Poluição do ar pode matar mais de 250 mil paulistanos até 2030, aponta estudo
Wellington Carvalho
16/08/2014 às 16h37 - sábado | Atualizado em 22/09/2016 às 16h02
São Paulo, SP —De acordo com projeção inédita do Instituto Saúde e Sustentabilidade, realizada no início de agosto por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), 256 mil paulistanos poderão morrer nos próximos 16 anos em decorrência da poluição atmosférica. Até 2030, a concentração de material particulado no ar ainda provocará a internação de um milhão de pessoas, e um gasto público estimado em mais de R$ 1,5 bilhão. A estimativa prevê que 25% das mortes, o que equivale 59 mil, ocorram na capital paulista.
Diante da situação atual, os resultados da pesquisa apontam que a poluição pode matar até seis vezes mais do que a aids ou três vezes mais do que acidentes de trânsito e câncer de mama. Por falar em câncer, ele poderá ser a causa mais provável das mortes: 30 mil casos até 2030 em todos os municípios de São Paulo. Asma, bronquite e outras doenças respiratórias podem representar mais 93 mil óbitos. Em seu artigo Cuidado, estamos respirando a morte, o jornalista, radialista e escritor Paiva Netto alerta para o fato de que “(...) estamos respirando a morte. Encontramo-nos diante de um tipo de progresso que, ao mesmo tempo, espalha ruína. A nossa própria”.
Os mais vulneráveis são aqueles que já sofrem com doenças circulatórias, respiratórias e do coração, assim como “adultos acima dos 40 anos; crianças, devido ao sistema imunológico ainda estar em desenvolvimento; bem como idosos, pela fragilidade”, como aponta ao Portal Boa Vontade o pesquisador do Instituto Saúde e Sustentabilidade Renan Rodrigues da Costa, que acompanhou o desenvolvimento do estudo.
De acordo com Renan, a atenção maior deve ser com o material particulado fino — tipo de poluição que se resume a uma poeira fina, já que “pode chegar aos bronquíolos* do pulmão e causar câncer no orgão, além de cair na corrente sanguínea e acarretar problemas cardiovasculares”.
CAUSAS
O pesquisador explica que há causas específicas para cada região do Estado. Na metropolitana, o agravante mais provável é o altíssimo número de veículos que transita todos os dias e libera as partículas de poluentes. Já no interior de São Paulo, algumas cidades como Araçatuba e Paulínia sofrem com os partículas geradas em queimadas urbanas e indústrias.
Outra questão a ser observada para o combate à poluição no Estado é a proposta de redução de poluentes estipulada na resolução Conama 003/1990, que já está ultrapassada. O decreto de 2013 que a atualiza não estabelece prazo para as metas. Como resultado, “a poluição se agrava. Não temos objetividade na mudança desse padrão”.
COMBATE
Em contrapartida ao padrão de poluentes liberado em São Paulo, o pesquisador Renan Rodrigues destaca que "uma medida viável é a troca do carro pelo ônibus no transporte público, como os BRTs (veículos articulados que trafegam em corredores), bem como o aumento da frota desse tipo de transporte. Outra alternativa é revisão obrigatória dos carros".
Considerando que todos têm a necessidade de desfrutar de um ecossistema equilibrado, o esforço tanto dos cidadãos como do Poder Público é imprescindível. Ainda mais porque a situação crítica, não só de São Paulo, mas de várias partes do mundo, pede esforços cada vez mais intensos — razão pela qual o jornalista Paiva Netto assevera no artigo Cuidado, estamos respirando a morte: “(...) A destruição da Natureza é a extinção da Raça Humana. Se não suplantarmos o difícil hoje, poderemos ser esmagados pelo impossível amanhã”.
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*Bronquíolos: são estruturas pulmonares que consistem na ramificação dos brônquios (espécie de tubos por onde passa o ar).