Epidemia de HIV/Aids está longe de acabar; entenda as razões

Um novo relatório do Programa das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), alerta que as desigualdades estão dificultando o fim da pandemia de Aids

30/11/2022 às 09h08 - quarta-feira | Atualizado em 01/12/2022 às 08h44

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Neste 1º de dezembro é celebrado o Dia Mundial de Luta contra a Aids. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), a fim de criar um dia para lembrar a batalha constante contra a enfermidade, visando mobilizar a opinião pública sobre a gravidade da doença, e de amenizar o preconceito sofrido pelos portadores do HIV, o vírus causador. A data também celebra os progressos alcançados na resposta global ao HIV.

"O mundo se comprometeu a acabar com a Aids até 2030. Estamos distantes de cumprir esta meta. Temos de pôr fim às desigualdades que impedem o progresso para acabar com a Aids. Neste momento corremos o risco de que haja milhões de novas infecções e de mortes", afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, em sua mensagem do  Dia Mundial de Luta contra a Aids. “Equidade já! Este é o nosso chamado à ação. É preciso que sejam adotadas as medidas práticas já comprovadas para acabar com a Aids. Isto inclui a ampliação do acesso aos serviços mais adequados e de melhor qualidade para o tratamento, diagnóstico e prevenção do HIV. Todas as pessoas têm o direito de ser respeitadas e incluídas". 

Ainda segundo ele, todos precisam ser respeitados e acolhidos. E é urgente implementar de melhores leis, políticas e práticas para combater o estigma e a exclusão enfrentados pelos soropositivos.

EQUIDADE JÁ!

Um novo relatório do Programa das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), alerta que as desigualdades estão dificultando o fim da pandemia de Aids. Intitulado Desigualdades Perigosas, o relatório mostra que se forem mantidas as tendências atuais o mundo não conseguirá atingir a meta de acabar com a Aids como ameaça à saúde pública até 2030. 

O HIV continua a ser um grande problema de saúde pública global, tendo custado mais de 4 milhões de vidas até agora. Em 2021, 650 mil pessoas morreram devido à doença e 1,5 milhão de pessoas foram contaminadas com o HIV.

Brasil

O Brasil é um exemplo na resposta ao HIV, mas as desigualdades seguem impactando negativamente e gerando barreiras que impedem o acesso aos serviços de pessoas em vulnerabilidade. 

A representante do Unaids no Brasil, Claudia Velasquez, destaca os resultados do relatório e a doença no Brasil. “Quando falamos em desigualdades, estamos falando, por exemplo, da violência de gênero, do racismo estrutural, do estigma e discriminação contra as pessoas vivendo com HIV. Esses são apenas alguns dos fatores que servem de barreiras, impedindo as pessoas, em maior vulnerabilidade, de ter acesso aos serviços de prevenção, diagnóstico e tratamento do HIV e da Aids. Ou seja, desigualdades matam. O Brasil é uma referência na atenção ao HIV e tem todas as condições para acabar com mais como uma ameaça à saúde pública.”

Ela adiciona que, para isso, o país precisa garantir a equidade e o pleno acesso de todas as pessoas, especialmente aquelas em vulnerabilidade, ao serviço de resposta ao HIV e Aids para que tenham uma vida saudável e produtiva.

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Sabemos que não há cura para a infecção pelo HIV. No entanto, com o aumento do acesso à prevenção, diagnóstico, tratamento e cuidados eficazes do HIV, inclusive para infecções oportunistas, a infecção pelo HIV tornou-se uma condição de saúde crônica gerenciável, permitindo que as pessoas que vivem com HIV levem vidas longas e saudáveis.

O mundo pode registrar 7,7 milhões de mortes associadas à Aids na próxima década. A situação pode ocorrer se os líderes não conseguirem encarar as desigualdades no combate à doença. O número de infecções também é afetado pela falta de informação entre jovens, a discriminação faz com que as pessoas demorem para fazer testes e procurar tratamento precocemente. Muitas pessoas morrem sem sequer saber que têm a doença, pelo medo de perder a família, os amigos, o emprego.

