Bullying tem como consequência até suicídio; saiba identificar

Em nossa Campanha Permanente de Valorização à Vida, continuamos a debater sobre este assunto tão pertinente.

Da redação

27/03/2023 às 10h55 - segunda-feira | Atualizado em 28/07/2023 às 19h06

“Brincadeiras” que desmerecem as pessoas, apelidos desagradáveis que só magoam quem por eles é chamado, agressões de ordem física e até psicológica. Nos últimos anos, o termo "bullying" se tornou cada vez mais popular. E quanto mais esse comportamento persistir, mais pode causar sérios prejuízos nas vítimas, em diferentes instâncias.

Por isso, em nossa Campanha Permanente de Valorização à Vida, pedimos espaço mais uma vez para discutir esse assunto tão pertinente. Bullying não é e nunca será legal, gente! E é preciso que cada um de nós esteja atento às consequências psicológicas, físicas e até espirituais desse violento ato.

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Atenção às fases iniciais da vida é essencial, em que o caráter está sendo formado e essas “brincadeiras” são mais frequentes e provocam consequências muito sérias.

O que é Bullying?

O termo vêm do inglês, da palavra bully, como substantivo, quer dizer 'valentão, brigão', como verbo, 'amedrontar, intimidar'. De acordo com o psiquiatra Gustavo Teixeira, especialista em comportamento infantil, bullying é o “ato de agredir física, verbal ou moralmente. Ele ocorre principalmente numa relação desigual de poder entre um ou mais alunos contra um terceiro, e normalmente está relacionado ao ambiente escolar”.

Bullying como gatilho para ansiedade, depressão e suicídio

Se você acha que isso é algo distante, isolado, que quase não ocorre, infelizmente temos dados para provar o contrário. De acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), um em cada dez estudantes no Brasil é vítima frequente de bullying.

Na faixa dos 15 anos, dados do relatório mostram que 17,5% dos alunos brasileiros sofreram algum tipo de bullying “pelo menos algumas vezes no mês”. Agressões que também ocorrem no ambiente digital, o chamado "cyberbullying". Já escrevemos sobre o assunto e recomendamos a leitura.

Um outro dado alarmante é que 1 em cada 5 crianças pensa em suicídio depois de sofrerem agressão no bullying.

Cyberbullying: a violência virtual que machuca mais que uma surra

Pela baixa na autoestima, as vítimas dessa agressão podem desenvolver transtornos. Outra pesquisa, publicada pelo Canadian Medical Association Journal (e que você pode ler na íntegra, em inglês, clicando aqui), chamou a atenção desta que vos escreve ao relatar que crianças vítimas de bullying correm mais risco de ter comportamento suicida.

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Após 15 anos de pesquisa, acompanhando crianças nascidas entre 1997 e 1998, o estudo mostra como a exposição a essas agressões tem um triste efeito na saúde mental das vítimas. No grupo mais exposto a esse comportamento tóxico, os integrantes tiveram duas vezes mais probabilidade a desenvolver depressão, três vezes mais propensos a relatar ansiedade e 3,5 vezes mais propensos a ter pensamentos suicidas sérios ou tentar o ato em si em comparação com outros grupos.

Ainda que nem todos os casos se relacionem com o bullying, o número de suicídios em jovens no país subiu de forma alarmante. Dados divulgados pela BBC Brasil indicam que, entre 1980 e 2014, a taxa de suicídio entre jovens de 15 a 29 anos aumentou 27,2% no Brasil. O suicídio já é a segunda maior causa de mortes nessa faixa etária, segundo dados na Organização Mundial da Saúde (OMS).

É tão triste notar que, ainda no início da trajetória na Terra, alguém acredite que o melhor é tirar a própria vida pela ação por vezes irresponsável de outras pessoas. Motivados por isso, nós, do Portal Boa Vontade, queremos levar informação para que você possa ajudar nessas situações.

