O que fazer para reduzir a fome e a pobreza?

LBV do Paraguai leva hortas orgânicas a comunidades carentes e transforma vidas

Leila Marco

11/07/2018 às 11h22 - quarta-feira | Atualizado em 18/07/2018 às 10h15

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Promover uma alimentação sadia e sustentável é uma das metas do programa Boa Vontade em Ação, da Legião da Boa Vontade do Paraguai. A ideia é estimular, com a criação de hortas comunitárias, a produção orgânica de verduras, legumes e frutas, conscientizando as pessoas em situação de vulnerabilidade social amparadas pela LBV do país sobre a importância de uma alimentação equilibrada. A iniciativa ainda trabalha o fortalecimento dos vínculos familiares, a igualdade de gênero e a geração de renda.  

Diego Ciusz

A reportagem desta revista esteve em um dos locais beneficiados com este trabalho, a comunidade de Villa Angélica, situada na cidade de Lambaré, uma das regiões mais carentes da Grande Assunção, capital do país, onde a Instituição socorre cerca de 300 famílias. Lá, nossa equipe pôde acompanhar um dos encontros quinzenais, uma parceria com o Ministério da Agricultura e Pecuária do Paraguai (MAG, na sigla em espanhol), nos quais são dadas, com o apoio de engenheiros agrícolas, instruções sobre manejo, plantio, adubação e manutenção dessas hortas.

Atuando ali há oito anos, a LBV tem realizado um serviço multidisciplinar com assistentes sociais, psicólogos, educadores e nutricionistas voluntários. Celsa Raquel Morel Collante, líder na comunidade Villa Angélica, explica que as mudanças foram acontecendo pouco a pouco, à medida que os moradores iam participando das atividades propostas pela Instituição: “As palestras educativas, o grupo Fortalecendo Vidas, da LBV*, formado por mulheres, nos fizeram querer aprender mais. (...) Temos hoje à disposição verduras e legumes para levar à nossa mesa. Podemos consumir o que temos no quintal de nossas casas”.

Raquel Díaz
Celsa Raquel Morel Collante, líder na comunidade Villa Angélica.

A implantação da horta, além de assegurar o alimento que antes faltava no prato, tornou-se um elemento agregador, melhorando a qualidade de vida dela e de seus vizinhos: “Contamos com capacitações [oferecidas pela Entidade] que nos ajudam a progredir, a crescer como pessoa, a trocar ideias, a discutir os problemas e a compartilhar soluções”.

O agrônomo Ángel Oviedo, da Diretoria de Educação Agrícola (DEA), do Ministério da Agricultura e Pecuária, igualmente comemora o sucesso da empreitada, que reduz um índice preocupante, pois, apesar dos avanços, 10% da população paraguaia passa fome e enfrenta desnutrição no país, de acordo com dados divulgados pela relatora especial das Nações Unidas sobre o direito à alimentação, Hilal Elver, durante visita ao país em novembro de 2016.

Oviedo ressaltou o valor da iniciativa, que oferece apoio técnico, insumos, mudas e sementes para os moradores, além da informação necessária para a “preparação de refeições saudáveis, aproveitando tudo o que a horta produz, desde as hortaliças às frutas, livres de agrotóxicos”.

Raquel Díaz
"Só posso felicitar e apoiar a Instituição pelo trabalho que leva adiante, sempre estaremos com as portas abertas apoiando esta iniciativa. A LBV tem uma função social muito relevante no desenvolvimento adequado destas comunidades".

O que torna ainda mais interessante o programa é que o excedente do que é plantado pode ser vendido, resultando em uma renda extra para a comunidade. “Ter uma produção efetiva de hortaliças sem produtos químicos, de produtos orgânicos, que têm um valor maior no mercado, gera renda, seja ao vender esses produtos naturalmente ou processados, seja ao fazer doces, compotas, bolos etc.”, destacou Oviedo.

Mitigando efeitos climáticos

O representante do Ministério da Agricultura e Pecuária conta que o aumento da temperatura no planeta tem feito com que os verões em Assunção estejam cada vez mais quentes. Por isso, afirma que o suporte técnico é fundamental para o bom resultado: “Em razão das altas temperaturas, é [preciso] incorporar tecnologias nestas produções, como o uso de malhas meia sombra e um sistema de irrigação, senão é muito difícil conseguir sucesso nas colheitas”.

Além disso, o programa implantado pela LBV reforça os fatores protetores, pois, ao envolver os moradores do local, expande os limites do lar imediato, fortalecendo, assim, a união entre os integrantes da comunidade. “O que aprendemos com a LBV nos ajudou a nos relacionar melhor como família comunitária, a apoiar, a compartilhar e a superar as diferenças que podem existir entre os vizinhos por meio do diálogo e do respeito”, declarou a líder Celsa Collante.

Acabou a cara feia para comer

Raquel Díaz
Professora Karen Paola Rojas.

O projeto de horta orgânica também alcança significativos resultados no Jardim Infantil da Legião da Boa Vontade do Paraguai, localizado em Assunção. Lá, crianças de 2 a 5 anos, vindos de famílias em situação de vulnerabilidade social, dão os primeiros passos no aprendizado escolar e logo descobrem o valor da boa nutrição e de se cuidar do meio ambiente. E tudo ocorre de maneira natural e divertida: com apoio dos educadores, os alunos põem as mãos na massa, participando de todas as fases do cultivo até a colheita dos produtos bem fresquinhos.

Entusiasmada com os benefícios que a ação tem proporcionado, a professora Karen Paola Rojas destacou: “As crianças plantam, lavam e preparam os alimentos com a minha ajuda e a das tias da cozinha. Elas também são motivadas a consumir verduras. Nós as levamos, pelo menos uma vez por semana, à horta para colher o que é necessário para o almoço do dia”.

O envolvimento dos pequeninos e de pais e responsáveis faz a diferença. “Muitos não consumiam verduras. Foi um processo lento, mas, por meio das atividades, das aulas, ao ir provando [frutas e vegetais] tanto na escola como em casa, agora [as crianças] adquiriram hábitos alimentares de maneira correta e saudável, e o apoio da família nisso foi relevante para se estabelecer, com êxito, esse processo”, ressaltou a professora.

Raquel Díaz

Testemunho de transformação

“Meu filho passou a valorizar muito a boa nutrição depois que começou a plantar na escola hortaliças. Ao chegar em casa, quer fazer o mesmo, e onde vê um espaço nos pede para semear. Ele realmente transformou sua alimentação. A educação que meu filho recebe é excelente. Graças à LBV, podemos progredir, ter recursos extras, que dão suporte à nossa vida financeira.” (Ricardo Ramírez, pai de Cristian Ramirez, de 4 anos, aluno do Jardim Infantil da LBV do Paraguai.)