Boa saúde pelos alimentos

Médico fala sobre o funcionamento do corpo humano e a restauração da saúde pela alimentação natural

Leila Marco e Camila Barbieri

03/05/2018 às 09h50 - quinta-feira | Atualizado em 03/05/2018 às 17h37

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Vivian R. Ferreira
Dr. Alberto Peribanez Gonzalez, médico-cirurgião, formado pela Universidade de Brasília (UnB).

Autor dos livros Lugar de médico é na cozinha e Cirurgia verde, o doutor Alberto Peribanez Gonzalez tem um trabalho focado no poder da alimentação natural, que, segundo ele, é capaz de promover a cura de doenças crônicas e degenerativas, além de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Médico-cirurgião, formado pela Universidade de Brasília (UnB), com mestrado e doutorado pelo Instituto de Pesquisa Cirúrgica da Universidade Ludwig Maximilian de Munique, na Alemanha, especializou-se em fisiologia e medicina integrativa*, aliada à Natureza.

Em entrevista à revista BOA VONTADE, ele falou do intricado e sofisticado sistema que é o corpo humano, ressaltando como os hábitos comportamentais e alimentares influenciam no funcionamento do organismo. Defensor de uma sinergia entre o bem-estar físico do ser humano e o cuidado com o meio ambiente, o dr. Alberto apresenta caminhos para a restauração da saúde física que passam bem longe dos balcões de farmácias.

BOA VONTADE — O que determina o bem-estar humano?
Dr. Alberto — Diferentes alimentos têm efeitos distintos em nosso corpo, assim como as emoções, os sentimentos, têm influência em nossa alma. Será que, se eu tiver sentimento de raiva, de medo, de injúria, estarei alimentando a minha alma? Será que, se eu comer [determinado] alimento, estarei alimentando o meu organismo? Porque há uma correlação íntima entre uma coisa e outra. O que a gente come não determina apenas a nossa saúde física, mas, igualmente, a nossa saúde mental e espiritual.

BV — Algumas doenças crônicas que antes eram associadas ao envelhecimento estão aparecendo cada vez mais cedo. A alimentação pode ser uma das razões para a antecipação desses problemas?
Dr. Alberto — Sim, se falarmos da alimentação no sentido mais amplo, que não envolve apenas a ingestão do alimento, mas também a capacidade de beber água de boa qualidade, de frequentemente fazer exercícios físicos e de estar em contato com a Natureza, recebendo a luz do sol. Os fatos são muito claros. A própria Ciência explica: toda inter-relação entre cada sistema hormonal do nosso corpo, entre cada grupo de glândulas do nosso organismo, responde a diferentes cores do arco-íris. Se tivermos uma comida colorida — uma salada com cores roxa, vermelha, verde, azulada, branca e laranja, por exemplo —, essas cores nos alimentarão por causa dos chamados fitoquímicos [compostos de natureza química produzidos por vegetais].

BV — Como ter uma relação mais saudável com a comida?
Dr. Alberto — Eu trabalho com saúde pública e procuro sempre dizer para as pessoas comerem de forma a ter maior energia vibratória no alimento. E o que é a energia vibratória? A energia da luz do sol contida em um alimento. Quando você colhe uma fruta, a retira de uma árvore e a morde, imediatamente recebe uma informação alimentar on-line no DNA de sua célula. Imagine a quantidade [de informações] que uma maçã ou que uma banana orgânica recém-colhida leva para dentro da célula. É isso que devemos considerar e que tem um nome, inclusive. No meu livro Cirurgia verde, eu descrevo uma classificação que foi desenvolvida no início do século passado, a chamada biogênica, que é um alimento que gera vida, que entra em você gerando uma função celular adequada, vital. E tem os biocidas, que são alimentos que matam a vida, que induzem a sua membrana celular, o seu DNA, a informações errôneas — que vão desencadear o diabetes, a hipertensão, o câncer, a depressão, as doenças degenerativas. Coma o alimento mais in natura possível, e você já estará selecionando o melhor para a sua saúde.

Diferentes alimentos têm efeitos distintos em nosso corpo, assim como as emoções, os sentimentos, têm influência em nossa alma. (...) O que a gente come não determina apenas a nossa saúde física, mas igualmente, a nossa saúde mental e espiritual.


