Qual a relação entre Espiritualidade e a Saúde

Há quem pense que Ciência e Religião são totalmente opostas. A TV Nupes, que completa 5 anos, vai na contramão disso, tentando mostrar a relação entre essas áreas.

Nathan Rodrigues

27/08/2019 às 09h47 - terça-feira | Atualizado em 27/08/2019 às 17h47

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Há quem pense que Ciência e Religião não ocupam o mesmo lugar da bancada. No entanto, diversos estudos têm sido produzidos para comprovar o vínculo entre o conhecimento científico e o religioso, fornecendo novas perspectivas ao debate desta questão polêmica.

Nesse sentido, destacamos a TV Nupes, parceira das Mídias da Boa Vontade que completa, em 2019, cinco anos de existência. O canal do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da Universidade Federal de Juiz de Fora divulga a ciência no YouTube, abordando questões como espiritualidade, religiosidade, transes, oração e suas relações com a saúde.

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A Super Rede Boa Vontade de Comunicação (Rádio, TV, Internet e publicações) conversou com o físico Lucas Mascarenhas de Miranda, mestre em Divulgação Científica e Cultural pela Unicamp e um dos fundadores da TV Nupes, sobre este destacado trabalho.

No bate-papo, o físico ressaltou os avanços das pesquisas na área, a atuação do Brasil e os desafios de se produzir este tipo de conteúdo. Confira:

Super Rede Boa Vontade Comunicação — De que forma a Religião e a Ciência se beneficiam com os avanços nas pesquisas sobre saúde e espiritualidade?

Lucas Miranda — A religiosidade faz parte do ser humano. Uma grande parte da população brasileira tem crenças religiosas, sejam institucionalizadas, na forma de uma religião, ou não. Não à toa, a Associação Mundial de Psiquiatria (WPA, sigla em inglês) publicou uma declaração dizendo aos psiquiatras para que levem em conta a religiosidade do paciente na hora de fazer um diagnóstico, porque isso é uma parte componente do indivíduo. Então, é muito importante que se faça pesquisa nessa área para que se descubra, por exemplo, a influência de uma crença na resposta do tratamento de determinadas doenças, como a religião pode afetar alguns indicadores de saúde. É importante a gente saber como a religião impacta na saúde para promover uma saúde cada vez melhor e integral do ser humano. Os psiquiatras têm relatado que muitos pacientes chegam com essa necessidade de falar sobre a religião. Então, é importante não só que se faça pesquisa nessa área como também que os cursos preparem os profissionais para lidarem com esse tipo de assunto.

Super Rede Boa Vontade de Comunicação — Quais são as perspectivas da atuação do Brasil na produção dessas pesquisas e na divulgação desses resultados para o mundo?

Lucas Miranda — O Brasil tem um papel muito importante nessa área, não à toa o coordenador das seções em Espiritualidade e Psiquiatria da Associação Mundial da Psiquiatria é o dr. Alexander Moreira-Almeida, diretor do Nupes. O Brasil tem um reconhecimento muito grande não só na produção do conhecimento — talvez seja o maior de língua não inglesa — como também na divulgação. E a TV Nupes vem cumprir um pouco desse papel, divulgar esses conhecimentos na área de Saúde e Espiritualidade que vem sendo produzido no Brasil e no Mundo.

Super Rede Boa Vontade de Comunicação — Hoje as pessoas recorrem sempre a internet para fazer pesquisas e muitas vezes confiam mais nas informações dos sites do que nos próprios especialistas. Dessa forma, é importante oferecer também ao público um espaço de informação sobre saúde e espiritualidade?

Lucas Miranda — Sim, com certeza. É muito comum a gente ver blogs e fontes que não têm rigor científico e narrativas de extremo: pessoas que são anti-religiosas, que acham que religião é o ópio do povo e só faz mal; e outras que acham que religião é perfeita e cura todos os males. Enfim, estamos acostumados a lidar com estes extremos, mas existe uma gama de caminhos intermediários que devemos levar em conta. O que temos tentando fazer, e consideramos muito importante, é oferecer à população pesquisas científicas que mostrem que não existem esses extremos, que a religião pode ser uma coisa positiva ou negativa (dependendo da forma como a pessoa lida com isso) e temos tentado, no Nupes, produzir conhecimentos nessa área, pesquisas sérias com todo o rigor científico para mostrar essas correlações entre saúde, religiosidade e espiritualidade. Vemos muitos divulgadores de ciência não dando crédito a esse tipo de pesquisa, que é controversa e é um assunto muito delicado, que a ciência não está acostumada a lidar, mas é importante que se divulgue esse tipo de pesquisa, e que se faça de forma séria, como temos feito no Nupes.

