estavam necessariamente também as notícias, porque a notícia é um subproduto do poder e é, por definição, aquilo que interessa às pessoas. O que o Ibrahim percebeu? Eu estou à minha esquerda com um banqueiro fulano, à minha direita com o general beltrano, diante de mim o Ministro sicrano, ali o Presidente tal. Tanto posso perguntar para ele em que casa de jóias ele comprou o brilhante de sua senhora, como posso perguntar para ele que decreto vai anunciar amanhã; se o juro vai subir; se vai torturar mais um preso político ou se vai dar outro golpe de Estado. E como ele circulava nesse ambiente, percebeu que ali estava a descrição da toalha de seda importada não sei de onde, e a notícia do banqueiro, General, Presidente, Ministro ou sei lá mais quem. Esta fusão que Ibrahim fez na coluna consolidou o seu mito, a sua mística como alguém que tinha um espaço onde ocorriam furos, bombas. Foi tão forte o efeito disso no colunismo e no jornalismo brasileiros, que se pode dizer que o único produto jornalístico genuinamente nacional é o colunismo de notícias, de hard news, para usar a expressão da moda. O Ibrahim foi o precursor desta forma, com esta química. Maneco Müller (1923-2005), meu querido amigo, contemporâneo do Ibrahim, o Zózimo depois, muitos as depois, e outros, foram fazendo variações desse tema, e eu inclusive. E de resto, para olhar para o futuro, tenho a impressão de que o colunismo de hard news, de furos na imprensa como um
todo, inclusive no próprio jornal em que ele está inserido, tende a ir perdendo terreno, porque é natural que a segmentação faça dessas colunas de variedades seres meio exóticos, quer dizer, como seria dar um furo na economia, se você tem Luis Nassif, Miriam Leitão, só na economia? Como é que você vai dar um furo na política, se tem Franklin Martins, Ricardo Noblat? Antigamente as colunas nadavam em todas as piscinas temáticas possíveis. Essa era uma facilidade que está acabando.

BV — Como é essa relação do hard news, do furo de notícias, e você atualmente?
Boechat —
Minha motivação, meu vício é muito mais saciado pela descoberta do fato do que propriamente sua exposição pública. Isso para mim já é algo que a dinâmica do fato impõe. Mal comparando: é ter um filho e criá-lo, são emoções diferentes. Digamos que estou muito mais no ato de ter, do descobrir, do ver nascer. Como se fosse um arqueólogo entre a descoberta do jazigo lá da tumba de Ramsés e a sua presença no Louvre. Estou muito mais naquele primeiro momento.

BV — Na rádio BandNews FM, você foi vencedor da categoria “Apresentador/ Âncora de Rádio”, do Prêmio Comunique-se (2006). Como tem sido essa tarefa de trabalhar numa rádio FM?
Boechat —
O rádio está me dando uma oportunidade que os outros veículos não me deram, que me leva a uma constatação surpreendente: a oportunidade de matraquear, falar. Por que a surpresa, de certa forma? Porque é o veículo que só conheci na terceira idade da profissão. Um jornalista com 54, 55 anos está na terceira idade da profissão, ainda que intelectualmente suponho que se possa durar muitos anos mais. Mas ao ser admitido na atividade diária de radiojornalismo, o que eles me demandaram foi que eu fizesse um programa, comentando uma notícia e tal. Só que você vai fazer isso falando o que lhe vem à cabeça, o que acha, seus valores, suas ideias, visões. A resposta do público, diferentemente do jornal e da própria televisão, é muito imediata e incisiva. O ouvinte de rádio, para este tipo de programa, nos chama para a discussão. E eu, que não só falo compulsivamente, como escrevo compulsivamente, respondo a todos. Sempre brincava, dizendo que a melhor fonte é quem quer trair. É uma figura teatral, mas é o seguinte: o que quer trair, quer trair o segredo que lhe foi confiado pela mulher, pelo chefe, pelos amigos, pelo trabalho. E vai fazer isso contando para quem? Para mim, de preferência (risos). Então, achava que a melhor fonte é o traidor. Não é pejorativo o termo, no meu ponto de vista. Talvez para quem foi traído, sim. Mas é o cara que vai cometer a inconfidência. Sempre tive essa convicção. Hoje, depois que comecei a fazer rádio, cheguei à constatação de que estava errado. A melhor fonte é o Povo, o cidadão-comum. Ele faz coisas que o jornalista não faz, que as fontes dos jornalistas não fazem.

BV — Qual sua relação com a Associação Brasileira de Imprensa (ABI)?
Boechat —
A minha relação com a ABI é de reverência, respeito e memória. Eu, moleque ainda, com 17 anos, fui à ABI algumas vezes e bebia um pouco daquela mística, de grandes figuras, como Herbert Moses (1884-1972). Na minha saída do Globo, na minha demissão, a ABI se posicionou solidariamente a mim, o Fernando Segismundo, que estava na presidência, também o José Talarico. Emitiram uma nota de solidariedade, de repúdio à forma como transcorreu aquele episódio. Portanto a minha relação com a ABI é muito de carinho, de respeito, de reverência. Mas, do mesmo jeito que gosto da ABI, não gosto da idéia dos “jornalistas unidos jamais serão vencidos”. Prefiro olhar para esse poder como olho pra todos os outros. Que os colegas não me levem a mal. Não que eu vá entrar num jantar com jornalistas e a gente vá se matar. Mas estou falando do ponto de vista filosófico, institucional. Quero é competir, que vocês disputem comigo, que me critiquem, que eu possa criticá-los, que a gente possa bater de frente, porque certamente o cara que nos paga o salário, comprando jornal, vendo TV, ouvindo rádio, estará mais bem representado pela síntese dessa luta.

