Dívida com a Mãe Natureza

LBV prepara as novas gerações para solucionar os desafios do amanhã

Wellington Carvalho

11/07/2018 às 11h42 - quarta-feira | Atualizado em 12/07/2018 às 17h35

Vivian R. Ferreira
No Jardim Botânico de São Paulo/SP, alunos do Ensino Fundamental do Conjunto Educacional Boa Vontade aprendem mais sobre a diversidade da fauna e da flora brasileiras.

Conforme estimam especialistas em climatologia, o futuro do planeta tende a ser desafiador. De acordo com o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), haverá aumento da temperatura global entre 1,8ºC e 4ºC até 2100. Em decorrência disso, cogita-se a escassez de água potável em várias partes do orbe, dificuldades para a produção de alimentos e maior número de mortes por conta de inundações, tempestades, ondas de calor e secas. Essas e outras alterações drásticas afetarão o nosso modo de viver e farão dos países mais pobres, que estão menos capacitados para lidar com tais problemas, os mais prejudicados.

Bettina Lopez
Montevidéu, Uruguai.

Alertas como esses mostram como é extremamente importante e urgente preparar as novas gerações para o futuro próximo, pois são elas que terão de enfrentar com maior vigor e bastante determinação as situações previstas. Por isso, quanto mais cedo se falar sobre essas questões, melhor. Na Legião da Boa Vontade, isso ocorre nas atividades de seus Centros Comunitários de Assistência Social e de sua rede de ensino, desde a Educação Infantil, cercando-se de cuidados o ser humano para estimulá-lo, a partir dos primeiros anos de vida, a exercer a Cidadania Ecumênica, aquela comprometida com a sustentabilidade do planeta e com o bem-estar dos habitantes deste.

Nas escolas da Instituição, os educandos de todas as faixas etárias são incentivados a fazer a si mesmos questionamentos do tipo “O que as minhas atitudes estão propiciando ao lugar onde vivo e às pessoas ao meu redor?” ou “Que legado deixarei ao mundo?”. Esse senso autocrítico é despertado nos estudantes por meio de atividades que os aproximam da Natureza e estimulam neles o respeito para com todas as formas de vida.

Diego Ciusz

Destinação correta para o lixo

Um bom exemplo disso pode ser visto no Jardim Infantil Jesus, do Instituto Educacional e Cultural José de Paiva Netto, da LBV do Uruguai, em Montevidéu, capital desse país. Os alunos do local (de 2 a 5 anos de idade) e seus pais são incentivados a coletar, ao longo do ano letivo, peças feitas de material reciclável que encontram pelas ruas da cidade. Bilhetes de ônibus, latas, embalagens de remédio, garrafas PET e pilhas alcalinas estão entre os objetos mais recolhidos. Os itens obtidos são armazenados em depósito no estabelecimento de ensino. Quando se atinge uma quantidade razoável deles, efetuam-se a devida separação pelo tipo de material e a posterior destinação a fábricas ou instituições, que os reaproveitarão. No caso dos bilhetes de ônibus, é feita a doação ao lar de idosos Cotolengo Don Orione, que, por sua vez, ao repassá-los em determinada quantidade à Companhia Uruguaia de Transporte Coletivo (Cutcsa, na sigla em espanhol), recebe em troca cadeiras de rodas, o que contribui para a ampliação da aparelhagem da casa.

Resíduos de alimentos viram adubo orgânico

Bettina Lopez
Alex Ferreira, educador voluntário do Jardim Infantil Jesus, da LBV do Uruguai, em momento de aula com alguns dos alunos do local.

O Jardim Infantil Jesus também promove outra atividade superinteressante: a compostagem de resíduos de alimentos. Desde 2017, o estabelecimento de ensino utiliza esse processo biológico para transformar as sobras das refeições da meninada em adubo orgânico, o qual é usado na horta da própria escola. “Cinco quilos de alimentos são compostados semanalmente. Em onze meses, 220 quilos de matéria orgânica foram reciclados desde o início do projeto, e aproximadamente 70 quilos de composto foram produzidos”, explica o voluntário da LBV Alex Ferreira, educador licenciado em Ciências Biológicas, com especialização em Orientação Ecológica de Florestas e Agroecologia. Com essa ação, evita-se que o lixo seja mal manejado e, consequentemente, polua o solo, o ar e a água com gás metano e chorume — líquido que pode contaminar lençóis freáticos. Além disso, a unidade economiza, graças à iniciativa, o dinheiro que seria empregado na aquisição de adubos industriais.

Para Alex, é muito gratificante ver o envolvimento dos alunos durante as oficinas de compostagem, ainda mais se sabendo o resultado a longo prazo desses encontros. Na visão do biólogo, “reciclar esse tipo de material em centros educacionais tem um grande potencial de transformação, uma vez que as crianças são mais receptivas e abertas a mudanças e podem realizar esses processos em seus lares”. Ele completou: “Aproximar-se da realidade local é importante para elas tomarem consciência de quais ações da vida cotidiana, direta ou indiretamente, influenciam seu contexto particular. Quando elas veem que você não apenas fala sobre essas coisas, mas as exerce, imediatamente questionam e, se entenderem, as assimilam e as praticam”.