Violência gera violência: contra o bullying, pela cultura de paz

Vencendo as consequências do bullying

A adolescência por si só já é uma fase bastante complicada, que envolve uma série de transformações físicas, emocionais e sociais. Nessa fase de mudanças, é natural que os jovens se sintam inseguros e receosos em perceberem seus lugares no mundo. Por isso,  pais e responsáveis devem construir uma relação de confiança com os adolescentes, contribuindo para a manutenção da autoestima e a saúde mental. Apoio esse que pode ser importante, inclusive, para que os efeitos do bullying sejam superados.

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“Uma criança que está mais sólida na sua relação com seus pais e cuidadores, ela certamente estará mais protegida do que outras esquecidas, negligenciadas.  (...) Essa parceria dos pais ou responsáveis é muito importante para evitar comportamentos autodestrutivos (...) Podemos ter informações importantes do que eles [crianças e os jovens] estão pensando, da visão de mundo, de como eles estão se sentindo na escola, em casa, na vida, como estão suas relações, certamente nós teremos relações muito úteis para que a gente possa acolher ainda melhor nossas crianças”, destaca o dr. Carlos Aragão Neto, psicólogo clínico, especialista em prevenção e pós-venção do suicídio.

É importante destacar ainda que o bullying não afeta somente a vítima. As consequências podem ser sentidas até por quem a pratica. Pense na causa dessa “implicância”. O que leva o ‘agressor’ a agir assim, de forma tão agressiva? Cerca de 70% das crianças e adolescentes envolvidos com bullying nas escolas sofrem algum tipo de castigo corporal em casa, segundo pesquisa da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Esse é assunto de outra matéria que você pode ler aqui.

Atenção ao que é dito e ao silêncio

Criar essa relação de confiança e também se atentar às mudanças de comportamentos podem colaborar e muito para que pais e amigos possam evitar que as consequências causadas pelo bullying cheguem a um ponto extremo.

“O adolescente é aquela pessoa que quer se divertir, quer ter amigos, tem planos de futuro, sonhos, diferentemente de um adolescente que tem uma tendência suicida", afirma psicóloga Valéria  Ribeiro.

Ela conta que um jovem, nesta situação, "acaba se afastando da família e dos amigos, perde interesse por atividades que gostava, passa a ter mudanças no padrão usual de sono, a fazer comentários autodepreciativos, tem uma desesperança com relação a seu futuro, acredita que nada vai dar certo.”

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Ainda em relação ao comportamento, Ribeiro destaca algumas associações comuns: “Ele pode ter disforia, que é uma combinação de tristeza, irritabilidade ou acesso de raiva, e também fala muito sobre morte, além de que passa a ficar mais solitário, não se preocupa tanto com seu bem-estar, passa a ter comportamentos ansiosos ou agitados, se torna mais deprimidos, tem queda no rendimento escolar, essas são algumas coisas que diferenciam um jovem normal de um jovem com tendências suicidas”.

Comportamentos preventivos são muito importantes, como reitera dr. Aragão Neto. “Trabalhar com as nossas crianças para o desenvolvimento de habilidades sociais, emocionais é fundamental. Nós não vamos evitar que uma hora essa criança esteja diante de um perigo, mas isso que vai fazer diferença lá na frente, se ela vai ou não embarcar em uma jornada que pode leva-la a um perigo maior”, disse.

Vida eterna e missão terrestre

Mesmo diante das dificuldades, devemos seguir fortes. Numa situação de desafio, nem mesmo a consciência de que a morte não é um fim absoluto pode ser um argumento para atentar contra a própria vida. Todos nós estamos no Planeta com uma missão, uma agenda espiritual a ser cumprida, mesmo que ela não pareça tão clara aos nossos olhos como esperamos. A oportunidade de estar na existência terrestre deve ser sempre aproveitada.

Escreve o jornalista Paiva Netto em seu artigo Os mortos não morrem: “A morte não interrompe a Vida. Na Terra ou no Céu da Terra, persistimos em trilhar a existência perene. Mas um esclarecimento se faz necessário: essa consciência de Eternidade jamais pode ser vista como justificativa ao suicídio, que é uma ofensa ao Criador e à própria criatura”.