Autismo: diagnóstico precoce avançou, mas tratamento precisa ser ampliado

Agência Brasil

02/04/2014 às 14h02 - quarta-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h00

A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que o número de autistas chegue a 70 milhões em todo o mundo.

Aos 19 anos, Caio* faz cursinho pré-vestibular. Ele quer estudar e ser escritor. A mãe do jovem, Inês de Souza Dias, elogia as habilidades do filho, mas não esconde a existência dos traços deixados pela Síndrome de Asperger, tipo de autismo diagnosticado quando ele ainda era pequeno. Dificuldade de entendimento e de aceitação das regras sociais e falta de interesse por assuntos do dia a dia são alguns deles.

“Ele tem interesses muito focados. Gosta de jogos e só quer falar sobre isso. Apesar de ser muito inteligente, não se interessa por assuntos cotidianos. Isso dificulta, por exemplo, o trabalho na escola. É uma batalha para conseguir que ele aprenda outras coisas”, conta a sra. Inês. “Ele tem também um déficit de atenção bem acentuado. Para o Caio, é difícil permanecer na mesma tarefa por muito tempo”, completou.

Ainda de acordo com a mãe de Caio, características dele consideradas estranhas por muitos, como andar para lá e para cá, bem como conversar consigo mesmo, ajudaram a definir o futuro dele. “Numa certa idade, ele andava de um lado para o outro e falava alto. Parecia que estava contando histórias. Perguntei o que ele estava fazendo e ele disse que brincava com a imaginação e contava uma história para ele mesmo. Perguntei se gostaria de transformá-la em um livro. E foi o que fizemos.”

Caio frequentou uma escola regular, com crianças sem o transtorno, e recebe acompanhamento especial até hoje. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que o número de autistas chegue a 70 milhões em todo o mundo. A Associação de Amigos do Autista (AMA) destaca que, dos cerca de 1 milhão de brasileiros diagnosticados com autismo, apenas 100 mil recebam algum tipo de atendimento. Fator a ser observado nesta quarta-feira, 2, Dia Mundial de Conscientização do Autismo.

Mãe de um autista de 34 anos, Ana Maria, superintendente e cofundadora da AMA, lembra que, na época em que o filho foi diagnosticado não havia tratamento disponível. Segundo ela, o processo é complicado, uma vez que envolve diversos profissionais de áreas distintas. “Estamos falando do espectro do autismo. Temos desde casos de extrema gravidade até casos de pessoas com inteligência normal, mas que também precisam de alguém que entenda o que está fazendo. Os casos mais leves não são tão simples.”

Para a presidenta da Associação Brasileira de Autismo (ABRA), Marisa Furia Silva, o transtorno ainda é um assunto pouco abordado, sobretudo no Brasil. Mãe de um rapaz de 36 anos com a Síndrome de Asperger, ela lembra que, depois do diagnóstico, houve pouca informação sobre como lidar com o filho. “Não tínhamos internet nem literatura sobre o assunto. Era uma época difícil. Não se sabia o que fazer.” Ela avalia que o avanço no diagnóstico precoce não basta. É preciso ampliar a rede de apoio e de atendimento à família.

“A gente tem que pensar que é para a vida toda. Temos muitos adultos comprometidos hoje e a esperança é que, no futuro, isso não aconteça. O prognóstico de uma criança é muito melhor. Estamos em um momento em que já se tem documentos e parâmetros para o diagnóstico. Agora, temos que ter tratamento”, destacou a presidenta da ABRA.
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* O nome foi alterado para preservar a identidade do entrevistado