Desafie o seu cérebro

A tecnologia pode melhorar a atividade cognitiva

Walter Periotto

10/03/2015 às 13h46 - terça-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h04

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Chamou a minha atenção um estudo realizado pela Universidade de Iowa, Estados Unidos, em 2014, que reuniu centenas de voluntários com 50 anos ou mais para jogar video game. De acordo com a pesquisa, a boa notícia é que, com empenho, se pode melhorar uma variedade de habilidades cognitivas e reverter até sete anos da decadência mental relacionada com a idade. 

O principal autor do artigo, Frederic Wolinsky, professor de saúde pública da universidade americana, conta que o trabalho foi conduzido com 681 pacientes saudáveis, em quatro grupos. Uma parte desses recebeu palavras cruzadas computadorizadas, enquanto as outras três equipes jogaram um game chamado Road tour, que consiste em identificar um tipo de veículo exibido rapidamente em uma placa.

As pessoas que praticaram a atividade por pelo menos dez horas (sessões semanais de duas horas), tanto em casa como em um laboratório no campus, obtiveram pelo menos três anos de melhoramento cognitivo quando testados depois de um ano. “Não só evitamos o declínio das habilidades cognitivas, como realmente aceleramos essas habilidades”, afirma Wolinsky.

O treinamento de idosos com video game ajudou a melhorar a capacidade cognitiva em funções como concentração, agilidade com mudança de tarefas mentais e velocidade de processamento de uma nova informação. A melhora variou de um ano e meio a quase sete anos nos resultados mais positivos do processo.

Com base nesse estudo, a revista BOA VONTADE entrevistou o neurologista Tarso Adoni, do Núcleo de Neurociências do Hospital Sírio-Libanês, na capital paulista. Para ele, “a descoberta deve ser vista com cautela, embora traga informação relevante”. Segundo o médico, “será necessária a reprodução desses achados em outras pesquisas após um tempo mais significativo de seguimento, tal como dez a 20 anos. O que o estudo demonstra é que o cérebro precisa ser sempre desafiado para que se mantenha ‘ágil’, ou seja, para que a velocidade de resposta a estímulos externos seja mais rápida”.

A respeito da possibilidade de o video game evitar a decadência mental, afirma o especialista: “Não podemos concluir isso de maneira tão generalizada. Podemos apenas dizer que jogar um determinado jogo (Neuroracer) pode tornar o cérebro mais ágil e, possivelmente, amortecer a velocidade de evolução da deterioração cognitiva da idade”.

Dr. Adoni ainda deu dicas para aqueles que não gostam de jogos eletrônicos e desejam manter o cérebro ativo. “Ele necessita de desafio/novidade. Precisamos associar uma série de tarefas, tais como leitura, encontros sociais, viagens, jogos de tabuleiro, tocar um instrumento musical, aprender um novo idioma”. E finaliza: “É de suma importância também proteger o cérebro daquelas doenças e situações que sabidamente podem atacá-lo, tais como hipertensão arterial, diabetes, sedentarismo, tabagismo, obesidade, alcoolismo e colesterol elevado”.

Eu ainda acrescento: não se sinta velho, todos passamos por transformações, elas são normais. Mantenha os horizontes sempre abertos para o novo e aproveite essa fase da vida para realizar antigos projetos. E, por último, não guarde mágoas e ressentimentos, dedique parte de seu tempo ao próximo, pois, como sabiamente concluiu o saudoso fundador da LBV, Alziro Zarur (1914-1979): “Deus criou o ser humano de tal forma que ele só pode ser feliz praticando o Bem”.