Iminência de crise climática

No mês dedicado ao meio ambiente, a BOA VONTADE convidou dois especialistas para falar do recente relatório do IPCC e mostra o esforço de vários atores da sociedade para reverter esse cenário assustador

Leila Marco e Alan Lincoln

15/06/2022 às 07h22 - quarta-feira | Atualizado em 15/06/2022 às 09h13

 

Junho de 2022! Neste mês devotado à Natureza e à atenção ao planeta, exemplos não faltam de iniciativas e pessoas que se empenham por modificar o status quo. Entre os marcos históricos dessa luta está a realização, há 50 anos, da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, na cidade de Estocolmo, na Suécia, em 1972, na qual foram dados os passos iniciais para o direito ambiental internacional. Apesar dessa batalha cinquentenária pela conscientização da sociedade, pelo cuidado com os ecossistemas existentes e pela pesquisa de fontes de energia limpa — e hoje já temos tecnologia suficiente para a transição para uma economia verde —, sente-se ainda a ausência de vontade política para tornar realidade essas novas tecnologias, a fim de frear as ameaças de destruição e trabalhar por um mundo mais sustentável.

Por isso, para comemorar e ao mesmo tempo refletir acerca das perspectivas futuras para nossa morada global, ocorrerá, entre 2 e 3 de junho, a Conferência Estocolmo+50: um planeta saudável para a prosperidade de todos e todas — nossa responsabilidade, nossa oportunidade. Promovida às vésperas do Dia Mundial do Ambiente, celebrado em 5 de junho, a ideia desse encontro é fortalecer cooperações e iniciativas rápidas e inovadoras que repensem o bem-estar humano, traçando uma época mais harmônica para os povos. De acordo com a ONU, o evento priorizará três diálogos de liderança, “que deverão apresentar recomendações evidentes e concretas sobre ações que podem ser feitas em todos os níveis”. São estas:

Diálogo de liderança 1: Reflexões sobre a necessidade urgente de práticas para se alcançar um planeta saudável e a prosperidade para todas e todos.

Diálogo de liderança 2: Como alcançar uma recuperação sustentável e inclusiva da pandemia da Covid-19.

Diálogo de liderança 3: De que maneira acelerar a implementação da dimensão ambiental do desenvolvimento sustentável no contexto da Década da Ação e a implementação do desenvolvimento sustentável.

Esse evento internacional será sediado pelos governos do Quênia e da Suécia e reunirá a comunidade global para debater as interconexões entre desenvolvimento, pobreza e meio ambiente.

O alerta do IPCC

Muitos dos debates em Estocolmo terão como base a terceira e última seção para o sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da ONU, divulgado pelos cientistas em 4 de abril deste ano e que é uma referência a respeito da produção de pesquisa mais atual sobre o tema, destacando que a humanidade tem três anos para fazer reduções imediatas e em grande escala de emissão de gases de efeito estufa em todos os setores-chave, a fim de limitar o aumento da temperatura global em 1,5 °C, conforme foi definido pelo Acordo de Paris, para evitar uma crise climática com consequências irreversíveis para nosso orbe, de forma a atingir o pico das emissões até 2025 e reduzir 43% até 2030.

O relatório é um esforço conjunto de 268 autores, de 65 países, que levaram em consideração milhares de estudos científicos. Segundo os especialistas envolvidos nesse trabalho, o abandono do uso de combustíveis fósseis é fundamental para reverter o cenário ameaçador que se projeta para daqui a alguns anos. Ao falar do documento, o secretário-geral da ONU, António Guterres, foi categórico: “Este relatório do IPCC mostra a ladainha de promessas quebradas sobre o clima. É um registro de vergonha, catalogando as promessas vazias que seguramente nos colocam em direção a um mundo inabitável”.

Todos esses acontecimentos mundiais marcados para 2022 têm em vista encorajar o diálogo e influenciar as decisões de governantes para enfrentar essa crise climática. A revista BOA VONTADE, atenta a essas preocupações, promove nesta edição uma reflexão sobre o assunto a partir da entrevista de dois cientistas brasileiros que colaboraram com o IPCC, os professores Patricia Pinho e Jean Ometto.

