Dr. Felipe Naveca alerta sobre a nova variante do SARS-CoV-2 e os casos de reinfecção do novo coronavírus

Da redação

26/01/2021 às 13h52 - terça-feira | Atualizado em 01/02/2021 às 09h18

O Ministério da Saúde confirmou no mês de janeiro uma reinfecção pela nova variante do coronavírus no Brasil. O caso foi notificado pelo Estado do Amazonas.

Ainda segundo o Ministério da Saúde, foram confirmados no país outros três casos de reinfecção entre as linhagens do coronavírus que já circulavam no Brasil. Dois ocorreram no Rio Grande do Sul e um em São Paulo.

A variante do Amazonas tem uma série de mutações que ainda não tinham sido encontradas. Para confirmar esses casos, muitos especialistas e pesquisadores se debruçam dia após dia para estudar as mutações do vírus e investigar a nova variante do novo coronavírus.

No programa Viver é Melhor!, da Super Rede Boa Vontade de Rádio, foi veiculada a entrevista com o Dr. Felipe Naveca, virologista e pesquisador do Instituto Leônidas e Maria Deane - Fiocruz Amazônia, que conversou um pouco sobre esse caso de reinfecção no Estado do Amazonas e explicou melhor as mutações do vírus. Confira!

Super RBV – Dr. Felipe um prazer recebê-lo aqui na Super Rede Boa Vontade de Rádio, no programa Viver é Melhor!. A gente já inicia perguntando, como foi feito o estudo de identificação dessa nova variante do novo coronavírus?

Dr. Felipe Naveca – Nós temos conduzido na Fiocruz, em parceria com a FVS/Amazonas (Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas), desde março de 2020, a caracterização genética das cepas do novo coronavírus circulantes no Amazonas. Então, nós recebemos as amostras, nós identificamos as amostras positivas na PCR, fazemos um tratamento que purifica o material genético do vírus, ele passa por uma série de processamentos [para que seja] colocado no sequenciador.

O sequenciador lê cada base do material genético e com a ajuda de programas de computação nós o reconstruímos. Uma vez a sequência do genoma completa sendo montada, nós revisamos, porque nós mantemos todas elas em alta qualidade, e depois nós comparamos com as outras amostras ao redor do mundo.

A variante que foi encontrada pelos pesquisadores japoneses, a partir de pessoas que estiveram no Estado do Amazonas, tem uma série de mutações que ainda não tinham sido encontradas, algumas [destas] envolvem mutações na Proteína Spike, que é a proteína que faz a interação inicial com a célula humana. Então, isso chama bastante a atenção, ele [o coronavírus] é um vírus que acumulou muitas mutações em pouco tempo.

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Super RBV – O senhor considera uma evolução dentro do esperado do SARS-COV-2?

Dr. Felipe Naveca – A evolução nos vírus é uma coisa já esperada, o SARS-COV-2 até evolui mais lento do que outros vírus RNA, porque ele tem uma propriedade de fazer um certo controle disso. (...) Essa variante descoberta no Japão chama muito atenção, assim como a variante inglesa e a variante africana, porque elas acumularam muitas mutações em pouco tempo, acima do que a gente estava vendo até o momento.

Super RBV – É possível afirmar que essas mutações do novo coronavírus são responsáveis pelo aumento dos casos da Covid-19 na região manauara?

Dr. Felipe Naveca – É, pelo o que nós temos de dados, essas mutações apareceram entre novembro e final de dezembro do ano passado, de 2020, a gente ainda não tem certeza de quando elas surgiram exatamente, mas nós estamos conduzindo estudos para isso, e eu não considero que elas sejam as únicas responsáveis.

Primeiro que a gente não tem certeza se elas estão circulando no Amazonas em grande quantidade, a gente ainda precisa aumentar o número de amostras analisadas para ter certeza disso e aí sim ter uma evidência mais forte. Mas eu sempre considero que essa situação é multifatorial. A gente tem o início da temporada de vírus respiratórios no Amazonas que historicamente acontece em meados de novembro em diante, no que a gente chama de inverno amazônico, onde outros vírus respiratórios, como a influenza, também aumentam. Então, [nós temos] essa situação sazonal à variante e também a diminuição do distanciamento social.

Super RBV – Quais os passos seguintes do estudo liderado pelo senhor?

Dr. Felipe Naveca – É continuar esse estudo, aprofundando agora o sequenciamento de dezembro e janeiro para [identificarmos] se essa variante também já estava em grande quantidade no Estado do Amazonas. A gente [terá] que aumentar bastante o sequenciamento desse período para identificar com certeza se essa variante está presente e [com] qual frequência está presente, e continuar identificando outras que possivelmente possam surgir.  

Super RBV – Essa nova variante do novo coronavírus, já descoberta, pode ser considerada mais contagiosa? O que podemos afirmar sobre ela?

Dr. Felipe Naveca – O que nós sabemos sobre a nova variante do coronavírus é que ela foi primeiro reportada no Japão, e logo no dia seguinte ela foi também detectada no Amazonas, inclusive em um caso de reinfecção que foi confirmado causado por essa variante. A gente tem algumas suspeitas dela ser mais transmissível, mas não é uma certeza. (...) Não existe nenhum dado que comprove até o momento que ela causa doenças mais graves, e como só foi um caso de reinfecção até o momento comprovado, também não dá para dizer que ela causaria mais reinfecções.

Super RBV – No Amazonas, assim como em outros Estados pelo Brasil, já foi confirmado casos de reinfecções pelo novo coronavírus, como o senhor mesmo citou. Como se chegou a essa confirmação no Estado?

Dr. Felipe Naveca – A confirmação do caso de reinfecção se deu quando concluímos o sequenciamento genético da amostra e comparamos o sequenciamento da primeira infecção com o da segunda que mostrou que se tratavam de linhagens diferentes, esse era o último critério que estava faltando para cumprir e confirmar que se tratava de um caso de reinfecção. (...) A reinfecção se deu pela nova variante descrita pelos pesquisadores japoneses, mas que tem origem no Estado do Amazonas.

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Super RBV – Diante essas informações, o que o senhor julga importante ser destacado nesse momento?

Dr. Felipe Naveca – Um recado importante é dizer que o vírus mutante ou o vírus original não atravessam a máscara, não resistem à lavagem das mãos com água e sabão ou [ao uso do] álcool em gel. A transmissão também é evitada com o distanciamento social, então nesse momento é um apelo que a gente precisa fazer à população, (...) a gente precisa frear a evolução desse vírus e a gente só faz isso diminuindo a transmissão, diminuindo o contato pessoa com pessoa, que é o que transmite o vírus, seja ele original ou seja ele mutante.  

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