Tony Gordon: música e engajamento solidário

A trajetória do grande campeão do The Voice Brasil

Leilla Tonin

08/12/2020 às 11h07 - terça-feira | Atualizado em 08/12/2020 às 11h47

Divulgação

Sabe aquela máxima popular que diz que “a fama não subiu à cabeça”? Pois é, ela se encaixa como uma luva no comportamento do cantor paulistano Tony Gordon, que “mantém seus pés no chão”, como ele mesmo gosta de afirmar, assim como a simpatia e a sensibilidade que o ajudaram a construir uma carreira artística sólida ao longo de 33 anos. Por sinal, trajetória essa rica e dedicada ao jazz e ao R&B (gênero que combina elementos do rhythm and blues soul, funk, pop, hip hop e dance).

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Dono de uma voz rouca e grave, cativou de imediato plateia e jurados do The Voice Brasil 2019, da TV Globo, e, a cada audição, foi se estabelecendo e conquistando mais fãs até ser escolhido como o campeão da 8ª temporada do programa. A visibilidade oferecida pela atração oportunizou ao público brasileiro conhecer um pouco mais do trabalho e o talento desse ex-crooner, que tem a música na veia.

Mais uma vez, Tony está apoiando a tradicional campanha Natal Permanente da LBV — Jesus, o Pão Nosso de cada dia!, que amplia as ações da Legião da Boa Vontade nesta época e que, neste ano, tem a meta de socorrer mais de 50 mil famílias.

Na entrevista exclusiva concedida à revista BOA VONTADE, ele fala dos assuntos referidos anteriormente, do papel da música para transmitir bons sentimentos e da importância de o negro contar a sua própria história, ressaltando que, neste caminho, é preciso respeito e Amor Fraterno para a derrubada do racismo e de qualquer tipo de preconceito. Boa leitura! 

BOA VONTADE — Você é filho do cantor Dave Gordon e da Denise Duran, irmã da inesquecível Dolores Duran. Como é a sua relação com a música?

Tony Gordon — Eu nasci num ambiente extremamente musical, a minha família é toda de cantores. Parentes, padrinho, madrinha, todos músicos. Sou afilhado do César Camargo Mariano e da Marisa Gata Mansa [1938-2003], grande cantora. E o César, sem palavras. A minha casa sempre foi bem frequentada por artistas e músicos, com essa coisa da minha mãe e do meu pai serem cantores: Jair Rodrigues [1939-2014], Rita Lee, Tim Maia [1942-1998]... Eu tive o privilégio de crescer ouvindo bate-papos incríveis. Então, acho que isso me fortaleceu para tudo o que amo e desejo.

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BV — Quando você sentiu que a música seria a sua profissão?

Tony Gordon — A minha mãe, desde que eu era pequenininho, passeava comigo na rua cantarolando a música Carinhoso: “Meu coração, não sei por que...”. E eu já era afinadinho. Não é prepotência, pelo amor de Deus, é ter consciência para o que a gente veio ao mundo, eu acho isso importante. Sempre tive certeza de que a minha jornada seria de música, embora, na minha adolescência, houve [certa] resistência. Minha mãe chegou a me ameaçar (risos): “Cara, se você não cantar, eu não sei o que eu faço”. Depois das broncas, [falei]: “Tá bom, ok, vamos lá...”.

BV — Após esse período de incerteza, como foi?

Tony Gordon — Já existia uma herança incrível por parte de pai e mãe, no sentido de as portas se abrirem para mim como cantor. Naquela época, havia várias casas noturnas, e lembro-me de que nunca passei uma dificuldade por não ter onde trabalhar. Também tinham campeonatos de tênis na Bahia, casamentos, bodas de ouro, bodas de prata, bar mitzvah... Eventos em que as pessoas me chamavam para cantar para todas as idades: uma festa de aniversário de uma senhora de 95 anos, de um jovem de 15, de 13...

BV — Ser filho de artistas abriu as portas ou significou mais responsabilidade para você?

Tony Gordon — Para mim, abria muito [as portas]! Eu convivi bem com isso. Por ser um cara fisicamente parecido com meu pai, que cantava parecido, eu tirei bastante proveito, achei incrível. É herança, é dom, é receber do Universo um presente. Não me sentia mal em cantar como meu pai, eu me espelhava nele, não só na música, mas também em tantas outras coisas da vida. Pai e mãe...

BV – Já há uma nova geração na família seguindo esses passos?

