Exemplos na História da união entre Religião e Ciência

Carlos Eduardo Fernandes

18/10/2019 às 12h05 - sexta-feira | Atualizado em 21/10/2019 às 17h16

Existe possibilidade de intercâmbio de conhecimento entre Ciência e Religião? Para o Prof. dr. Gildo Magalhães, professor titular do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP) e colaborador do Instituto Universitário de Lisboa e da Universidade de Lisboa (Centro de Filosofia da Ciência), a resposta é sim.

Vivian R. Ferreira

Inaugurando o ciclo de palestras do Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV, prof. dr. Gildo Magalhães, aborda o tema “Intercâmbio entre Religião e Ciência na História”.

Esse foi um dos tópicos abordados pelo professor durante a sua palestra com o tema “Intercâmbio Religião e Ciência na História”, no Congresso temático do Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV, nesta sexta-feira, dia 18, no Paramento Mundial da Fraternidade Ecumênica.

Questionando postulados de acadêmicos

Ele começou a palestra afirmando que “há muita mitologia em torno da relação entre Ciência e Religião” e, em seguida, fez uma série de perguntas que instigam as pessoas a refletirem com mais cuidado acerca de linhas de pensamento muitas vezes tidas como inquestionáveis, a exemplo:

— “A ascenção do Cristianismo renegou a Ciência antiga?”
— “A Igreja cristã medieval estancou o desenvolvimento da Ciência?”
— “A cultura islâmica medieval era inimiga da Ciência?”
— “Copérnico removeu o homem do centro do Universo?”
— “Darwin acabou com a Teologia natural?”

Para todas essas e outras perguntas similares, ele é categórico ao dizer que não. Nesse sentido, ele destaca que muitas vezes no centro deste debate estão algumas instituições religiosas, pessoas com suas crenças e cientistas radicais que não aceitam outra perícia do conhecimento, senão a que eles conhecem por científica.

Pontes entre as áreas do saber

shutterstock

Em seguida, afirmou que prefere caminhar através das pontes entre essas duas áreas do conhecimento. E para exemplificar suas teses, oriundas de pesquisas e estudos, ele trouxe diversos exemplos na História.

Começou trazendo o exemplo dos mitos na produção de conhecimentos para os povos antigos: “Antes de a filosofia se estabelecer como uma forma de pesquisar o mundo, os mitos procuravam dar uma resposta racional a uma questão fundamental: ‘Por que existe algo? Por que existe o mundo?'”

Em suas explanações, trouxe o exemplo da Antiguidade Grega, na qual se preconizava que o “caos” não é sinônimo de “aleatório”, mas cada deus ou titã, dentro dessa ideia de organização e reorganizações constantes do “caos” eram capazes de criar e dar vida a tudo que existe no mundo e no universo.

E este “universo de contrastes” é a justificativa da existência de elementos antagônicos na natureza e na alma humana, como seco/úmido ou amor/destruição.

O Todo e o Uno

Trazendo à baila das discussões conceitos da filosofia do pré-socrático Parmênides que se propôs a investigar como é possível coexistir a ideia do Múltiplo e o Uno no universo, sendo o Uno sinônimo do Todo, do qual conhecemos partes, que se manifestam de forma singulares.

Isto quer dizer que cada cultura ou pessoa busca conhecer o Todo, porém, a ninguém é possível ter o conhecimento total disso. Por isso, existem várias visões sobre um mesmo assunto, por exemplo.

Considerações sobre o Ecumenismo

Após ter discorrido sobre muitas dessas formas de investigações cientifico-religiosas, que partiram de reflexões espirituais e religiosas, ele teceu considerações sobre o Ecumenismo, abordando-o em consonância com as teses vanguardeiras que as Instituições da Boa Vontade vêm defendendo desde a década de 1940, primeiramente com Alziro Zarur (1914-1969) e posteriormente com Paiva Netto, ao afirmar que o significado de Ecumenismo se refere “a toda terra habitada” e possui relações com a palavra “ecologia”, área do saber que promove o conhecimento e conscientização com o cuidado do planeta Terra, preservando a diversidade existente.

+ Conheça mais sobre a tese do Ecumenismo proposta pelas IBVs.

O Prof. dr. Gildo Magalhães também é diretor do Centro Interunidades de História da Ciência e do Grupo de Pesquisa Khronos no Instituto de Estudos Avançados, ambos da USP.

Sobre o Fórum

Fernando Franco

Paiva Netto apresenta mensagem aos congressistas do Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV, criado por ele, em 2000, para ser um espaço permanente e livre de qualquer preconceito para debate e intercâmbio entre o conhecimento científico e o saber religioso.

Criado em 2000 pelo diretor-presidente da Legião da Boa Vontade, o jornalista e escritor José de Paiva Netto, o Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBV, visa estimular a implementação de propostas no campo pragmático das realizações da sociedade civil, trazendo as contribuições das diversas áreas do saber espiritual e humano para a construção de uma sociedade mais solidária, altruística e ecumênica.