
Renomado psiquiatra dr. Jorge Alberto Costa e Silva explica os transtornos mentais ao programa Viver é Melhor
"A família é um elemento indispensável para vencer a patologia do indivíduo. Nós temos que entrar na sociedade pelas mãos da família", explicou.
Karine Salles
14/01/2016 às 16h17 - quinta-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h05
Ao se deparar com uma pessoa que tem a "mania" de comer os próprios cabelos, com outra que gosta de manter tudo extremamente limpo e organizado, ou com outra ainda que tem variação brusca de humor de uma hora para outra, geralmente o senso comum nomeia tais pessoas de "loucas". Mas esses são apenas alguns exemplos de sintomas do que é cientificamente chamado de transtornos mentais, os quais afetam, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 milhões de pessoas no mundo.

Para tratar desse assunto, que no Brasil é a terceira causa de longos afastamentos do trabalho, a equipe de reportagem do programa Viver é Melhor foi até o bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, para conversar com o psiquiatra dr. Jorge Alberto Costa e Silva, dono de um extenso currículo profissional, que não abre mão de atender seus pacientes em sua clínica, pois sua maior realização é estar perto do paciente.
Com mais de 50 anos de experiência, ele afirmou que os transtornos mentais "não são concernentes a determinados aspectos da existência do ser humano, como idade, por exemplo, pois existem doenças que são de crianças e outras que são de pessoas idosas. Ou seja, eles podem atingir, do nascimento à morte, qualquer ser humano".
"Quanto mais cooperativa for a família, melhor! Ela é um elemento indispensável para vencer a patologia do indivíduo."

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Os transtornos mentais prejudicam o desempenho da pessoa na família, na sociedade, na vida pessoal, no trabalho, nos estudos, na compreensão de si e dos outros. Segundo o dr. Jorge Alberto, o problema dessa situação é que o preconceito pode dificultar a busca de ajuda por parte da pessoa que sofre, além de afastar as pessoas que podem auxiliar. "Apesar de todo o esclarecimento que a população tem hoje em dia por meio da mídia, da internet, da divulgação, as pessoas têm vergonha de se intitularem sofredoras de algum transtorno mental", explicou.
Não é raro que o sofrimento emocional torne-se físico também. Só então a maioria das pessoas reconhece ser a hora de procurar ajuda. De acordo com o psiquiatra, um exemplo disso é que, nos Estados Unidos, "cerca de 70% dos deprimidos não procuram serviços médicos ainda porque não identificam a depressão por doença, pois atribuem a outros fatores, como cansaço, fadiga, problemas de vida".
Família
Quando um parente é diagnosticado com algum tipo de transtorno mental, as pessoas mais próximas podem se indagar sobre o que fazer. Como permanecer forte e, além disso, ajudá-lo, de modo a não deixar que ele desanime diante desse desafio? Costa e Silva reforça que a família é essencial, como em qualquer outra patologia, mas, nesse caso, muito mais. "As pessoas que têm um núcleo familiar forte vivem mais do que as que não têm. A família é fundamental, porque quem sofre de transtorno mental está marginalizado, excluído da sociedade, então, ele está só. Quanto mais cooperativa for a família, melhor! Ela é um elemento indispensável para vencer a patologia do indivíduo. Nós temos que entrar na sociedade pelas mãos da família", salientou.
Vale lembrar que incentivar, estimular, orientar, supervisionar e acompanhar pode ser muito mais produtivo. Assim, conhecer o transtorno, os tratamentos e suas consequências físicas e emocionais pode ajudar muito a família na hora de dar o suporte.
Religiosidade
Ao longo da História, são diversos os relatos de que a crença em um Poder Superior pode atenuar a dor ou até mesmo curar doenças, nos fenômenos muitas vezes considerados milagres. Nos últimos anos, vários cientistas e pesquisadores têm se debruçado sobre o assunto, para entender melhor como atuam a Fé e a Espiritualidade na Medicina. Esse fato também foi destacado na entrevista pelo dr. Jorge. "Cada vez mais, a psiquiatria dá importância à religião como um fator de saúde em geral e mental. (...) Religião significa religar, se religar com Deus, com o cosmo, e com aquilo que está além da gente. Por isso, crença não precisa ser uma religião, mas se você me perguntar qual é a minha crença eu vou dizer que creio na espiritualidade. Uma doença da mente é uma doença do espírito também, seja lá qual for a maneira que você define espírito".
+ Confira a entrevista na íntegra em breve no programa Viver é Melhor, da Boa Vontade TV.