O desafio de universalizar o acesso a novas tecnologias

Leila Marco

29/04/2014 às 13h29 - terça-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h00

Vivian R. Ferreira
Alunos do Conjunto Educacional Boa Vontade, na capital paulista, durante aula de informática.


Aproveitar ao máximo o que podem oferecer as novas tecnologias, conciliando-as com o aumento exponencial da informação, torna-se cada dia mais necessário. Até o início dos anos 1990 o conhecimento e a utilização de redes de computadores no mundo estavam restritos à comunidade científica e acadêmica. A internet, conforme conhecemos hoje, surge com a criação da World Wide Web (www), em 1990, pelo cientista da computação Timothy John Berners-Lee, do Conselho Europeu para a Pesquisa Nuclear (CERN).

Apesar de grande facilitador de tarefas e importante meio para o processo educacional, a internet e suas ferramentas ainda não estão ao alcance de todos, e isso influi no processo de inclusão social e no acesso da pessoa a melhores oportunidades no mercado de trabalho. Afirma o professor Nelson de Luca Pretto, autor do livro Uma escola sem/com futuro: Educação e multimídia (1996), que "o analfabeto do futuro será o indivíduo que não souber decifrar a nova linguagem gerada pelos meios de comunicação".

Para massificar o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), como forma de contribuir para a melhoria das condições de vida da população, os países, em geral, têm enfrentado sérios entraves, incluindo-se as nações emergentes como o Brasil.

Em maio de 2012, a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou, em sua pesquisa do novo Mapa da Inclusão Digital, elaborada em parceria com a Fundação Telefônica/Vivo, que a economia brasileira, a sétima do planeta, ainda vivia uma espécie de "apartheid digital".

Segundo o estudo, coordenado pelo economista Marcelo Neri, na época chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV e hoje ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), um terço da população conta com acesso à internet em casa; e, de cada 100 brasileiros com mais de 10 anos de idade, 65 disseram desconhecer a web. Outro dado chama a atenção: a concentração na classe A dos instrumentos digitais — de cada 10 lares com computador e acesso, 7 abrigam os mais ricos. Isso mostra que muito ainda deve ser feito para corrigir a desigualdade no acesso às TIC.

A Legião da Boa Vontade (LBV) ajuda a reduzir essa distância, trabalhando pela inclusão digital e por melhores condições de vida das famílias de baixa renda. Por isso, há mais de uma década mantém laboratórios de informática em boa parte de suas escolas e Centros Comunitários de Assistência Social. Somente em 2012, promoveu nessa área mais de 93 mil atendimentos, beneficiando crianças, jovens (em busca do primeiro emprego), adultos (recolocação profissional) e idosos.

1 — Cachoeiro de Itapemirim, ES; 2 — Poços de Caldas, MG; e 3 — Londrina, PR.

FOCO NO NORTE E NORDESTE DO BRASIL

O Mapa da Inclusão Digital indicou desigualdade nas cinco regiões brasileiras, com ranking de acesso dividido em duas partes bem distintas. As dez primeiras colocações reúnem Estados do Sul, do Sudeste e do Centro-Oeste; na segunda parte, concentram-se representantes do Norte e do Nordeste.

Nessas duas regiões, a LBV trabalha intensamente para reduzir a carência de oportunidades digitais, com destaque para o atendimento prestado em Aracaju, SE; Salvador, BA; Recife, PE; Teresina, PI; Itabuna, BA; Fortaleza, CE; São Luís, MA; e Belém, PA.

As atividades do laboratório de informática da Instituição integram as ações do programa Capacitação e Inclusão Produtiva, que oferece cursos gratuitos para o desenvolvimento de habilidades necessárias para uma melhor colocação profissional ou para o atendido tornar-se empreendedor. A iniciativa favorece também a convivência comunitária e os valores de cidadania.

Nas aulas de Informática, os participantes aprendem a utilizar aplicativos (editor de texto e planilha eletrônica), programas para navegação na internet e o sistema operacional do computador. O objetivo principal é oferecer capacitação digital ao jovem e àqueles que se encontram fora do mundo do trabalho, que cada vez mais exige do trabalhador tais conhecimentos. Os alunos ainda recebem orientação para montar e formatar o próprio currículo.

COLOCAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO

Na capital pernambucana, Victorio Drumond de Farias, de 21 anos, é um dos muitos jovens que procuram apoio na Legião da Boa Vontade. De família simples do Recife, ele não tinha condições de pagar um curso e encontrou na LBV um caminho para crescer. Além de aprender a utilizar as ferramentas digitais mais exigidas atualmente, Victorio destacou outros benefícios do curso: "Foram dados muitos textos para a gente ler e digitar, o que enriqueceu o nosso conhecimento da língua portuguesa. Rezávamos todos os dias, foi bom para mim e acho que para as outras pessoas também; o grupo era muito unido por causa disso".

Para o rapaz, o volume maior de leitura e a qualidade dos textos foram decisivos para aprender a se expressar melhor nas entrevistas de emprego. Em recente processo de seleção de que participou, com cerca de 100 candidatos, foi escolhido um dos 25 mais bem preparados. O bom resultado lhe rendeu uma colocação profissional, além de incentivo para buscar novos sonhos.

1 — Salvador, BA; 2 — Teresina, PI; 3 — Taguatinga, DF.

SEM LIMITE DE IDADE

A fim de usufruir os benefícios trazidos pelo uso de novas tecnologias, muitos idosos procuram se inserir no mundo digital. Desejam sentir-se ativos e atualizados, em sintonia com o estilo de vida da família e da sociedade. Para isso, devem superar a eventual dificuldade de memorização e de manejo do computador, por exemplo, além do acesso restritivo ao mundo da informática.

Francisca Gregório, de 68 anos, moradora da capital cearense, tinha dificuldade para utilizar até caixas eletrônicos de banco e sofria também com preocupante quadro psicossocial, que incluía baixa autoestima e desmotivação. No Centro Comunitário de Assistência Social da Legião da Boa Vontade em Fortaleza, ela encontrou o apoio necessário no programa Espaço de Convivência.

Graças a essa ação solidária, ela pôde superar barreiras. "Eu tinha vergonha, pela minha idade, de entrar no curso de Informática. Daí um professor daqui disse que isso não era um problema." Com o curso em andamento, dona Francisca comemora: "É uma vitória, já sei fazer muitas coisas... abrir o bloco de notas, entrar no Facebook e pesquisar na internet, e eu não sabia sequer ligar um computador".

A proposta da Instituição de familiarizar o idoso com o ambiente digital representa uma forma de contribuir para que as pessoas da Terceira Idade tenham ao lado dos mais jovens oportunidades iguais de evoluir. Isso significa, nas palavras do diretor-presidente da LBV, Paiva Netto, "aliar ao patrimônio da experiência dos mais velhos a energia dadivosa dos mais moços".