Sobreviventes

A história de uma mãe e de seu filho, que superaram agressões e até tentativa de aborto

Wellington Carvalho de Souza

04/03/2019 às 16h32 - segunda-feira | Atualizado em 08/03/2019 às 18h05

Leticia Teixeira
Mercedes Garcia e seu filho, Juan (nomes fictícios).

Desde 2015, Juan Garcia (nome fictício), de 5 anos, é aluno do Instituto Educacional e Cultural José de Paiva Netto, escola da LBV do Uruguai, localizada em Montevidéu. Apesar da pouca idade, ele é um vencedor, pois sobreviveu à investida para a interrupção da gravidez que o próprio pai quis impor à mãe, Mercedes Garcia. Isso porque, após contar ao marido, à época, que estava grávida, ela, então com 23 anos, foi obrigada por este a realizar atividades, na rotina do lar, que exigiam grande vigor físico. Como não obteve sucesso nas primeiras investidas, o esposo agiu com ainda maior crueldade. “Numa noite, ele veio do trabalho e me disse que tinha passado na farmácia e comprado algumas pílulas para náuseas. Eu lhe falei que iria ao médico na semana seguinte, mas, logo em seguida, ele abriu a minha boca à força e me fez engoli-las. Depois, falou que eram para o aborto. Então, comecei a chorar, a chorar...”, relatou.

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Para convencer o parceiro a deixá-la ir embora de casa, Mercedes precisou solicitar a intervenção da cunhada. Felizmente, conseguiu dirigir-se ao hospital a tempo de salvar o feto. Sobre a sensação de vivenciar situação tão dolorosa, afirmou: “Isso marcou minha vida. Havia muitos sentimentos misturados, porque eu passei cinco anos com uma pessoa que nunca me tinha maltratado, mas [que], quando descobriu que estava esperando um filho, mudou completamente”.

 

“Creio que falta às mulheres coragem, crer em si mesmas. Digo às que estão em situação de violência que nunca abandonem seus filhos, pois é o amor deles que nos faz seguir adiante. (...) [É preciso] Pedir ajuda. Graças a Deus, tenho um lugar onde nos dão muito amor e nunca nos abandonam quando necessitamos: a LBV. Temos que criar nossos filhos ensinando a eles bons valores e que não repitam nossos erros. Também sinto que a fé em Deus é um dos pilares que me ajudaram a seguir em frente.”

Mercedes Garcia (nome fictício)

mãe de uma das centenas de crianças atendidas pela LBV
do Uruguai

 

Após o divórcio, ela teve de estabelecer-se na casa da mãe, onde enfrenta atritos com outros familiares. Deixar Juan na unidade de ensino da LBV proporciona um grande alívio nessa realidade. “A Legião da Boa Vontade é uma bênção para mim. Meu filho ingressou na [escola da] Instituição aos 2 anos de idade. Naquele momento, eu estava pegando lixo [material reciclável] da rua para sobreviver. Eu queria que meu menino estivesse em um lugar onde o tratassem com amor, já que vive em um ambiente familiar complicado (...)”, ressaltou Mercedes.

Essa mulher resiliente também fez questão de evidenciar: “No Instituto Educacional, Juan recebe os melhores valores e educação. Desde que nasceu, sempre teve problemas de nutrição e, graças a Deus, com a comida que tem aqui, está muito melhor. Tenho muito a agradecer à LBV, porque as oficinas educativas de que participei me ajudaram a ir mais à frente, me encorajaram a buscar trabalho [cada vez melhor], a estudar”.