“Desertos de notícias”

No Brasil, cerca de 70 milhões de indivíduos — o que representa 35% da população nacional — vivem em lugares em que não há um jornal ou um site de notícias local.

Carlos Arthur Pitombeira

25/04/2018 às 16h45 - quarta-feira | Atualizado em 27/04/2018 às 10h03

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No Brasil, cerca de 70 milhões de indivíduos — o que representa 35% da população nacional — vivem em lugares em que não há um jornal ou um site de notícias local. Essas áreas, chamadas de “desertos de notícias”, são mais amplas no Norte e no Nordeste do país.

Felipe Freitas
Carlos Arthur Pitombeira, jornalista e colunista da revista BOA VONTADE.

Levantamento feito e divulgado recentemente pelo Instituto para o Desenvolvimento de Jornalismo (Projor), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e pelo Observatório da Imprensa, em parceria com a agência Volt Data Lab, mapeou 5.354 veículos de comunicação em 1.125 cidades, os quais alcançam regiões onde habitam, aproximadamente, 130 milhões de pessoas. Desse total de municípios, 426 contam apenas com um jornal impresso ou on-line.

Ainda de acordo com o estudo, a maior parte da mídia está concentrada no eixo São Paulo/SP–Rio de Janeiro/RJ–Brasília/DF, juntas as três cidades somam mais de 20% dos meios de comunicação do Brasil, embora correspondam a 10% da população nacional.

A pesquisa não leva em consideração a presença, na área pesquisada, de emissoras comerciais de rádio e de TV nem das rádios comunitárias. Os jornais alternativos e comunitários também não foram incluídos nessa sondagem. A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), entretanto, revela que, em todo o país, estão ativas 9.776 rádios — entre comunitárias, educativas e comerciais — e 542 emissoras de televisão.

MÍDIA ALTERNATIVA E COMUNITÁRIA

Principalmente nas áreas do Norte e do Nordeste denominadas “desertos de notícias” é que a mídia comunitária e alternativa precisa ser incentivada, de modo que garanta o exercício da cidadania aos moradores das comunidades mais pobres. Ao serem informados, eles poderiam trabalhar melhor a comunicação das próprias coletividades.

À medida que os referidos veículos de comunicação comunitários e alternativos se forem organizando em cada região, a informação ficará mais democratizada. Para impulsionar essa mídia, porém, é preciso o apoio dos Ministérios do Trabalho e da Educação, além do da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), na criação de cursos profissionalizantes, a fim de que as pessoas dessas localidades possam praticar seu jornalismo.

A grade curricular poderia incluir, entre outras matérias, as seguintes: Língua Portuguesa (redação e estilo), Geografia Política e Econômica, Noções de Produção Gráfica, Estudo da Lei no 9.612/1998, História do Brasil Contemporâneo, Realidades Regionais e Culturais do Brasil, Introdução à Sociologia e Filosofia, Noções de Publicidade e Marketing e Estudo do Artigo 5º da Constituição Federal.

A verba para esses cursos poderia provir do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), e as aulas poderiam ser ministradas por jornalistas e radialistas aposentados em cada região, que repassariam aos interessados todos os conhecimentos acumulados. Estaria, assim, sendo dado o primeiro e importante passo para que, aos poucos, a mídia comunitária e alternativa ocupe maior espaço e, assim, faça com que diminuam os “desertos de notícias” ainda existentes.

INCENTIVO A TV PÚBLICA

Estimular a criação de canais de TV pública pelo interior do país também é dever de todos nós, a fim de que eles forneçam instrumentos capazes de melhorar o nível de conhecimento do cidadão, possibilitando a este fazer melhores escolhas diante do que a televisão comercial lhe oferece. É bom não esquecer que esse veículo ocupa hoje para as crianças, desde a mais tenra idade — sem que os pais possam evitar —, o lugar do professor, transmitindo a cada uma delas os primeiros ensinamentos, valores e limites.

Entre os malefícios causados aos pequenos telespectadores pela TV comercial está o de ajudar a amadurecê-los precocemente, por conta da banalização da violência, por exemplo. Números fornecidos pela Justthink, organização não governamental norte-americana que cuida da educação de jovens, indicam que, até os 12 anos, uma criança vai assistir, em média, a oito mil assassinatos na televisão; que 75% das cenas de violência mostradas na programação televisiva não têm como consequência a punição pelo ato violento; e que, a cada hora de TV, os americanos presenciam vinte e sete atos sexuais.

Pesquisa realizada em 23 países pelo professor Jo Grobel, da Universidade de Utucht, na Holanda, atestou que 44% das crianças não conseguem diferenciar a realidade do que veem na telinha (atualmente, multiplicada nos celulares, tablets e afins). Então, está mais do que na hora de oferecer melhores opções para as novas gerações.