Além da contribuição dos pesquisadores, esse especial sobre o meio ambiente traz também a experiência da Legião da Boa Vontade em diminuir as desigualdades sociais, proporcionando educação de qualidade a pessoas vulneráveis, que geralmente estão mais expostas aos impactos climáticos, de maneira a prepará-las, em especial os jovens, que são a esperança do futuro do planeta, para enfrentar os desafios atuais e, acima de tudo, para que possam contribuir de alguma maneira para mitigar a crise em questão.

Impacto maior nas populações mais pobres

Doutora em Ecologia Humana pela Universidade da Califórnia, Patricia Pinho alerta sobre as regiões do planeta que mais sofrem com as mudanças climáticas

Quando se fala das repercussões do efeito estufa, em especial da emissão dos gases carbônico (CO2) e metano (CH4) pela queima de combustíveis fósseis, que tem alterado o clima da Terra, além de observar as fortes ondas de calor, secas, incêndios florestais e a contínua elevação do nível dos rios, mares e dos oceanos, outros fatores já podem ser detectados em diferentes áreas e são alvo de estudo de cientistas.

Professora Patricia Pinho

Um desses pesquisadores de ponta é a professora Patricia Pinho, doutora em Ecologia Humana pela Universidade da Califórnia e diretora científica adjunta do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Ela é a autora principal no capítulo “Pobreza, modos de vida e desenvolvimento sustentável”, do grupo de trabalho II para o Sexto Relatório de Avaliação (2022) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que fornece uma avaliação detalhada das consequências dessas alterações, bem como dos riscos e da adaptação das cidades, onde mais da metade da população do mundo vive atualmente.

Na entrevista à BOA VONTADE, Patricia destaca que a própria existência do ser humano está em perigo, em razão de um planeta completamente alterado antropogenicamente, e que “os impactos mais severos são experienciados nos ecossistemas que estão situados no ‘sul global’”.

BV — O que precisa ser mais levado a sério nesse novo relatório?

Patricia Pinho — Esse último relatório do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas reuniu mais de 270 cientistas, e a gente sabe, com alto grau de confiabilidade, que a trajetória e a variabilidade que estamos observando dos extremos climáticos são de origem antrópica, o que quer dizer: é o homem e seus processos de desenvolvimento socioeconômico, processos industriais e de agricultura, com a dependência em combustíveis fósseis, que têm gerado um aumento de emissões [desses gases, provocando, assim, a elevação] da temperatura global. Esse relatório lida, especificamente, com os impactos, com as vulnerabilidades e com as estratégias de adaptação, que são as soluções existentes. Ele é um alerta para a humanidade sobre a crise climática. E por que a gente chama de crise? Porque é sem precedente o número de eventos dramáticos, de secas e enchentes extremas, ondas de calor, alteração da sazonalidade... O que impacta diretamente a vida das pessoas, a produtividade agrícola, a economia... Além desse conceito de perdas e de danos materiais, há também os imateriais, intangíveis, como a perda de vidas humanas ou de cultura, do modo de vida... As pessoas, as populações tradicionais em regiões costeiras, sobretudo no Brasil, que tem uma imensa linha da costa, é bem relevante, têm sido obrigadas a sair, a deixar as suas áreas de habitação histórica, milenar, a exemplo de povos indígenas, por conta desses extremos.

BV — Em recente palestra, a professora ressaltou que as regiões que mais sofrem com as emissões de gases do efeito estufa geralmente não são as que mais poluem, e sim as mais pobres, por serem mais vulneráveis. Como lidar com os impactos das mudanças climáticas tendo em vista o social?

