Em fórum, povos indígenas "ensinam" que água deve ser reverenciada

As comunidades indígenas de países sul-americanos defenderam a preservação dos rios e montanhas durante o 8º Fórum Mundial da Água

Agência Brasil

22/03/2018 às 14h55 - quinta-feira | Atualizado em 22/03/2018 às 18h20

Tratando a água como um membro da família e como algo sagrado a ser conservado para as próximas gerações, as comunidades indígenas de países sul-americanos defenderam a preservação dos rios e montanhas durante o 8º Fórum Mundial da Água.

Valter Campanato/Agência Brasil
Sessão especial do 8º Fórum Mundial da Água sobre Culturas de Água dos Povos Indígenas da América Latina.

A brasileira Maria Alice Campos Freire, do Conselho Internacional das Treze Avós Indígenas, explicou que os povos indígenas da Amazônia sempre tiveram uma relação de respeito com a água, que é passada de geração para geração desde os ancestrais. Na educação tradicional, a água, conta, é reverenciada e, antes de se pensar no consumo, deve ser observada como algo "que devemos reverenciar".

"Esse conhecimento a gente passa para as filhas. Quando eu eduquei as minhas, sempre tinha um dia da semana em que saíamos sempre muito cedo, de manhã, sem falar nada. Íamos em silêncio à beira da água cantar para ela, louvar à agua, como forma de agradecimento à pureza e nossas relações", disse.

Na tarde de quarta-feira, 21, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, a sessão especial Culturas de Água dos Povos Indígenas da América Latina foi coordenada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Vinda da Guatemala, a indígena Ana Francisca Pérez Conguache, da etnia Poqoman, de origem maia, é coordenadora da Rede de Mulheres Indígenas. Ela relata que enquanto a maioria só pensa na água para o consumo humano vinda em tubos, as comunidades indígenas sabem que esse bem vem das montanhas.

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A coordenadora da Rede de Mulheres Indígenas Ana Perez Conguache fala durante a sessão especial do 8° Fórum Mundial da Água sobre Culturas de Água dos Povos Indígenas da América Latina.

"Mas quem conserva os rios, os mananciais? Ela é sagrada. (...) Pertenço à floresta [na Guatemala], onde há 75 nascentes de água que são conservadas pelas mulheres e homens", afirmou.

Já Freya Antimilla, representando os povos Mapuche, do Chile, defendeu que as respostas para os recentes descompassos com a natureza, especialmente relacionados à água, estão nos povos originais. "A água é vida. É a nossa mãe, é a nossa vitalidade e o equilíbrio com os elementos da Terra, com os próprios elementos dessa natureza. É equilíbrio da nossa maneira de viver com esses elementos. A escassez da água e todos problemas que estamos vivendo e crescem cada vez mais nasce desse desequilíbrio: só tirando, tirando, tirando. Sem dar importância e deixando a biodiversidade de lado", criticou.

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Sessão especial do 8º Fórum Mundial da Água sobre Culturas de Água dos Povos Indígenas da América Latina.

Ao responder a perguntas da plateia, Maria Alice Campos Freire, do Conselho Internacional das Treze Avós Indígenas, citou que o Fórum Alternativo Mundial da Água, que também ocorre na capital federal, está construindo o um "dossiê" com as histórias de terras indígenas e "santuários da natureza" que estão sendo ameaçados por diversos setores. Ela citou como exemplo as Terras Indígenas Évare I e II, no Alto Solimões, onde os povos indígenas estão sendo "assassinados" e as mulheres, raptadas.