Baixa cobertura vacinal e imunidade “fraca” deixam crianças mais vulneráveis a doenças

A falta de reforço no sistema imune se soma ao fato de as crianças estarem sendo cada vez menos vacinadas no país.

Da redação

08/04/2022 às 10h04 - sexta-feira | Atualizado em 11/04/2022 às 09h42

Getty Images/Ivan Pantic

Atualmente, as crianças brasileiras estão mais suscetíveis a contrair doenças bacterianas e virais do que nos últimos anos. E há pelo menos dois motivos que explicam isso. O primeiro é a baixa cobertura de vacinas contra poliomielite, sarampo e tuberculose, altamente transmissíveis e graves, e o segundo é o sistema imunológico menos desenvolvido, fruto do confinamento durante os dois anos da pandemia de Covid-19.

“As mesmas crianças que não foram expostas a brincadeiras na terra e ao ar livre durante a pandemia, e que passaram a ter asma e outras doenças, porque o sistema imune não se desenvolveu por falta de exposição, estão agora frequentando uma sala de aula. Isso pode deixá-las muito suscetíveis a ficarem mais doentes”, explica a pesquisadora do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Butantan, Luciana Leite, especialista em vacinas pediátricas.

A falta de reforço no sistema imune se soma ao fato de as crianças estarem sendo cada vez menos vacinadas no país. Em 2021, as maiores quedas foram na cobertura da vacinação de poliomielite, que causa a paralisia infantil, da tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), e da tetra viral (tríplice e vacina da varicela, contra a catapora), além da queda na cobertura da vacina BCG, indicada para recém-nascidos contra tuberculose. Os dados são do Ministério da Saúde e foram levantados pela pesquisadora de políticas públicas Marina Bozzetto, da Universidade de São Paulo (USP).

Pólio pode voltar a afetar crianças

A queda na cobertura das vacinas pediátricas não é de hoje, mas vem desde 2016, segundo dados do Ministério da Saúde. Com isso, há um risco real de doenças já erradicadas, como a poliomielite, voltarem ao país, ainda mais pelo surgimento de novos casos em países como a África do Sul e Israel. Essa situação vem colocando em alerta a Organização Mundial da Saúde (OMS) e, aqui no Brasil, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Em nota, a SBP alertou sobre o risco de epidemias de sarampo e poliomielite no país no próximo ano.

O sarampo já havia sido erradicado no Brasil em 2016, quando o país foi nomeado “zona livre do vírus do sarampo” pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Porém, com a diminuição da cobertura vacinal, houve uma explosão de casos em 2018, e em 2019 o país perdeu o título. Para Luciana, esse parece ser o caminho que está sendo trilhado pela poliomielite, considerada oficialmente erradicada no Brasil desde 1994.

Em 2020, a cobertura vacinal por grupo alvo para poliomielite foi de 75,88% e para a segunda dose de tríplice viral foi de 62,75%, segundo dados do Ministério da Saúde.

“A poliomielite é muito infectante e precisa encontrar pessoas suscetíveis. Se há pólio em alguns lugares do mundo, se pessoas desses lugares vierem para cá e nem todo mundo que deveria estar vacinado estiver, é um problema. Se essa pessoa encontra dez pessoas e três não estão vacinadas, já aumenta a probabilidade. Se encontra cem pessoas, quantas elas poderão infectar?”, questiona a pesquisadora.

A poliomielite é uma doença causada pelo poliovírus, um vírus que se multiplica no intestino e é transmitido de pessoa a pessoa principalmente pela via fecal-oral e, menos frequentemente, por água ou alimentos contaminados. Como não tem tratamento específico, a doença só pode ser prevenida por meio da vacinação.

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Nota divulgada pelo site do Instituto Butantan