Planetário acessível: já imaginou 'ver' o Universo com as mãos?

Wellington Carvalho

27/05/2015 às 18h24 - quarta-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h04

NASA
CURIOSIDADE: Recentemente, foi descoberta por astrônomos a galáxia mais brilhante do Universo. Emitindo uma luminosidade equivalente a 300 trilhões de sóis como o nosso, A WISE J224607.57-052635.0 fica a longínquos 12,5 bilhões de anos-luz da Via Láctea.

Poder admirar as estrelas, a lua cheia ou ter noção da grandeza do sol são oportunidades que, ainda que não valorizadas no dia a dia, nos ajudam a ter ideia do quanto o Universo é complexo e belo. Porém, como proporcionar isso às pessoas que não enxergam? 

media.fapesp.br
Dr. Cláudio Carvalho.

No campus da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), em Ilha Solteira, interior de São Paulo, o Planetário para Deficientes Visuais atende a essa necessidade. Nele, os astros foram todos trabalhados em alto relevo e o nome das estrelas e galáxias escritos em Braille.

Idealizado pelo dr. Cláudio Luiz Carvalho, 56, professor do departamento de Física e Química da Unesp, o planetário é um dos poucos dotados de acessibilidade no Brasil. “Temos um grupo de astronomia e estávamos acostumados a receber pessoas sem deficiência visual. E percebemos que é muito fácil expor a elas as informações sobre os astros, e para os cegos, não”. A partir daí, o docente começou, com seus alunos, a desenvolver a ideia de receber as pessoas com deficiência visual da melhor forma também.

Cláudio L. de Carvalho

As representações dos planetas são feitas em relevo para que as pessoas com deficiência possam diferenciá-los pelo tato. Ao fundo, a esfera maior representa o sol.

“A primeira coisa que nos veio à cabeça foi o fato de as pessoas com deficiência visual utilizarem o tato. 'Vamos tentar montar um planetário em que, ao invés de ver, possam tocar'. Então, fizemos duas estruturas de um metro cada uma, contendo várias constelações, cerca de 500 estrelas, com seus respectivos nomes escritos em Braille”, explica o dr. Cláudio.

Com alguns materiais, como o isopor, o professor e alguns alunos desenvolveram representações de muitos componentes do Espaço, a exemplo do Sistema Solar e algumas constelações. E tudo foi pensado em escalas proporcionais, para dar noção da grandeza.



Para exemplificar, o professor detalha: “O sol é uma esfera de um metro de diâmetro (uma bola enorme). Tentamos ilustrar a superfície dele deixando a esfera meio enrugada; para as manchas solares, colocamos um relevo diferenciado; as explosões solares são de plástico. Em comparação à esfera que representa o sol, a da Terra tem um centímetro de diâmetro (tamanho de uma bola de gude). Então, o deficiente visual consegue fazer a relação do tamanho do Sol e do planeta que vivemos”.

E para aqueles que tinham dificuldade nas aulas de geografia na escola, algumas dúvidas podem ser esclarecidas no planetário. “Para saber mais sobre a Terra, fizemos um outro globo com o relevo do mar mais abaixo do que o dos continentes. Assim o cego consegue notar a forma da América do Sul, América do Norte, e assim por diante.”  

Cláudio L. de Carvalho
Representação de constelações. As bolinhas são as estrelas, identificadas em Braille.

E agora você pode pensar: “Mas como ter ideia do brilho das estrelas?”. A solução foi mais simples do que se poderia imaginar: em uma esfera aberta ao meio, as constelações são feitas com linhas (para se perceber o desenho que fazem no céu), e as estrelas mais brilhantes são representadas por bolinhas maiores em relação às que brilham mesmo. Legal, né?

Se você conhece algum deficiente visual, convide-o para conhecer o planetário! As visitas sempre contam com acompanhantes para tirarem dúvidas. O Planetário para Deficientes Visuais da Unesp, localiza-se na Avenida Brasil, 56, no Centro de Ilha Solteira, SP. Fica aberto de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e reabre às 14h, ficando aberto até às 18 horas. A entrada é gratuita. =)