Superação e fim do preconceito às pessoas com deficiência no esporte

Wellington Carvalho

13/08/2014 às 21h06 - quarta-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h02

Fernando Maia/CPB
Judoca Antônio Tenório da Silva

De acordo com o mais recente censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem 45,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência — são 23,9% dos cerca de 190 milhões de cidadãos. A visual é a mais comum: 35 milhões têm dificuldade de enxergar, mesmo com óculos ou lentes de contato.

Uma dessas pessoas é o judoca Antônio Tenório da Silva, 43, que começou sua trajetória no esporte aos sete anos de idade. Ele tornou-se o único atleta do mundo a conquistar quatro medalhas de ouro consecutivas em jogos paralímpicos. Em 2008, venceu o Campeonato Paulista Master de Judô Convencional e de 2012 a 2013 foi presidente do Conselho de Atletas do Comitê Paralímpico Brasileiro.

Contudo, para alcançar a carreira bem-sucedida, Antônio precisou enfrentar situações difíceis. Aos 13 anos, perdeu a visão do olho esquerdo ao ser acertado por uma semente de mamona durante uma brincadeira com estilingue. Na década de 1990, enquanto trabalhava como coordenador de segurança em um shopping, teve uma infecção alérgica nos olhos, que o deixou totalmente cego, aos 19 anos.

Ele conta que, de lá para cá, um de seus maiores desafios foi o de se reabilitar novamente às atividades do cotidiano — como caminhar na rua, ler. Porém, outra superação desejada era ter a sua importância como ser humano reconhecida pelas pessoas. Ao Portal Boa Vontade, ele relembra: “Não foi fácil ter meu espaço dentro da sociedade; o respeito das pessoas que estavam do meu lado novamente. Nós que temos deficiência sempre enfrentamos algum tipo de preconceito, aliás, também o negro, o idoso”.

“Em qualquer lugar do mundo, estamos ainda muito atrasados. A verdade é essa. Tomara que num futuro próximo, com as gerações que estão vindo, a inclusão possa existir verdadeiramente dentro da sociedade”, explicou Antônio. Por isso, para o atleta, a solução que promete quebrar o preconceito está mais perto do que se possa imaginar: é a expansão de uma consciência de respeito, fraternidade e solidariedade, que “começa dentro das nossas casas e na educação, enquanto os cidadãos são formados. Se o cidadão for bem educado, ele vai saber respeitar o próximo”.

Depois de muitos anos superando sua limitação física com muita força de vontade, o judoca se prepara para o Campeonato Mundial IBSA 2014, que ocorrerá entre os dias 1º e 7 de setembro, em Colorado Springs, no Estados Unidos. Em 2015, pretende participar dos Jogos Pan-Americanos, em Toronto, no Canadá, assim como dos Jogos Paralímpicos de 2016, que ocorrerão no Rio de Janeiro. Para tanto, tem uma rotina de treinos diários que duram cerca de quatro a seis horas.

Do legado que o esporte deixou para sua vida, Antônio Tenório da Silva destaca: “O judô paralímpico veio num momento muito importante na minha vida. Me ajudou em todos os aspectos. Me deu mais força para superar o meu dia a dia e enfrentar os preconceitos. Me ensinou a ganhar e a perder, porque desde pequeno estou ganhando e perdendo”.