Andar de bicicleta: mude seus hábitos e adote essa ideia

Wellington Carvalho

08/02/2022 às 08h04 - terça-feira | Atualizado em 08/02/2022 às 14h51

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Você se lembra quando foi a primeira vez em que andou de bicicleta? Algumas pessoas recordam esse momento marcante, no qual sempre fica o grande aprendizado de não ter medo de cair, já que sempre podemos nos levantar, além do sentimento de liberdade ao deixarmos as rodinhas que auxiliam no equilíbrio.

Agora, a pergunta que fica é: Quando foi a última vez em que você andou sobre duas rodas?. Se mal lembra da ocasião, convidamos você a repensar a forma como vem se locomovendo no dia a dia. E isso pela sua própria saúde e pelo bem do meio ambiente.

Uma recente pesquisa desenvolvida ao longo de 18 anos pela Universidade de East Anglia, no Reino Unido, revelou que pedalar ou caminhar até o trabalho aumenta a sensação de bem-estar e é melhor para a saúde mental do que dirigir. Entre os cerca de 18 mil britânicos que participaram do estudo, a maioria que parou de guiar carros e começou a se deslocar de bicicleta ou a pé passou a ter melhor concentração e a se sentir sob menos pressão.

Pedalar traz muitos benefícios para o corpo, a começar pelo sistema cardiovascular. De acordo com pesquisa do Laboratório de Metabolismo de Lípides do Instituto do Coração (Incor), andar de bicicleta pode acelerar o funcionamento da partícula que transporta o colesterol ruim, o LDL (lipoproteína de baixa densidade). Em comparação com os sedentários, o LDL é removido cinco vezes mais rápido do sangue de ciclistas.

Andar de bicicleta é, sem dúvida, uma forma de deixar o sedentarismo para trás. Ao Portal Boa Vontade, o dr. Ricardo Munir Nahas, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte, explica que, praticando atividades físicas como essa, “as pessoas têm menos pressão alta, colesterol mais controlado, menor risco de diabetes, mais disposição para o lazer e para o trabalho". E as vantagens não terminam por aí: "As pessoas dormem melhor e acordam dispostas com menos depressão, menos alterações psicossomáticas. Também controlam o peso melhor, fazendo com que a sobrecarga do envelhecimento seja menor para as articulações, principalmente nos membros inferiores, o que diminui as dores articulares”, enumerou.

E quando o assunto é meio ambiente, podemos considerar que a bicicleta é um veículo que, mesmo antigo, é um dos mais eficazes para a saúde do planeta. Isso porque não emite poluentes, como o monóxido de carbono, hidrocarbonetos e óxidos de nitrogênio dos carros — agressivos à atmosfera e, consequentemente, ao ar que respiramos. A poluição dos veículos automotores é tão prejudicial que, somente na cidade de São Paulo, 256 mil paulistanos poderão morrer nos próximos 16 anos em decorrência dela. Até 2030, a concentração de material particulado no ar ainda provocará a internação de um milhão de pessoas, e um gasto público estimado em mais de R$ 1,5 bilhão. A estimativa do Instituto Saúde e Sustentabilidade, realizada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), ainda prevê que 25% das mortes, o que equivale a 59 mil, ocorram na capital paulista.

Se queremos evitar que a projeção realmente se concretize, a hora de mudar é agora! Qual mudança? A de como fazemos para nos locomover de um lugar para o outro. Na Holanda, após sofrer com muita poluição atmosférica e o estresse de congestionamentos, os habitantes de Amsterdã trocaram os veículos automotores por bicicletas e, transformando a cidade em um dos principais centros de ciclistas da atualidade, reverteram a situação. Por que o restante do mundo não poderia usar mais a bicicleta também?

É claro que toda mudança não ocorre da noite para o dia. O que não devemos fazer é deixar escapar as oportunidades que vêm surgindo para o uso das bicicletas, como a integração entre elas e o transporte público. Muitas estações de metrô já contam com bicicletários, favorecendo que os ciclistas façam uso de ambos os transportes. Assim, quem precisa se deslocar em grandes distâncias, como para ir ao trabalho, consegue fazer cada parte do trajeto de um jeito.