BV — Se não estamos enganados, este é um pensamento de sua autoria: “Temos de reaprender a contemplar, passear, divagar, coisas que foram massacradas pela ideia de produção”. É mais ou menos isso?
Boechat —
Eu me identifico com esse pensamento que talvez seja meu ou de qualquer outro. Houve um período que ainda é muito forte dentro do meu sonho, da minha utopia, em que eu insistia muito. Diferentemente do valor prevalente na sociedade, não acho que o homem nasceu para trabalhar como o fazemos. Acho que essa é uma deformação que a organização humana, a chamada evolução da vida em grupo, acabou impondo ao homem. A troco de que, ou de que ente, estaríamos num planeta tão maravilhoso, que está sendo destruído tão rapidamente, para ralar do jeito que a gente rala? Isso é uma deformação, uma “monstra” de uma deformação. Sempre trabalhei muitas horas por dia, muitos dias por semana, por mês e por ano. Sempre tirei muito menos férias do que tinha direito, do que deveria, sempre entendi que isso não era o razoável. Em 1998, por aí, tive um pique hipertensivo na redação do Globo. Nunca tinha tido nada do gênero, e foram três piques assim, três momentos com intervalos de 10 minutos. No terceiro, já estava no departamento médico do jornal, que era lá embaixo, no estacionamento. E aí me dei conta de que estava tendo algo muito grave, muito estranho, nada jamais semelhante tinha acontecido e jamais me sentira tão mal. Aí caiu a seguinte ficha: Eu estou morrendo, tendo um enfarte. Vou morrer aqui, agora. Nesse estacionamento, nesse lugar, onde estou trabalhando há 30 anos, 20 horas por dia. E dizem que quando você vai morrer, você tem o tal flash, e toda a sua vida passa pelos seus olhos. É uma síntese que vem com clareza e contundência, porque é o adeus mesmo. Tive exatamente isso que estou dizendo: entronizei o sentimento de que estava morrendo naquele instante. Pois bem, o que eu senti? Uma tristeza profunda com uma pitada de arrependimento pelas razões que geravam essa tristeza. E o que era essa tristeza? Era a constatação de que tinha passado a vida trabalhando e iria morrer no estacionamento do trabalho. Talvez aquilo tenha influído um pouco nessa síntese. Não gosto da idéia de passar a vida me matando de trabalhar. Acho que as pessoas estão fora do rumo, fora do seu sentido mais natural. A gente tem é que viver, contemplar, amar, andar à toa e sair dessa concepção imbecil, patronal, capitalista, bestializante, de que nós estamos aqui para produzir, nós temos que progredir. Quero é estar debaixo de uma  sombra, olhar o céu, contemplar uma nuvem, beijar a minha mulher amada, estar com os meus filhos, quiçá os meus netos e por aí vai. Não quero ter aquele sentimento outra vez, pelo amor de Deus! Não quero ser economicamente ativo! Que me perdoem aí os pregadores do labor humano. Agora, detalhe: depois disso, trabalhei muito mais do que tinha trabalhado. Ainda não consegui levar adiante essa visão filosófica (risos).

BV — Que recado deixaria aos leitores da revista BOA VONTADE e também à Legião da Boa Vontade?
Boechat —
Uma das vantagens de envelhecer é que a gente pode dizer que conhece coisas há muito tempo e de que este tempo nos ajuda não a julgá-las, mas a entendê-las, a avaliá-las. Eu conheço a Legião da Boa Vontade há muito tempo. Conheço não como um participante, não como um voluntário, um contribuinte muito ocasional, em algumas circunstâncias acionado pelos muitos mecanismos que essa Organização tem para procurar esse tipo de parceiro. Mas conheço de ver, de ler, de ouvir algumas coisas, do tempo do Alziro Zarur (1914-1979), dos tempos que me remetem lá para os anos 1970, talvez até antes. E o que eu gostaria de dizer para os leitores da revista BOA VONTADE é o seguinte: a LBV pode ser mais ou menos simpática aos olhos de uns ou de outros; mas aos olhos de todos, e aí me engajo nisso, podemos dizer que ela é uma entidade que sempre esteve empenhada numa causa, num objetivo: de ajudar as pessoas, contribuir com elas, tentar melhorar a realidade muito dura que muitas infelizmente ainda enfrentam no nosso País. A minha formação política sempre defendeu e ainda defende a idéia de que a realidade social só pode ser transformada pelo próprio Povo. Nesse sentido é preciso que, enquanto essa ideia, essa utopia, esse horizonte não se materialize, a gente cuide do dia a dia. Esta é uma tarefa que demanda engajamento, coração, amor ao próximo. A Legião da Boa Vontade está no grupo das instituições, das entidades, que são muitas, que lidam com a realidade brasileira, movidas a esse tipo de sentimento positivo. E nesse sentido, acho que é importante que a gente reconheça acima de tudo esse papel, não só dela, eu insisto, mas de muitos outros voluntários que estão por aí nesse país gigantesco, lidando com essa massa humana mais gigantesca ainda de necessitados.
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* Suítes — Jargão jornalístico que designa o desenvolvimento, nos dias seguintes, de uma notícia publicada pelo jornal.