Patricia Pinho — Houve muito debate sobre esse assunto, porque existem assimetrias no aquecimento global, inclusive no que tange aos impactos. Os países industrializados, mais desenvolvidos hoje, situam-se na Europa; há também os Estados Unidos. Essas nações historicamente têm emitido mais gases de efeito estufa desde a revolução industrial até agora do que, comparativamente, por exemplo, o Brasil e os países da América Latina, da Ásia, as ilhas do Pacífico. E isso gera uma responsabilidade, porque, realmente, os impactos mais severos são experienciados nos ecossistemas que estão situados no “sul global”, [afetando] povos que estão no meio do processo, economias emergentes ou de baixo desenvolvimento econômico. Se esses países promoverem o mesmo tipo de desenvolvimento socioeconômico que os EUA, a Europa e outras nações fizeram, a gente estará piorando, e muito [, a situação do planeta]; transacionando para riscos e temperaturas inaceitáveis. Então, isso não pode acontecer, está em jogo a questão da justiça climática. Pede-se, globalmente, o anexo seis do Acordo de Paris para que esses que têm uma contribuição histórica de emissão de gases ajudem financeiramente na trajetória de desenvolvimento limpo, ou resiliente climaticamente, na adaptação dos países mais vulneráveis, que são de alta taxa de pobreza, de desigualdade socioeconômica, onde  há uma grande população indígena ou tradicional, dependentes extremamente de atividades que são sensíveis ao clima, como a agricultura e a pesca, e onde os trabalhadores estão expostos ao ar livre. Mas isso não quer dizer que as pessoas que possuem melhor condição financeira estão a salvo de sofrer os impactos; países como os Estados Unidos também terão perdas econômicas violentas, mas têm mais condições de resposta, de implementação de uma agenda de adaptação, enquanto você vê regiões na África e na Amazônia nas quais enchentes têm afetado as cidades com magnitude sem precedentes, provocando, muitas vezes, um colapso daquele município. Precisamos estar atentos à questão da justiça climática, para evitar uma crise humanitária, porque a consequência disso é a ocorrência de maiores migrações e o crescimento da incidência de indivíduos morando nas periferias urbanas em condições sub-humanas.

BV — O Brasil é um grande produtor de alimentos. Caso as variações climáticas intensifiquem-se, provocando períodos prolongados de seca ou enchentes, qual será o custo disso?

Patricia Pinho — Essa é uma questão central da mudança no meio ambiente, ela é bem mais perceptível pelas pessoas porque veem a escassez do recurso, o desaparecimento de algumas espécies. O clima é algo um pouco intangível, mas o que está acontecendo agora é diferente. Temos sentido na pele o aumento da temperatura, sobretudo nas regiões mais tropicais do sul do globo terrestre, como sendo o novo normal. É necessário que as pessoas se mobilizem no que tange às ações coletivas, porque a ideia de que, então, vamos colocar ar-condicionado dentro das nossas casas, nos carros, apenas contribui para a piora da crise climática. Você não está resolvendo a problemática, está jogando essas questões para as gerações futuras. Precisamos ter estratégias em massa — que são adaptativas e que melhoram o conforto térmico, o bem-estar humano, reduzindo problemas cardiovasculares —, ações políticas, no setor privado, para colaborar, ter alternativa energética, trazer reflorestamento, árvores para o meio urbano, soluções baseadas na Natureza de baixíssimo custo e que reduzem muito a temperatura experienciada nessas ilhas de calor, que são as grandes cidades. Qualquer atitude importa: “Deixei a luz acesa, vou lá apagar”, porque a nossa geração de energia hoje é de uma fonte não renovável. Ela é hídrica. Por que o Brasil não passa para a energia solar? Eu trabalhei em um projeto na África do Sul onde as comunidades para as mulheres, sobretudo as que lideram as suas casas, suas famílias, utilizam a geração de energia solar alternativa. Que estejamos atentos para os meios já disponíveis, que isso aconteça logo, para evitar colapsos, limites duros de adaptação, como o colapso de um ecossistema. No caso do Brasil, para a Amazônia, esse colapso é esperado no aquecimento acima de 2 graus, e, pela nossa trajetória, alcançaremos isso em breve, talvez em 2040, e aí nem a tecnologia mais avançada nem dinheiro nenhum investido serão capazes de reparar esses danos, esses serviços globais ecossistêmicos.

BV — Se não fizermos essa mudança de cultura de consumo, por mais que isso tenha um custo, o problema pode ganhar uma magnitude que talvez não tenhamos condições de arcar com suas consequências?