 BV — Os alimentos orgânicos ainda são muito caros e de difícil acesso. Como facilitar a aquisição desses produtos?
Dr. Alberto — A nossa sociedade é cheia de contradições. Por exemplo, temos um brócolis com determinado agrotóxico que pode causar câncer mais barato do que o que foi plantado sem esse custo extra. Como pode? Tudo que envolve hoje orgânicos e a distribuição deles no mercado é uma questão de oferta e demanda. A gente precisa ter o alimento orgânico, e os feirantes são os principais intermediadores disso. Temos de dizer aos feirantes que só queremos orgânicos! Quando os pedirmos, nós os teremos. (...) A proposta é que a gente aproxime aquele que produz o alimento daquele que o consome. A saúde do homem está paralelamente ligada à saúde da terra, porque o alimento orgânico é ecológico, e os agricultores são os maiores ecologistas do planeta, na medida em que protegem a água, a terra... E, aí, a gente começa a diminuir as taxas de glicemia, de diabetes... Os níveis pressóricos desmoronam para níveis normais.

BV — É possível a cura pela própria Natureza?
Dr. Alberto — Sim. Quando você incentiva um grupo familiar ou uma comunidade a adotar uma alimentação baseada em plantas, que é o que faço, come mais berinjela, abobrinha, abóbora, feijão, ou seja, aquilo que a Mãe Natureza põe à mesa. Estou falando isso e tenho referências bibliográficas para afirmar. Sou cientista, estudei muito. (...) Em 2014, o Ministério da Saúde emitiu uma cartilha de prevenção de doenças crônicas, e lá [estava a recomendação de se] consumir alimento in natura, alimentos frescos, orgânicos, favorecendo os pequenos produtores rurais. (...) Então, quando ignoramos isso, é como se nós, médicos, e até nutricionistas disséssemos: “Não temos nada a ver com o que está escrito na cartilha do Ministério da Saúde. Vamos deixar que as pessoas se alimentem com o que está aí”. E o que está aí é o maior causador de doença crônica degenerativa e será o responsável pela maior epidemia de doenças agravadas, porque todas essas doenças crônicas vão para o coração e levam ao infarto; vão para o cérebro e provocam acidente vascular cerebral; vão para os rins e causam a falência renal. Isso aumenta a gravidade da crise da saúde brasileira.

BV — O que é necessário para melhorar a saúde do brasileiro?
Dr. Alberto — É preciso que se faça o que eu vi aqui na Legião da Boa Vontade. Fiz uma visita à escola [da Instituição em São Paulo/SP] e fiquei encantado. Como a cozinha [do local] é evoluída! Como as nutricionistas estão afinadas com o que há de melhor! (...) Tive o prazer de almoçar na LBV e de comer uma alimentação baseada em plantas, completa. (...) Eu diria que, se todo lugar fosse como a LBV, o Brasil seria outro, o mundo seria outro. Por isso, alinho-me bastante com a proposta da LBV e coloco-me à disposição para fazer qualquer tipo de tarefa com ela.

BV — O que é uma alimentação baseada em plantas?
Dr. Alberto — Ela consiste em cinco pontos: 1) Retire a proteína animal da dieta. (...) O que eu quero dizer é para tirar aquele excesso, aquela linguiça, salsicha de cachorro-quente. Não é para seguir esse conselho como um conselho sectário, dogmático. 2) Reduza as gorduras, tanto a animal quanto a vegetal hidrogenada, que é extremamente danosa. 3) Aumente o consumo de fibra alimentar, porque ela dá saciedade e uma coisa fundamental na digestão: mobilidade intestinal. O intestino é o nosso segundo cérebro. Só que — diferentemente do primeiro, que gosta de ficar quietinho — esse cérebro gosta de ficar se movimentando. Peristaltismo é uma função que estimula o funcionamento hormonal do intestino, e isso gera precursores neurotransmissores cerebrais. 4) Diminua a ingestão de açúcar. O homem brasileiro, no início do século 20, comia meio quilo de açúcar por ano; hoje, ingere 70 quilos, não só de alimentos doces, mas daqueles que vêm, por exemplo, na forma de pão salgado, que é açúcar também, porque a farinha refinada se transforma em açúcar. 5) Suplementação vitamínica para quem optar por uma alimentação sem carne nenhuma, pois será preciso repor a vitamina B12. Essa nutrição mais saudável é capaz de retirar placas de ateromas das artérias. Por isso, o meu livro se chama Cirurgia verde, porque você não precisa ir à sala de cirurgia para pôr um stent [usado para desobstruir as artérias do corpo humano]; não precisa mais fazer cirurgias redutoras de estômago.

