Celular está tirando o sono dos jovens, segundo pesquisa

Muitas vezes, os jovens só conseguem ‘apagar’ por exaustão, estando sujeitos às complicações de saúde física e mental. A interatividade é tanta que as horas vão passando sem que ele perceba.

Karine Salles

05/03/2015 às 14h28 - quinta-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h04

Uma boa noite de sono é essencial para revigorar as energias e ter mais disposição. O período de repouso ajuda a garantir um bom aproveitamento físico e intelectual no dia seguinte. Em média, 8 horas de descanso são o ideal para estar preparado para as muitas atividades do dia seguinte e recarregar as energias. Porém, a correria e as pressões da vida moderna têm nos feito dormir cada vez menos.

São vários os distúrbios que atrapalham uma boa noite de sono. Em geral, a insônia é o mais comum, e está muito relacionada a questões psiquiátricas ou ao estresse do cotidiano. Já quem é muito ansioso demora mais para dormir e tem um sono mais leve, e quem sofre de depressão também tem esses indícios, além de despertar mais fácil.

Os problemas relacionados ao sono não costumam surgir em uma idade específica, como explica a especialista em medicina do sono dra. Ana Paula Megale Hecksher, "mas geralmente as pessoas começam a ter mais entre 35 e 37 anos". Ela ressalta que atualmente é comum que adolescentes e pessoas da terceira idade tenham um sono mais difícil.

ADOLESCENTES DORMEM POUCO E MAL

E foi justamente o que revelou uma pesquisa do Instituto de Pesquisa e Orientação da Mente (IPOM): 88% dos adolescentes brasileiros estão dormindo mal, e já estão, inclusive, enfrentando distúrbios ligados ao sono. Eles atribuíram a falta da ‘hora de dormir’ à rotina agitada, às poucas horas de sono por noite durante a semana. Por isso, eles acordam cansados e ficam sonolentos durante o dia. Muitos compensam nos fins de semana.

Para a psicoterapeuta Myriam Durante, o resultado do estudo é preocupante e revela que as noites mal dormidas estão se tornando um problema crônico no Brasil, pois a maioria dos entrevistados têm entre de 14 e 18 anos, idade escolar. Ao Portal Boa Vontade, ela explicou que “a longo prazo esse jovem não vai conseguir guardar tudo o que processa durante o dia, pois a memória de longa duração é processada durante a noite, enquanto ele dorme. Por isso, ele tem que ter um repouso completo e reparador”.

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Luzes de tablets e celulares são prejudiciais ao sono

POR QUE NÃO DORMEM?

Preocupações, falta de rotina, maus hábitos alimentares: tudo isso interfere na hora de dormir. Mas o que está tirando mesmo o sono desses jovens é o celular. Tudo começa com o péssimo hábito de ficar deitado usando o aparelho antes de dormir. A luz da tela atrapalha porque retarda o hormônio do sono. A pesquisadora afirma que nessas horas o adolescente acaba caindo no sono sem perceber e geralmente fala: “'Nossa eu capotei'. E capotou mesmo, porque o corpo não aguentou mais. Mas não significa que o sono foi reparador”. Ainda segundo ela, “um sono bom é aquele que no dia você acorda com vontade de levantar. Agora, quando você acorda e tem vontade de jogar o despertador longe, não foi um sono reparador”.

Muitas vezes, os jovens só conseguem ‘apagar’ por exaustão, estando sujeitos às complicações de saúde física e mental. A interatividade é tanta que as horas vão passando sem que ele perceba. Apontado como vilão, o aparelho fica ligado durante a noite ao lado da cama de 82% dos entrevistados. “O nosso cérebro trabalha por eletricidade e o celular também. Quando o celular fica ativo mandando ‘baraulhinhos’ anunciando que tem alguma novidade, por mais que o jovem não acorde, o cérebro que já estava processando algo, ele para para identificar o som. Por isso, o sono fica picado. No dia seguinte ao acordar, esse jovem está um caos”. 

PROBLEMAS DE HOJE E AMANHÃ

Quem não atinge um sono profundo e reparador com frequência acaba entrando em um ciclo vicioso. Fica mais irritado e estressado e passa a ter dificuldades para relaxar, estado fundamental para se conseguir dormir bem. Para os jovens, dormir mal tem um preço alto, pois interfere no aprendizado. Sem um sono reparador, eles têm um desempenho escolar muito inferior ao que poderiam ter, já que não conseguem reter tudo aquilo que aprendem.Além disso, já mostramos aqui que inclinar pescoço para olhar smartphone afeta a coluna.

Ainda durante a entrevista, a psicoterapeuta Myriam Durante lembra que dormir mal contribui, e muito, para um ganho acentuado de peso, indisposição para atividades físicas, mau humor, reflexos diminuídos e dores de cabeça. “Eles ficam sentados o tempo inteiro. Já temos casos de trombose, que só aparecia em idade avançada, agora surgindo em adolescentes. Eles precisam se alimentar melhor, dormir melhor e fazer mais caminhadas”.

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Luzes de tablets e celulares são prejudiciais ao sono

COMO AJUDAR

O organismo lida melhor com uma rotina: dormir sempre no mesmo horário faz com que o cérebro entenda que a hora é de dormir. Uma hora antes de dormir, é recomendado fazer atividades mais tranquilas e evitar luz artificial das telas, e o consumo de alimentos estimulantes. Os pais precisam colocar limite explicando que na hora de dormir eles precisam desligar o celular ou colocar no modo avião. Pois é uma questão de saúde”, reforçou. O ideal é que o celular fique fora do quarto. E, se você se perguntou como fazer para acordar sem o aparelho por perto, lembramos que os despertadores simples, que acordaram nossos pais e as gerações anteriores por muito tempo, podem fazer isso.