Bullying na escola: veja como agir se seu filho é quem pratica

Especialistas ponderam que os que praticam o bullying são os que mais precisam de ajuda

Karine Salles

14/02/2018 às 08h21 - quarta-feira | Atualizado em 14/02/2018 às 13h42

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A sala de aula é um ambiente importante para nossa formação. Nela, descobrimos mais que matemática e português. Aprendemos a conviver, ainda mais, com o diferente. Alunos e professores de vários estilos, gostos e pensamentos. Cada um se encaixa com quem tem mais afinidade, e vão sendo formados grupos. Tem o dos ‘nerds’, o do ‘fundão’, das meninas... E para muitos, a sala de aula é um ~lugar suuper legal~. Afinal, ali estão os amigos com que passam a maior parte do tempo. Mais que estudar, na escola também rimos, conversamos e nos divertimos muito.

Um problema da sala de aula é que ao mesmo tempo em que ela é capaz de unir, também é capaz de separar, de excluir. Isso por causa do bullying. O nome ganhou visibilidade recentemente, e infelizmente não foi por boas práticas na sua prevenção. Você sabe o que é?  

O termo vêm do inglês, da palavra bully, como substantivo, quer dizer 'valentão, brigão', como verbo, 'amedrontar, intimidar'. De acordo com o psiquiatra Gustavo Teixeira, especialista em comportamento infantil, bullying é o “ato de agredir física, verbal ou moralmente. Ele ocorre principalmente numa relação desigual de poder entre um ou mais alunos contra um terceiro, e normalmente está relacionado ao ambiente escolar”.

Mas é claro que você já pode ter se visto numa situação assim no trabalho, por exemplo, que por ter o cabelo arrepiado, os olhos grandes, ou algo assim que motivou 'zoações’ dos colegas. Essa situação muitas vezes é confundida com o bullying, mas pode ser vista como uma “brincadeira” ou uma “falta de respeito”, de acordo com a doutora em Educação Cléo Fante, especialista no tema.

Segundo ela, o que diferencia o bullying é o fato de ser repetitivo e de causar prejuízo emocional. "Quando as partes estão se divertindo, incluídas na brincadeira, que é aceitável por ambos, não há agressão. Agora quando uma parte se diverte às custas de um que sofre, aí já não é uma brincadeira e sim uma violência”. Ela também reforça que essas ~brincadeiras de mau gosto~ devem ser trabalhadas no ambiente escolar: “de qualquer forma, sendo bullying ou uma violência pontual, tudo deve ser trabalhado pelo educador”.

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Os próprios alunos não conseguem diferenciar os limites entre brincadeiras, agressões verbais e maus tratos violentos. Por isso, a Plan Brasil realizou, em 2009, a pesquisa “Bullying no Ambiente Escolar”, que possibilitou conhecer as situações de maus tratos nas relações entre estudantes dentro da escola, nas cinco regiões do País. Os dados revelaram que, quanto mais frequentes os atos repetitivos de maus tratos contra um determinado aluno, mais longo é o período de duração da manifestação dessa violência.

Cléo Fante afirma que as vítimas não costumam reagir por uma série de fatores, embora possam ter as mesmas condições físicas que o agressor, o diferencial é o emocional fragilizado. “Geralmente os autores de bullying escolhem os que não tem condições de defesa”. Essa escolha, consciente ou não, acaba por fortalecer o agressor, que “têm características peculiares: acreditam na impunidade dos seus atos, se sentem superiores aos outros alunos, dificilmente agem sozinhos – geralmente formam um grupo, ele é o líder e os outros dão suporte”, alerta o psiquiatra. 

Além disso, os agressores são crianças mais habilidosas na comunicação e têm facilidade de mobilizar outras. Eles costumam confrontar pais e professores, são mais falantes e extrovertidos. Entre os agressores não podemos esquecer de mencionar os espectadores, que assistem a tudo e nada fazem, tornando-se cúmplices da situação. Teixeira afirma que os meninos podem ter um comportamento mais agressivo fisicamente. Já as meninas costumam ser mais discretas, algo como ~bater sem mostrar a mão~. Por isso que, segundo ele, é tão comum o cyberbullying ocorrer entre as meninas.

Cléo acrescenta que “o autor é aquele que manipula as relações, que menospreza, que persegue, está sempre metido em confusões. Esse indivíduo dá sinais de dificuldades comportamentais e emocionais”. Além da covardia, o dr. Gustavo Teixeira atribui esse comportamento a fatores ambientais e familiares. “Normalmente eles vivem numa família muitas vezes desestruturadas ou com violência dentro da própria casa e acabam levando para a escola”.

O dito popular já alerta: Violência gera violência. E gera mesmo. “Infelizmente, em muitos casos eles estão reproduzindo o comportamento que veem dentro de casa”. Quando a criança é vítima de agressão em casa, ela pode aprender que o comportamento agressivo é normal. Crianças que vivem em lares sem afeto entre seus moradores e com pouco diálogo, têm maiores chances de desenvolver um comportamento agressivo. Ou ainda, “ser vitimada dentro da escola, uma vez que dentro de casa ela sofre violência e na escola não tem reação”, pontou a doutora em educação Cléo Fante. E continuou: “o adulto serve de modelo para a criança”.   

