Amor de uma vida

O ator Diogo Vilela celebra 49 anos de carreira declarando sua paixão pelo teatro

Leila Marco e Alan Lincoln

03/05/2018 às 09h36 - quinta-feira | Atualizado em 03/05/2018 às 17h35

Ana Branco/Agência O Globo

Viver intensamente os desafios da profissão e dar o melhor de si a ela tem sido o foco do ator, comediante e dublador Diogo Vilela, cujo nome de batismo é José Carlos Monteiro de Barros. O amor pela atuação surgiu bem cedo em sua vida. “Eu sempre tive certeza de que ia ser o que sou hoje, desde que me entendo por gente”, recordou o artista, que, aos 12 anos de idade, estreou na televisão, ao participar da novela A Ponte dos Suspiros (1969), da TV Globo. A partir dessa época, nunca mais parou, arrebatando a simpatia do público com personagens marcantes em novelas, em séries e programas humorísticos, no teatro e no cinema.

Em março, Vilela recebeu a equipe da Super Rede Boa Vontade de Comunicação (rádio, TV, internet e publicações) para falar da longeva carreira e da peça Cauby! Cauby! — Uma lembrança, remontagem na qual homenageia o saudoso cantor Cauby Peixoto (1931-2016). O espetáculo — que ficou em cartaz no Rio de Janeiro/RJ até 1o de abril e que em breve estará nos palcos da capital paulista — conta a história desse ícone brasileiro, desde a infância humilde, em Niterói/RJ, até a consagração como um dos astros da música popular de nosso país. Durante o bate-papo, o ator deixou claros seus planos para o futuro. “O teatro é minha origem, é minha natureza e será, daqui para a frente, minha opção realmente de trabalho”, revelou.

Ao fim da entrevista, o apresentador Alan Lincoln entregou a Vilela carinhosa mensagem dos alunos do Centro Educacional da Legião da Boa Vontade, na capital fluminense, parabenizando-o pelos 49 anos de carreira — completados este ano — e desejando a ele sucesso com o musical. O artista retribuiu o gesto, transmitindo aos estudantes o seguinte recado: “Eu queria agradecer às crianças da LBV que me mandaram esta carta, este presente. Estou muito emocionado. Contem comigo. Espero que vocês possam assistir-me por muitos anos. Muito obrigado! Obrigado à LBV e a todos vocês!”
A seguir, os principais trechos da agradável conversa.

BOA VONTADE — De que forma reagiram seus familiares à sua precocidade profissional?
Diogo Vilela — Eles ficaram assustados, porque os pais amam a gente, querem ver a gente sempre bem, e eu era uma pessoa muito focada, um garoto que almejava coisas [que pareciam] impossíveis. Eu queria ser dramaturgo. Isso era uma coisa estranha para eles. Tudo isso começou porque passei a frequentar ópera muito cedo, com a minha tia. Ela me levava, e aquele mundo, o cenário, as luzes, aquilo me fascinou.

BV — A busca por esse sonho levou-o a sair bem jovem de casa?
Diogo Vilela — Sim. Não aconselho ninguém a sair de casa para viver de teatro com 17 anos. Foi muito duro, mas, quando a gente é jovem e tem um sonho e a certeza de que ele vai rolar, fica esperando acontecer, e eu tive paciência, mesmo [enfrentando] todos os percalços que a gente passa quando não está morando com a família, principalmente [os que se relacionam com] a questão afetiva.

BV — O que o levou a escolher um nome artístico?
Diogo Vilela — Fui batizado [de Diogo Vilela] porque, ao fazer um teste na TV Globo — onde comecei a trabalhar com 12 anos —, a produtora falou que o meu nome de batismo era de dentista, de engenheiro, mas não seria nunca de ator. A minha mãe concordou, e, aí, a minha tia, que fazia numerologia, resolveu escolher vários nomes e sobrenomes. A minha própria família, os meus irmãos — eu tenho cinco irmãos — me batizaram com o nome.

BV — Como surgiu o canto em sua carreira?
Diogo Vilela — Sou um soldado da minha profissão e vi que poderia trabalhar a minha voz. Eu gosto muito do acabamento; sou perfeccionista; gosto que a coisa seja ótima. Então, trabalhei a minha voz primeiro na fonoau­diologia, porque acho que as pessoas têm que ouvir tudo que você fala no teatro, mesmo que não tenha microfone, porque sou da época que não havia microfone. A gente falava alto e articulado, para todo mundo ouvir. Isso me deu muito respaldo. Depois, eu comecei a estudar canto sem parar. Aí, fui amadurecendo a técnica. Hoje, posso cantar qualquer coisa. Fiz vários musicais americanos no passado, desde os anos [da década] de 1990, sempre aperfeiçoando o canto. Chega uma hora em que você pega [o jeito] e engata.

BV — Você é um profissional múltiplo, com diversos talentos. De que maneira se prepara para viver seus personagens?
Diogo Vilela — Vou citar o exemplo do Cauby. Eu vi uma entrevista dele e achei que ele poderia ser um personagem. Depois, comprei os CDs, estudei na minha aula de canto; vi que poderia trabalhar no timbre vocal dele. Tudo isso foi uma conquista aos poucos. Demorei dois anos só estudando as músicas do repertório desta peça. É uma elaboração; nada veio de repente. Acho que as pessoas hoje querem o resultado logo. O meu veio com o tempo, com a idade. Fico muito feliz com isso, porque é coerente com a minha trajetória; é uma coisa que foi amadurecendo. (...) Para mim, é uma recompensa muito grande quando eu vejo o público, as pessoas da época do Cauby que vêm assistir [ao espetáculo], que se lembram das músicas, ver a felicidade em que elas ficam.

BV — Isso o estimula a continuar, a se reinventar?
Diogo Vilela — Sim. Eu sou vocacionado. Só vou parar quando Deus me chamar.

BV — Não é a primeira vez que encena esta peça. O que o fez revisitar o texto?
Diogo Vilela — Eu ganhei o Prêmio Shell com ele. Foi ótimo! Lotamos [durante] um ano [o teatro]. É uma homenagem ao maior cantor do Brasil. Todo mundo dizia: “Por que [a peça sobre] Cauby não volta?” Antes de ele falecer, fui a um show dele e perguntei o que achava. Ele falou: “Volta! Faz! Vai ser muito legal”. Nós resolvemos [retomar o espetáculo], e ele faleceu. Então, virou uma lembrança, e estou muito feliz de fazer essa homenagem, porque o Cauby merece, é um grande cantor. (...) Ele confiou, sempre foi carinhoso; enfim, adorou a homenagem, e foi bom que a recebeu em vida.

BV — Você é uma pessoa feliz, realizada com tudo que conquistou?
Diogo Vilela — Muito! Eu não posso reclamar de nada! Acho que sou um ator que tem uma carreira incrível. Tenho reconhecimento de todo o público. Só tenho a celebrar, inclusive esses 49 anos, que estão me acontecendo com este júbilo, com toda esta alegria, que a gente está passando aqui [na peça sobre Cauby Peixoto].