Patricia Pinho — Nós já temos perdas econômicas expressivas que estão sendo observadas aqui no Brasil. Por isso, é uma honra falar sobre esse relatório, porque eu vi que grandes jornais da mídia nacional não estamparam o seu resultado em primeira página, e isso para mim é um crime contra a nossa sociedade. A população precisa conhecer os impactos que já são observados e dos riscos futuros. Quanto mais tempo deixamos passar sem ação, maiores serão as lacunas de adaptação e os riscos. Que tipos de emprego as pessoas terão daqui a 10 anos? Que tipo de economia? A pandemia mostrou uma nova forma de fazer as coisas; hoje, por exemplo, eu viajo muito menos, há reuniões em que não preciso estar fisicamente, o meio digital funciona, e ele reduz a emissão e a dependência de combustíveis fósseis, o uso de ar-condicionado, o consumo exacerbado de produtos e alimentos. A Covid-19 mostrou que é possível mudar comportamentos. Desenvolver a ciclovia em São Paulo é importante, tem um custo pequeno e é uma estratégia de adaptação, porque permite que as pessoas se locomovam em pequenas distâncias, [tenham um espaço de] lazer, sem falar no benefício para a saúde. E a gente tem de pensar em outras economias possíveis, que sejam mais sustentáveis, que promovam o bem-estar humano e a resiliência.

Unsplash/Matthew Smith

O papel da floresta na regulação do clima

Pesquisador do Inpe, Jean Ometto fala da necessidade de se evitar o colapso da Amazônia

Pprofessor Jean Ometto,

Outro estudioso ouvido pela reportagem da revista e que faz alertas diretos, envolvendo em seus comentários não apenas aspectos climáticos e econômicos, é o professor Jean Ometto, pesquisador do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), que participa também do grupo de trabalho II para o Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. No bate-papo, ele falou da qualidade do material produzido pelo IPCC, da importância de trazer essas informações ao público em geral e de preservar a rica, extensa e frágil Floresta Amazônica, grande responsável pela regulação do clima no hemisfério sul do planeta.

BV — Por que esses relatórios do IPCC são tão relevantes?

Jean Ometto — Primeiro, agradeço o convite, é muito valioso esse espaço para dialogarmos sobre temáticas tão importantes como essa. O IPCC é um esforço da comunidade científica global, uma instituição que está sob o guarda-chuva Organização das Nações Unidas; então, os países signatários da ONU são apoiadores dessa ação. Para que os tomadores de decisão, em diversos níveis, possam planejar, organizar-se, construir uma governança sobre o uso de recursos naturais e o dia a dia da sociedade, as informações científicas são absolutamente relevantes, de maneira que essas decisões sejam tomadas em bases muito sólidas. No contexto das Nações Unidas, propôs-se a Rio-92, a convenção do clima e, dentro da convenção, esse painel científico. São cientistas nomeados pelos países do mundo todo, como no meu caso em particular e de outros colegas que trabalharam no relatório; fomos indicados pelo governo brasileiro e avaliados por uma comissão. As mudanças climáticas já estão comprovadas e vêm acontecendo, e é um processo que já vem ocorrendo nos últimos 100 anos com mais rapidez, pois está relacionado às atividades humanas. A Ciência identificou que uma série de processos, de eventos que são atribuídos às mudanças climáticas, entrou no contexto de emergência, de urgência, e, por isso, essa questão tem sido debatida de forma mais intensa e ampla.

BV — As pessoas têm demonstrado uma consciência, uma interação maior com o meio ambiente, e é fundamental a população fazer parte desse processo de mudança de comportamento.

Jean Ometto — Esse é o ponto central. Precisamos lembrar que, dentro disso, há indivíduos, e são eles que tomam as decisões, que influenciam o que a gente chama de população, seja em um país, uma cidade do globo terrestre. As atitudes individuais são absolutamente centrais. O aumento da percepção é esse resgate da conexão nossa com o planeta, estamos interligados, fazemos parte de um contexto de processos físicos, biológicos. Para nos alimentarmos, é necessária uma produção que depende de chuva, de nutrientes no solo, da abelha para polinizar, de uma microfauna no solo para poder ter nutrientes para a raiz, ou seja, de todo um contexto que está associado à Natureza. E essa mudança de postura vai desde essa relação mais próxima, como citei no exemplo da agricultura, até em relação aos centros urbanos, porque, hoje, 80% da população vive em cidades.