+ Sobre o assunto, leia o artigo Liderança Nova, no qual o jornalista Paiva Netto explica que, "a criança geralmente apenas devolve aquilo que a sociedade lhe proporciona. Se a sociedade lhe oferecer lixo, em geral ela vai devolver-lhe lixo". 

De acordo com o psiquiatra, a permissividade dos pais também pode gerar crianças desafiadoras, com comportamento agressivo no ambiente escolar. Ele explica que, “às vezes, a família é muito passiva então a criança comanda e manipula os pais e eles acabam perdendo o controle”. Esse comportamento, caso permitido no lar, pode acabar sendo replicado em outros ambientes, como a escola: “Em suas relações sociais ela passará a dominar os colegas, uma vez que domina dentro de casa”, reforçou Cléo. Por isso, a violência em casa também pode favorecer o bullying, tanto no caso dos agressores quanto no caso das vítimas, que são maltratadas pelos pais e que chegam à escola com a autoestima muito prejudicada, o que a torna um alvo fácil em relação aos demais. Mas nem sempre é assim.

Alguns profissionais também atribuem esses comportamentos a dois diagnósticos psicopatológicos. “O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), que se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. E pelo Transtorno Desafiador Opositivo (TDO), muito frequente em crianças que os pais não conseguem dar limites, não se impõe”, pontuou o psiquiatra.

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Quando os pais detectam algumas dessas características e são chamados a comparecer à escola, é importante conversar e revisar as regras de comportamento e os limites dentro de casa, para poder mudar a situação que a criança vive na escola e ajudá-la a reparar seu erro. Não se deve fechar os olhos para o problema. “A família tem que escutar e fazer uma parceria com a escola. Buscar respostas pelo motivo desse comportamento e apoiar essa criança. Pois ela precisa de ajuda. Esse autor de bullying vai receber punição pelos seus atos. Entretanto, ele tem que receber apoio e respeito”.

Como toda situação indesejável, o bullying pode ser evitado dentro de casa e também da escola, com a capacitação de professores para a detecção precoce desse tipo de situação. O maior desafio é conscientizar todo mundo a incentivar nas crianças a criação de valores éticos, como o respeito às diferenças e a empatia. Se colocar no lugar do outro é primordial para saber o que não fazer a ele. É importante também ter claro que escola e família devem constituir uma aliança para educar e acompanhar as crianças e adolescentes. Todos trabalhando juntos para o desenvolvimento integral da garotada, não jogando a culpa de um no outro, o que não ajudará a solucionar o problema.

O assunto deve ser tratado com seriedade, pois tem sérias consequências. É importante que os pais ajudem os filhos que sofrem com o bullying. Mas muito importante também é identificar quem pratica a violência, para que os responsáveis de meninas e meninos que têm esse comportamento sejam alertados e tomem providências, no sentido de ensinar porque aquele comportamento não é bom. Especialistas ponderam que os que praticam o bullying são quem mais precisam de ajuda. Quem é a vítima do bullying, na verdade é vítima de uma pessoa “covarde”, que quer fazer o outro se sentir menor para se sentir ‘poderoso’.

O primeiro passo, já na suspeita, é encaminhar essa criança para uma avaliação comportamental completa e, se identificar uma situação, tratar. O psiquiatra Gustavo Teixeira lembra que para cada caso um tratamento é estabelecido. Todavia, “um apoio psicológico, seguindo uma orientação cognitivo-comportamental” é o mais usado.

Para evitar que um filho se torne um desses é educá-lo a sempre respeitar o outro, especialmente quando este outro é diferente em algum aspecto. Importante também é dar esse exemplo. Por isso, ninguém deve se calar diante do problema, uma vez que a sala de aula pode sim ser o melhor lugar do universo, pois lá todos podem aprender e se divertir juntos, independente das eventuais diferenças.

Esse comportamento intimidador e agressivo, infelizmente comum nos ensinos fundamental e médio, pode seguir até a vida adulta caso não seja feito um tratamento. E com mais de 15 anos de experiência no assunto, a doutora em educação Cléo Fante acredita na mudança comportamental. Segundo ela, “muita coisa pode acontecer na vida dessa criança quando adulta. Ela pode encontrar bons exemplos capazes de fazê-la mudar. Pode amadurecer e com o tempo observar que esse tipo de comportamento não é legal. Com o tempo, pode incorporar novos valores”, finalizou. Mas que tal dar às crianças valores eternos que vão fazê-las cidadãos ecumênicos e fraternos? Nosso convite é para que elas aprendam essas coisas que fazem bem à Alma nas aulas de Moral Ecumênica!

Portanto, lembremos sempre que o poder de mudança está em nossas mãos. À medida que integramos nosso pensamento ao Pai Celestial, temos o auxílio necessário para realizar coisas extraordinárias e transformar, para melhor, o rumo de nossa existência e daqueles que foram confiados a nós, superando os desafios que eventualmente surgem em nossa jornada terrena. O educador Paiva Netto nos ensina que "Todo dia é dia de renovar o nosso destino".

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Com informações da Plan Brasil, Chega de Bullying