Na capital paulista, por exemplo, ciclovias vêm sendo instaladas pela cidade. Para a doutora Meli Malatesta, arquiteta e urbanista, essa novidade é algo que acompanha as projeções de estudos. Palestrante em Mobilidade Não Motorizada e contando com uma experiência de mais de 30 anos na Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), ela recorda que, “em 2007, a pesquisa de Origem e Destino do Metrô (ODM), que é feita a cada dez anos, já indicava o aumento do uso da bicicleta. [Até aquela época,] desde 1997, apesar de ser pouco utilizada, a bicicleta teve um aumento de quase 200% em utilização — foi o meio de transporte que mais cresceu e isso chama a atenção de quem estuda mobilidade”.

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Meli aponta que o uso preferível de automóveis gera um prejuízo que precisamos e podemos recusar: “Temos que pensar que o espaço público das ruas é um bem de consumo que deve ter uso racional, mas que já chegou ao seu limite. O automóvel é um grande vilão de consumo do espaço urbano. O espaço que o automóvel consome é o mesmo para seis bicicletas circulando”.

É claro que a velocidade que precisamos para nos locomover tem de ser levada em conta. A capacidade de rapidez que um carro popular tem para chegar a um destino é, sem dúvida, maior do que a de uma bicicleta. Porém, a dra. Meli aponta o fato de não percebermos que dificilmente utilizamos a real potência dos automotores — inclusive por questão de segurança.

Em função da quantidade de veículos, existem congestionamentos e a velocidade média do trânsito é cada vez menor. Em 2010, a imprensa noticiou que a velocidade do carro estava igual à da galinha: 15 quilômetros por hora. A velocidade média da bicicleta é em torno de 15 a 20 quilômetros por hora. Ela é eficiente porque ocupa pouco espaço, permitindo você planejar a viagem e conseguir chegar ao destino no tempo planejado. (...) Todas as grandes metrópoles do mundo já acordaram para isso, como Nova York, nos Estados Unidos, que tem uma rede cicloviária muito significativa. É uma mudança de hábito, de paradigma, de se enxergar uma forma moderna e eficiente de mobilidade”, destaca.

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Portanto, pelo bem-estar dos seres humanos e da Natureza, pelo nosso convívio harmonioso com o espaço que dispomos em nossos municípios, optar pela bicicleta é uma escolha que não deve ser colocada de lado quando formos à faculdade, para o trabalho, ou à padaria da esquina, por exemplo. Utilize a bicicleta sempre que possível, lembrando que deve-se tomar algumas precauções.

— Antes de sair de casa, passe protetor solar pelo corpo, leve uma garrafinha d’água (para isso, a bicicleta deve ter um suporte) e use um óculos de sol;
— Equipe sua bicicleta com iluminação adequada, para não deixar de ser visto por outros veículos à noite;
— Pedale sempre usando capacete;
— Não trafegue na contramão;
— Prefira utilizar ciclovias e planeje o trajeto em ruas mais calmas;
— Nas rodovias, pedale pelo acostamento;
— Nas vias urbanas onde não há ciclovias, trafegue na beirada da pista mais à direita, próximo ao meio-fio, no mesmo sentido dos veículos. O motorista deve manter uma distância lateral de 1,5 metro do ciclista e reduzir a velocidade ao ultrapassá-lo.

Ah, e outra orientação muito importante: antes de sair sobre duas rodas por aí todos os dias, vá ao cardiologista ou ao clínico-geral para ter a real noção do limite de esforço ao qual você pode se submeter. Assim, você evita possíveis problemas à pressão arterial ou articulações, por exemplo.

Esperamos que essa matéria ajude você a ter uma qualidade de vida cada vez melhor. Ótimas pedaladas por aí, com responsabilidade! 
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Colaboração: Karine Salles.