MICROCEFALIA: Neurologista da Fiocruz explica causas, tratamentos e sintomas

Por ser uma doença não muito divulgada e com o aumento no número de casos confirmados no Brasil de uma hora para outra, o temor pelo desconhecido trouxe muitas dúvidas e medos.

Karine Salles

05/01/2016 às 18h00 - terça-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h05

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No segundo semestre de 2015, uma doença passou a chamar a atenção e ser vista com grande medo pela população brasileira, principalmente pelas mulheres grávidas. Estamos falando da microcefalia.

Por ser uma doença não muito divulgada e com o aumento no número de casos confirmados no Brasil de uma hora para outra, o temor pelo desconhecido trouxe muitas dúvidas e medos. E ter a confirmação de que o seu filho ou sua filha vai nascer ou nasceu com uma doença grave traz inúmeras preocupações e é natural que todos ao redor sintam-se apreensivos, mas não é preciso se entregar a esses sentimentos e ao desespero. 

Lembramos a você que nos lê que em qualquer momento de desafio, seja ele qual for, fazer uma prece e manter sempre o pensamento positivo são importantes "ferramentas" para enfrentar qualquer medo ou angústia. Já nos lembra o educador e humanista Paiva Netto: "Quando se sentir abatido, eleve o seu coração ao Alto, a fim de melhor sintonizar o Poder Superior. Dessa forma, abastecerá a Alma para os embates da Vida. Pode ter certeza: rezar funciona”.

Para esclarecer as principais dúvidas sobre a microcefalia, o Portal Boa Vontade conversou com a dra. Tânia Saad, neurologista pediátrica do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Abaixo apresentamos mais detalhes sobre o assunto: 

A DOENÇA

Ministério da Saúde

A microcefalia é a redução do tamanho da cabeça do bebê, ou seja, uma desproporção em relação ao peso e ao tamanho da criança. Porém, não é apenas isso. Segundo a dra. Tânia, “para dizer que existe microcefalia deve haver uma desproporção entre o ‘rostinho’ do bebê e o crânio, pois os ossos que fecham a ‘cabecinha’ ficam menores do que o tamanho do rosto”.

Até o momento, foram notificados quase três mil casos suspeitos da doença em recém-nascidos de 20 Estados brasileiros. Tendo em vista esse aumento, o Ministério da Saúde decretou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional.

CAUSAS

A microcefalia não é uma doença ‘nova’, porém sempre foi rara. Em geral, a malformação congênita está associada a uma série de fatores de diferentes origens. Pode ser o uso de substâncias químicas durante a gravidez, como drogas, contaminação por radiação e infecção por agentes biológicos, como bactérias e vírus.

No fim do ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em conjunto com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), emitiu um alerta epidemiológico mundial confirmando a relação entre o zika vírus e os casos de microcefalia. A confirmação da presença do genoma do vírus num recém-nascido com microcefalia foi feita pelo Instituto Evandro Chagas, em Belém, no Pará.

Contudo, a especialista reforça que a doença não é só causada pelo zika, pois existem outras que também causam a enfermidade. “A rubéola, por exemplo, que é uma doença bastante conhecida e que já tem vacina, também pode alterar o tamanho do cérebro e causar alterações no coração, no fígado e no intestino. O citomegalovírus também altera o cérebro num padrão muito semelhante com o do zika”, alertou.

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“Ela pode ter dificuldades para raciocinar, para estudar, para adquirir a linguagem, para se locomover”.

Quando se percebe outros membros da família com a cabeça pequena, quando o bebê não recebe sangue suficiente dentro da barriga da mãe ou de alguma forma ele tem um crescimento restrito no útero, também são outras causas para a microcefalia. “Isso ocorre porque muitas vezes os vasos da placenta estão com problemas ou a mãe está com a pressão arterial alta, impedindo que esse bebê receba os nutrientes”, salientou a dra. Tânia Saad.

