Hipercolesterolemia: doença silenciosa que mata mais que o colesterol

A doença por si só não provoca sintomas, mas ao longo do tempo ela contribui para infartos precoces

Karine Salles

12/02/2015 às 18h55 - quinta-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h04

Pouco conhecida, a hipercolesterolemia familiar atinge cerca de 400 mil pessoas só no Brasil. Segundo especialistas, se não for descoberta e tratada precocemente, pode provocar infartos em pessoas ainda jovens. A doença causa uma elevação significativa de colesterol determinada por alterações genéticas, ou seja, transmitida hereditariamente, e não provocada por causa da alimentação. A detecção é simples: começa um exame de sangue que indique os índices do colesterol.

A cardiologista Maria Cristina Izar, especialista em Lípides, explicou ao Portal Boa Vontade que “o individuo que possui essa doença está exposto ao longo da vida a esses níveis elevados de colesterol que não são removidos da circulação”. O risco ocorre quando essas placas são depositadas nas paredes das artérias, criando um quadro, segundo ela, de “arterosclerose, que pode levar a um infarto mais precoce do que em indivíduos que não teriam essa condição”.

Foi o que ocorreu com o André Luiz Batista Pereira, 40. Sem nenhum sinal aparente ele foi surpreendido por um infarto aos 28 anos, em 2003. “Meses depois eu descobri que tinha hipercolesterolemia. Após o diagnóstico, foi feito um rastreamento genético e foi detectado também nas minhas irmãs. E descobri que a partir dos meus 20 anos de idade eu já tinha um colesterol muito alto, mas a informação que eu tinha é que eu era uma pessoa muito sedentária e precisava fazer exercícios físicos e emagrecer. Não tinha nenhum sintoma”.

Uma grande parte das pessoas que tem a doença não sabe. E muitos que tem acreditam que estão apenas com a taxa de colesterol elevado. Isso porque os portadores da hipercolesterolemia familiar têm valores de “colesterol total acima de 310 mg/dL (adultos) ou 230 mg/dL (crianças). E o LDL a partir de 190 mg/dL”, alertou a cardiologista. Os valores de referência, considerados bons, são 100 mg/dL para o LDL e 60 mg/dL para o HDL em adultos. Vale lembrar que cada organismo é um infinito particular, e que um médico deve ser consultado para avaliar com precisão o resultado dos exames. Ela alerta ainda que essa elevação deve servir de suspeita para que os profissionais peçam exames mais detalhados, já que assim como o colesterol, a hipercolesterolemia também não tem sintomas.

De acordo com a cardiologista, apesar de ser uma doença silenciosa, que não exibe sintomas muito visíveis, há alguns sinais físicos que podem indicar a suspeita. São eles o “depósito de colesterol nos tecidos, o que chamamos de xantomas nos tendões; os xantelasmas, que são depósitos de colesterol nas pálpebras; ou o arco corneal, que é um alo esbranquiçado que indivíduos idosos podem apresentar, mas que os jovens também”. São aquelas placas amareladas de gordura que surgem na pele, em especial na região dos olhos e das articulações, e também quando a parte exterior da iris vai ficando esbranquiçada. Além disso, tendões inchados nos calcanhares e nas mãos também podem ser indícios da doença.

É muito importante que se faça o exame genético para a obtenção do diagnóstico. A dra. Maria Cristina ponderou que "esses testes não são disponíveis em todos os laboratórios no nosso país. São poucos os Centros que realizam e que servem para confirmar e direcionar para o diagnóstico".

Tratamento

Bruna Romera
Hábito saudável, o exercício físico é uma das práticas indicadas para ajudar a aumentar o colesterol "bom".

Os portadores da hipercolesterolemia são tratados por especialistas com medidas terapêuticas de acordo com os níveis dos lípidos e o histórico familiar, com o objetivo de prevenir as doenças cardiovasculares prematuras. 

Se a doença for confirmada, o acompanhamento médico deve ser iniciado para redução das taxas de colesterol, com a ajuda de medicamentos, dieta e exercício físico, que é a forma de elevar os níveis do colesterol bom, ajudando o coração. A Organização Mundial de Saúde (OMS) e as sociedades médicas recomendam ingestão diária de gordura inferior a 300mg para a população em geral e menor que 200mg para pessoas com histórico de doenças cardíacas.

Lembre-se de que todos os alimentos de origem animal têm gordura. Portanto, dê preferência a alimentos de origem vegetal: frutas, verduras, legumes e grãos, prefira os cortes magros e os produtos lácteos desnatados. E tire do cardápio os alimentos que contenham gordura trans, os fast-food e os produtos industrializados. 

O Portal Boa Vontade reforça que, independentemente de ter histórico de parentes com colesterol elevado e com doenças cardiovasculares na família, toda mundo tem que ter uma alimentação saudável e balanceada desde sempre.

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