Tony Gordon — Sim, o meu filho William me ajuda muito, uma cabeça jovem, que mescla um pouco da musicalidade de antigamente com o que está acontecendo agora. Eu respeito isso, e é engraçado, porque tenho várias faixas musicais gravadas, por exemplo, pela LBV*1, mas não tenho um disco. Esse é o meu primeiro. Parece que esperei uma vida toda, ver o William crescer para ser o meu produtor. Está sendo incrível tudo isso, e o Samuel [Fraga], que conheci na LBV com 13, 14 anos*2, e que depois tocou comigo, também está ajudando nesse trabalho. Uma coisa dedicada ao que se ama, que é a música, a família, tudo conectado. Isso nos transforma, nos deixa bem!

Diego Ciusz

BV — Com mais de 30 anos de carreira e um talento indiscutível, por que você participou de programa tão desafiador como o The Voice Brasil?

Tony Gordon — Na verdade, essa decisão não foi minha. Foi uma insistência dos integrantes da [banda] Jamz, da qual meu filho faz parte, que me convenceram. Não que eu não quisesse, mas é complicado você se expor... A fama tem prós e contras, e o povo preto do Brasil precisa aproveitar um pouco do poder da fama para que as coisas fiquem mais fáceis. Então, a gente tem a responsabilidade hoje, por meio da música, de passar para as pessoas Amor, responsabilidade, verdade, como sempre foi. Ao sair do The Voice, eu não me deixei levar pela fama, não tenho esse problema. As pessoas me param na rua [e perguntam]: “Mas por que você está fazendo isso?” Porque sempre fui à loja de material de construção com a calça cheia de tinta, não tô nem aí. O que é importante faço muito bem, sou uma pessoa que cavo felicidade para minha vida.

BV — O ano de 2020 foi de grandes desafios não só pela pandemia. Como vê a campanha Black Lives Matter (em tradução livre, Vidas Negras Importam)?

Tony Gordon — A partir do momento que temos de dizer que vidas negras importam é porque existe algum problema. A gente está falando de algo que, realmente, requer atenção, cuidado. O que está acontecendo pede reação da vida preta. Os negros brasileiros precisam de estudo, oportunidade. Eu me sinto de manga arregaçada nesse sentido, para que as coisas melhorem. A gente está muito longe [do ideal], a nossa luta ainda é grande. Eu estive no Caribe para conhecer a minha avó [paterna], um pouco antes de ela falecer, de ir para o outro plano. E ela olhou no meu olho, lacrimejando, e disse: “Não permita que ninguém conte a sua história. Conte você mesmo a sua história”, porque senão distorcem tudo. Ela me falou do significado da palavra “negro”, porque foi algo que viveu, [e contou] que, no momento de uma surra, o termo “negro” era usado como forma de ofensa, para diminuir, como coisa ruim. (...) Na minha opinião, a gente só muda isso se tiver como base o Amor.

BV — Qual o sentimento de fazer parte da campanha de Natal da LBV?

Tony Gordon — A gente tem de aproveitar essas datas para fortalecer algo que, às vezes, as pessoas não têm consciência o ano todo. Nessas datas marcantes... [Por exemplo,] o Dia das Mães serve para que a gente saiba o verdadeiro valor de “mãe”. Nem que seja pegar dez marmitas e levar no centro da cidade, junto com a sua mãe, [e servir aos moradores de rua]. Então, vamos aproveitar, sim, esse fim de ano e fazer bombar a necessidade de levar a 50 mil famílias algo que as façam se sentir melhor. Se a gente pensar nesses 50 mil [lares] e outros 200 milhões de brasileiros pensarem também, talvez comece a diminuir a dificuldade na vida desses indivíduos o ano inteiro. (...) E nada vai faltar para a gente, para prosseguir na Bondade, em tudo que precisarmos para o bem do outro.

Diego Ciusz

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*Tony Gordon refere-se à música Prece para ter Tranquilidade, que faz parte do Oratório “O Mistério de Deus Revelado”, grande sucesso do compositor Paiva Netto, além do jingle Jesus é o meu caminho (melodia de Samuel Fraga com letra do Legionário da Boa Vontade Paulo Azor) e, mais recentemente, à participação no videoclipe A LBV nasceu para amar e ser amada, a ser lançado em homenagem às sete décadas da Instituição.

*2 O cantor conheceu o músico e baterista Samuel Fraga na adolescência ao visitar o Conjunto Educacional Boa Vontade, na capital paulista, quando o jovem lá estudava.