BV — O excesso no consumo de proteína animal afeta o colesterol?
Dr. Alberto — Tem gente que acha que, ao comer muita carne, está trazendo algum benefício para si. A resposta virá quando estiver com a dosagem do colesterol lá nas alturas. Não existe colesterol no reino vegetal, só no alimento animal. O colesterol é uma substância produzida pelo fígado. É ele que gera o HDL, o LDL, o VLDL, a soma de colesterol total e os triglicerídeos. A alimentação fundamentada em plantas deixa o fígado — órgão detoxificador, que tira os venenos que caem dentro da gente — limpo, saudável e competente. Quando o fígado está poluído, começa a produzir LDL, muito em resposta [também] a um mediador, que é o aldeído ácido, originado da ingestão do açúcar. Enquanto as pessoas estiverem comendo muito açúcar, laticínio e carne, esse nível de colesterol tenderá a subir.

BV — O senhor falou novamente do açúcar em excesso. Os adoçantes funcionam da mesma maneira?
Dr. Alberto — Todo mundo precisa do sabor doce. Por quê? Uma banana — que é doce —, um abacaxi, uma manga, tudo isso é rico em quê? Em açúcar? Não! Tudo isso é rico em cálcio. A gente precisa do sabor doce, mas não deve adulterá-lo. Temos que usar o que vem da Natureza. Há um estudo feito em uma localidade do Pacífico muito importante. [Os pesquisadores] Verificaram que, em uma ilha aonde nunca havia chegado uma refinaria de açúcar, seus habitantes tomavam cana e que o índice de glicemia era normal e o de diabetes ficava próximo a 1%. Aí, foram para outra ilha, da mesma etnia, mas que tinha açúcar refinado. Nesta, o índice de diabetes era de 14% na população. Foi um salto. Quanto ao adoçante, só recomendo a stévia que vem da própria folha [dessa planta] e não é processada. Eu explico por quê: o ideal é que você acostume a sua língua, o seu paladar, a gostar do açúcar que vem da Natureza, porque este o nutrirá.

BV — Como as emoções influenciam no equilíbrio do corpo?
Dr. Alberto — A imunidade define se você terá câncer ou não. Ela diz se você terá metástase ou não, ou outros tipos de doença. É um dos nossos sistemas corporais fisiológicos mais próximos do espiritual. Uma imunidade forte é um Espírito forte. Quem está com medo, sofrendo, com raiva enfraquece, e a imunidade desse Espírito desmorona.

BV — O senhor contou que ficou impressionado com a qualidade do trabalho da LBV. Investir na infância para que ela construa uma relação saudável com a alimentação é um caminho seguro?
Dr. Alberto — A Legião da Boa Vontade é um lugar que não é de hoje; trata-se de um lugar muito antigo. Alziro Zarur [1914-1979] e Paiva Netto são pessoas que já vieram para cá com conhecimento. O que está acontecendo na LBV nada mais é do que o planejamento de um novo planeta, de uma nova Humanidade, de uma nova civilização. Não há dúvidas de que os passos que são dados neste local sempre seguem na direção mais correta. Notei que as crianças de todas as idades têm educação alimentar e que o conhecimento do alimento saudável [é levado] para os pais, para a faculdade. [A LBV] Ensina [também] o pai a fazer uma oração — ele que está, às vezes, desesperado, desempregado, e chega a criança daqui e diz assim: “Pai, vamos fazer uma oração?” Isso é muita esperança, é uma coisa que me alegra. Só de andar aqui dentro, a gente percebe que há uma sabedoria vigente. Não tenho dúvida de que o trabalho mais importante realizado pela LBV é dizer que nós fazemos parte de uma mesma Humanidade, que estamos ligados por fios invisíveis uns aos outros, que todos vamos morrer, que vamos para a mesma terra e [que] a Alma vai em direção Daquele que está no Alto.

DELÍCIAS SAUDÁVEIS
Gostou da entrevista e deseja conhecer alguns dos pratos saudáveis sugeridos pelo dr. Alberto Peribanez Gonzalez em seu livro Cirurgia verde? A revista BOA VONTADE separou duas receitas que estão na obra para você experimentar. Acesse https://goo.gl/wL7gsR.

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* Medicina integrativa — Caracteriza-se pela combinação de tratamentos da medicina convencional com terapias complementares em que há evidências científicas de sua segurança e eficácia.