CONSEQUÊNCIAS

Cerca de 90% das microcefalias estão associadas com retardo mental. O tipo e o nível de gravidade da sequela vão variar caso a caso. “É uma criança que vai ter problemas no desenvolvimento neuropsicomotor, ou seja, a parte neurológica e motora, e neurossensorial, devido as calcificações que se criam no cérebro”.

Outras consequências costumam ocorrer, como crises convulsivas, dores de cabeça e nas articulações, visão prejudicada, surdez, problemas intestinais. “Ela pode ter dificuldades para raciocinar, para estudar, para adquirir a linguagem, para se locomover”, disse.

DIAGNÓSTICO

A dra. Tânia Saad, neurologista pediátrica do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), afirma que a microcefalia também pode ser diagnosticada após o nascimento. Segundo ela, assim que a criança nasce é avaliado o “perímetro encefálico passando uma fita de costura na região acima dos olhinhos, que deve ser de 34 ou 33cm”.

Durante o pré-natal, exames como ecografia, por exemplo, também são capazes de apontar uma alta probabilidade para a má-formação, conforme explicou a especialista. Além do exame físico logo após o parto, é possível investigar o grau de comprometimento do tecido cerebral por meio de exames como a ultrassonografia transfontanela.

Ainda segundo a especialista, é importante prestar atenção em uma questão que está alarmando as mães. Se o recém-nascido for prematuro, “lógico que o exame do perímetro encefálico vai ser menor, mas dentro da proporcionalidade entre o peso e o tamanho do corpo da criança”, disse.  O que não quer dizer que é microcefalia.

TRATAMENTO

Tratamentos feitos desde os primeiros anos melhoram o desenvolvimento e a qualidade de vida. Não há um específico. Contudo, ele vai ser de acordo com as manifestações do bebê, pois algumas crianças têm um comprometimento menor e só há uma paralisia, por exemplo.

Independente do grau, o tratamento inclui sessões de fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional para estimular a criança, diminuir o retardo mental e também o atraso do desenvolvimento e do crescimento.

O que os pais devem ficar atentos é em relação às crises convulsivas. A neurologista reforça que “quanto menor o bebê, mais sutis são as manifestações. Além disso, eles devem estar atentos no momento em que a criança vai mamar, pois pode ficar ‘roxinha’ ou engasgar, se ela fica persistentemente encatarrada”.

EXPECTATIVA DE VIDA

Quando o bebê nasce com a microcefalia, de acordo com a neuropediatra, “é uma criança que vai sobreviver com muitas limitações”, o que vai depender também do comprometimento e acometimento do cérebro e o grau.

Para ela, não é possível calcular uma expectativa de vida. “É muito difícil a gente falar sobre isso. Isso é próprio de cada criança, de cada organismo, como ele vai conseguir fazer adaptações e de acordo com as células que ele tem no sistema nervoso”.

Embora a maioria das crianças com microcefalia tenham atraso mental, algumas mantêm a capacidade cognitiva sem grandes alterações, aprendendo a andar, escrever e ler, por exemplo. “Muitas vezes uma criança com microcefalia de leve a moderada vai sobreviver com algum grau de déficit cognitivo. Ela pode ser um ser funcionante, que sob orientação, supervisão, vai conseguir executar muita coisa na vida”.

E reforça: “Existem outras situações quando o grau é de moderado a severo. As crianças não conseguem desenvolver os sentidos da visão, da audição, da locomoção, e aí ela é bem mais limitada”.

ATENÇÃO E ZELO

O desconhecimento e a ocorrência do surto da doença ainda geram medo e dúvidas. “É importante que esses pais possam ser, mesmo que minimante, preparados para a chegada de um bebê que vai ter tantas necessidades”.

E como qualquer outra doença com ou sem limitação, nós, do Portal Boa Vontade, lembramos que o amor e a atenção dedicados à essa criança são essenciais para uma vida com mais qualidade de vida.

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Com informações do Ministério da Saúde, Fiocruz, Agência Brasil