BV — O relatório do IPCC pondera ainda sobre a questão das desigualdades sociais, que os mais vulneráveis sofrerão com maior força os impactos das mudanças climáticas. O que é essencial considerar nesse aspecto?

Jean Ometto — O relatório fez um levantamento e identificou que entre 3,3 e 3,6 bilhões de pessoas, quer dizer, quase a metade da população global é vulnerável às mudanças do clima. Não é só uma situação regional, do nosso país ou de países próximos, mas global. E o que leva a essa maior vulnerabilidade? São as condições de vida, de acesso a recursos, de nutrição, de qualidade de alimento, de habitação. Todo esse contexto caracteriza uma população mais vulnerável. E essa desigualdade acontece em todo lugar do planeta, de uma maneira mais ou menos intensa. (...) Se você tem um evento extremo de deslizamento de encosta, normalmente as pessoas afetadas são as que têm uma condição de habitação menos favorável, porque o planejamento da expansão urbana não foi adequado, a população que ocupou aquele espaço sofre as consequências. E isso em vários aspectos. Ondas de calor, picos de temperatura muito baixa, que também estão associados a essa dinâmica climática, habitações que, às vezes, estão muito próximas ao mar e podem vivenciar o problema de maremoto. Em geral, as comunidades mais vulneráveis são as mais afetadas. Parte da resolução dessa questão vem do planejamento da sociedade, de como a gente a conduz com relação às mudanças climáticas, da redução de desigualdade.

BV — Por que a preservação da Floresta Amazônica é indispensável para o equilíbrio do nosso meio ambiente, da temperatura? O regime de chuvas tem sido alterado, a exemplo das fortes precipitações que temos presenciado desde o fim de 2021 em diversas partes do nosso país?

Jean Ometto — Análises científicas bastante profundas que vêm sendo realizadas há décadas — são mais de 50 anos que se levantam informações sobre a Floresta Amazônica — mostram de que forma ela interfere na alimentação da circulação regional atmosférica, na transferência da água do solo para a atmosfera, de uma maneira supereficiente. E por que a planta faz isso? Parte do alimento que ela produz vem da atmosfera, essencialmente de um processo que lembra a fotossíntese, quando a planta absorve o gás carbônico da atmosfera e libera água. E essa troca gasosa é superimportante para a manutenção do clima local, do clima regional, porque estamos falando de uma larga escala. A Amazônia se estende até os Andes, ela compõe toda a parte norte da América do Sul, incluindo Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. E o Brasil tem mais de 60% da Amazônia, uma parte importante do território nacional. Então, a gente tem uma cobertura vegetal que tem grande influência no clima pela dimensão continental, pela funcionalidade que a floresta tem de troca de água, de troca de gases, esses elementos todos são absolutamente centrais ao clima regional. Se tirarmos a floresta de lá, teremos impactos no clima seriíssimos por conta das transferências de massa de ar, de água e tudo mais. O valor da floresta como reguladora do clima é uma questão científica. [Vale dizer] que nós incorporamos no relatório informações que vêm de comunidades tradicionais, da gestão daquele ambiente. Existem estudos que mostram a ocupação da Amazônia de mais de 1.500, 2.000, até 5.000 anos, há muito tempo tem gente lá, e a floresta estava preservada. Claro, a quantidade de pessoas é diferente, hoje nós temos mais de 20 milhões de cidadãos na Amazônia, mas, para seguir a vida no dia a dia, é necessário preservar a floresta. Esse é um debate central, que replica para a Mata Atlântica, para o Cerrado, para a Caatinga — o relatório do IPCC também olhou para isso —, para o Pantanal, que são expressões da Natureza, são ecossistemas que fazem parte desses biomas de grande valor para o debate de clima, da sustentabilidade, da produção sustentável de alimento e por aí vai. Agradeço muito a audiência [da Boa Vontade] pelo espaço.