"AIDS — O VÍRUS DO PRECONCEITO AGRIDE MAIS QUE A DOENÇA"

Apesar de o Brasil ter um dos melhores tratamentos contra HIV/Aids em todo o mundo — reconhecido e recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) —, a exclusão social sofrida pelos portadores do vírus ainda é um grande obstáculo.

Embora os testes e o tratamento estejam disponíveis, muita gente continua sem acesso a eles por causa do estigma e do preconceito. "Ninguém está preparado para receber uma notícia dessa", afirmou Lúcia* ao Portal Boa Vontade. Aos 28 anos, quando descobriu ser soropositiva, "a sensação que passou na cabeça é que iria morrer". Muitos se sentem solitários e isolados, e este é um momento em que o apoio da família e amigos e todo tipo de auxílio de especialistas são indispensáveis.

Em seu artigo Aids e Direitos Humanos, Paiva Netto afirma: "Se a pessoa se sentir humanamente amparada, criará uma espécie de resistência interior muito forte, que a auxiliará na recuperação ou na paciência diante da dor. Costumo afirmar que o vírus do preconceito agride mais que a doença". Vale ressaltar que quem vive com o vírus pode trabalhar, estudar, namorar, constituir família, fazer exercícios físicos, assim como todo mundo. Só não pode conviver com o preconceito, que muitas vezes faz a pessoa abandonar o tratamento médico.

O surgimento da doença despertou medo e intensificou dúvidas, o que fez muita gente ocultar a doença por medo de discriminação por parte da família e das pessoas próximas. Quem vive com o vírus pode trabalhar, estudar, namorar, constituir família, fazer exercícios físicos, assim como todo mundo. Só não pode conviver com o preconceito, que muitas vezes faz a pessoa abandonar o tratamento médico.

"Tive muito preconceito da família e dos amigos. É aí que a gente vê realmente quem é que está do nosso lado". Mesmo com toda a informação disponibilizada pela mídia, ainda se cria muito medo em relação ao portador do HIV/Aids, como se a doença fosse transmitida através do toque, do ato de cumprimentar, abraçar. "É muito dolorido pra gente. Tive depressão", afirmou Lúcia.

O AMOR SUPERA A DOENÇA

Em seu livro Reflexões da Alma, o escritor Paiva Netto afirma: "O organismo humano é a mais extraordinária máquina do mundo. Mesmo assim, falha. Contudo, com Amor até os remédios passam a ter melhor resultado".

Foi inspirada por Jesus, o Médico Celeste, e no amor que Lúcia sente pelos seus filhos, que ela reuniu forças para voltar a viver: "Eu precisaria estar bem para poder tomar conta deles. Eles precisavam de mim". Ela relata que foi com essa força que buscou e adquiriu conhecimento e orientação em grupos de apoio em sua cidade. Com isso, ela pôde explicar aos seus familiares e amigos como é o tratamento da pessoa portadora do HIV.

O que as campanhas lembram à sociedade é que os portadores do HIV são pessoas normais e não devem nunca ser estigmatizadas. Ao coração das pessoas que sofrem qualquer tipo de preconceito, Lúcia deixou uma mensagem de conforto e motivação: "Não desistam, pois a vida é muito bela! A gente pode amar e se amar, apesar de sermos soropositivos". Lúcia recomenda, também, buscar forças no Pai Celestial, da mesma forma que ela fez.

APOIO DA LBV

Arquivo BV

Em 1º de dezembro de 1996, no Dia Internacional da Luta contra a aids, personalidades se uniram à multidão que superlotou a Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, RJ, para a mobilização da LBV em defesa da Vida.

Muitas conquistas têm sido alcançadas em parte por iniciativa da sociedade civil organizada. Em 1º de dezembro de 1996, por exemplo, no Dia Internacional da Luta contra a Aids, a Legião da Boa Vontade, em sua permanente campanha a favor da Vida e contra o preconceito, reuniu mais de 200 mil pessoas na orla marítima, na Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, RJ. A iniciativa teve o apoio de dezenas de personalidades que, com a multidão, bradaram esta máxima de Paiva Netto: "Aids – o vírus do preconceito agride mais que a doença"

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Com informações do Unaids
* A identidade da entrevistada foi mantida em sigilo para preservar sua imagem.