Super Rede Boa Vontade de Comunicação — Quais são os conteúdos que as pessoas vão encontrar no canal da TV Nupes?

Lucas Miranda — Temos publicado principalmente essa relação entre saúde, religiosidade e espiritualidade, que é a área de epidemiologia, como indicadores de saúde são afetados por crenças e religiões. Temos também vídeos sobre a relação histórica entre religião e ciência, já que existem uma série de mitos sobre isso. Dizem que a razão é incompatível com a fé, de que é impossível um cientista ser religioso também... Mostramos como essas áreas interagiram e interagem ao longo da história e como não são necessariamente incompatíveis. Além disso, temos vídeos sobre fenômenos espirituais, que também são investigados no Nupes. Temos um estudo sobre neuroimagem em estados de transe, sobre as cartas psicografadas por Chico Xavier, em que os pesquisadores investigaram o nível de certeza em relação às informações que ele colocou nessas cartas, qual o nível de precisão que elas tinham com a realidade, enfim, uma série de estudos em áreas diferentes, mas todos transitando nessa relação entre ciência e religião. Estes materiais estão em vídeo, mas na descrição sempre indicamos textos sobre aquele tema. Nosso foco principal são os vídeos, com entrevistas com pesquisadores do Brasil e do mundo, mas sempre indicamos leitura.

Super Rede Boa Vontade de Comunicação — Quais são os desafios de levar esse tipo de conteúdo?

Lucas Miranda — Nosso desafio é que, muitas vezes, o nosso trabalho é mal compreendido por religiosos e cientistas. É comum recebermos mensagens de pessoas religiosas falando que não é papel da ciência investigar essas coisas, que são de Deus e não devemos nos meter nisso; e do outro lado, temos cientistas ou divulgadores de ciência que criticam, dizendo que isso não é ciência. Os dois lados nos criticam, mas por conta da incompreensão do trabalho que fazemos e por desconhecerem como essas pesquisas vêm sendo reconhecidas na área da saúde pelo mundo afora. O maior desafio é esse, as pessoas entenderem de que isso é uma pesquisa científica séria, há um rigor, os pesquisadores que são entrevistados na TV Nupes falam sobre temas que publicaram em artigos e que foram avaliados por seus pares e publicados em revistas indexadas, reconhecidas. Os pesquisadores do Nupes também passam por esse processo.

A religião ganha muito com isso, depende da ciência, na medida em que os cientistas mostram como ela pode ajudar o indivíduo. As duas podem colaborar, é isso o que a gente defende e se baseia.

Super Rede Boa Vontade de Comunicação — Em nome do jornalista, radialista e escritor Paiva Netto, criador da Comunicação 100% Jesus, agradecemos pela entrevista. Gostaria de deixar um último recado para nossa audiência?

Lucas Miranda — Queria agradecer mais uma vez o convite, é muito legal conversar com vocês. Acessem a TV Nupes no Youtube, temos o site. Nupes é o Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde que já passou dos dez anos de vida. É um grupo de pós-graduação aqui da Faculdade Federal de Juiz de Fora. Eventualmente, viajamos o mundo com apoio de instituições de fora, como da Universidade de Oxford, Universidade de Cambridge e Universidade de Edimburgo, para poder entrevistar pesquisadores de outras universidades. Quem quiser conhecer um pouco mais desse trabalho, acessem nosso canal porque tem bastante conteúdo!

SOBRE A TV NUPES

Nestes cinco anos de existência, a TV Nupes conta com seis mil inscritos e contabiliza 250 vídeos, que geraram quase meio milhão de visualizações, em mais de 180 países.

Os materiais produzidos pelo canal apresentam um caráter interdisciplinar, englobando áreas tão diversas como medicina, psicologia, neurociência, física, teologia, sociologia e educação. Dentre os assuntos debatidos, estão o uso de neuroimagem funcional para explorar a espiritualidade e o impacto da religiosidade sobre a saúde.