Conexão Esporte e Espírito

A experiência da ex-jogadora de basquete Karla Costa no Templo da Boa Vontade

22/09/2023 às 11h40 - sexta-feira | Atualizado em 22/09/2023 às 17h18

Karla Cristina da Costa, ex-jogadora de basquete e hoje diretora-presidente do Basquete Feminino Unimed, em Campinas/SP, é uma das dirigentes que acreditam na importância de se estimular o desenvolvimento da Inteligência Emocional e da Espiritualidade Ecumênica entre atletas.

Não é difícil imaginar o quanto esse equilíbrio de corpo, mente e Alma é essencial nessa área para lidar com medos e frustrações; controlar a irritabilidade e a ansiedade, treinar a capacidade de tomar decisões durante uma jogada e, acima de tudo, se automotivar. Segundo Karla, cuidar de forma integral do esportista é o caminho natural para o alcance de metas e para que todo o potencial criativo e físico do atleta seja despertado.

Ela, que seguiu essa trajetória, é um real exemplo dessa maneira de agir e pensar. Karla foi uma das alas mais destacadas do basquetebol feminino brasileiro, tendo a honra de representar o nosso país em três Olimpíadas consecutivas (2004, 2008 e 2012), ficando cerca de 12 anos entre as melhores jogadoras da modalidade no mundo.

Nessas ocasiões, descobriu também como o Esporte ajuda a colocar as pessoas em contato umas com as outras, faz nascer relações entre indivíduos, que se unem e batalham por um objetivo comum. “[As Olimpíadas são] o maior evento do Esporte! Nunca vou conseguir encontrar uma palavra para descrever tudo o que eu vivi. Sempre que tocava o Hino Nacional era algo muito forte, como também a oportunidade de você cruzar com ídolos de outras modalidades. E naquele momento todo mundo é igual, todo o país é igual”, disse.

Ela relatou que a sua própria trajetória de vida mostrou, ao longo dos anos, como o aspecto espiritual é vital para o preparo e o bem-estar dos esportistas. Nascida e criada em Brasília/DF, em uma família de esportistas, desde cedo iniciou a praticar diversas modalidades: ginástica olímpica, natação, capoeira, até treinar basquete, na Unidade do Vizinhança. Com 15 anos foi a Campinas/SP para uma peneira no Ponte Preta, com 400 meninas, “passamos eu e mais cinco”, e ali começava a sua jornada.

Mas os sentimentos vividos na capital federal, em especial no Templo da Boa Vontade (TBV), monumento que se caracteriza por seu ambiente acolhedor, recebendo visitantes, independentemente de suas convicções religiosas ou filosóficas, etnia, níveis socioeconômicos ou quaisquer outras diferenças, a acompanhariam para sempre e auxiliaram na conquista de uma carreira vitoriosa. “Eu cresci indo ao Templo [da Boa Vontade]. Quando era criança, adolescente, que estudava, às vezes, tinha um horário vago entre uma aula e outra, era para o TBV que eu ia, e me sentia em paz, um lugar realmente onde parecia que me conectava. Fazia parte da rotina da minha família visitar o Templo, valorizar tudo aquilo que é maravilhoso [nele], sentir a troca de energia”, afirmou.

O tempo e a distância não a afastaram: “Mesmo hoje, com 45 anos, tendo saído de casa com 15, é para mim impossível não estar em Brasília e dentro do meu roteiro tenho de passar no Templo da Boa Vontade e fazer a espiral, passar pela pedra [de cristal] e resetar de novo. Aí posso ir embora, aguento mais um período”.

CHAVE PARA O EQUILÍBRIO

Ainda de acordo com Karla, esse aprendizado a tornou mais forte e capaz de vencer as adversidades: “Porque, quanto mais espiritualizado você está, é maior o controle que tem sobre o todo. É difícil chegar a esse ponto, a maturidade tem que vir junto. O ponto-chave é essa Inteligência Emocional junto com a Espiritualidade; são coisas que caminham juntas. E, quando se consegue chegar a esse ponto de equilíbrio, é o ápice de saber que está na direção certa, de passar a entender mais o seu corpo, as suas necessidades, o que é certo, o que é errado”.

Em cenário de aparências, impulsionado pelas redes sociais, em que “todos estão felizes o tempo todo”, saber lidar com as fraquezas é imprescindível. Por isso, faz questão de passar para as jovens que acompanha no basquete sua própria experiência: “Vivemos isso hoje e temos de nos adaptar, faz parte do processo da evolução, mas, quando se está em casa, se olha no espelho, essa verdade, ela tem que ser 100%, porque a única pessoa que não podemos mentir é para a gente mesmo. Frequentar o Templo e todos os ensinamentos que minha família transmitiu — de ser autêntico, não ter vergonha de se expor — faz ter certeza de que se está no caminho correto. É o que falo: nem tudo vai dar certo o tempo todo, nem tão pouco errado, é um dos lemas que carrego para minha vida de escolher como que vou passar por certa situação”.

Há dois anos, conforme ressaltou a dirigente do Unimed, essa forma de sentir e agir foi fundamental para enfrentar um câncer na garganta. “Eu precisei escolher como queria passar pela doença, escolhi ficar com a cabeça boa. Acredito que, por conta da Espiritualidade, de me manter com o pensamento positivo, deu tudo certo. Acho que toda a minha infância — junto com a Espiritualidade, com o Esporte — me fez chegar a um ponto de me considerar uma pessoa em paz”.

PAPEL SOCIAL

Para Karla, além da atividade de alto rendimento, o Esporte é importante ferramenta social, uma escola de formação e educativa. “Em 18 de julho, começamos [a implementar] o primeiro basquete para quem tem Síndrome de Down no Brasil. A ideia é fomentar entre essas pessoas, que talvez não tenham nunca visto basquete ou não tenham tido a oportunidade, e que elas, pelo menos, possam olhar e falar: “bom, ali eu posso ir”. Ao invés de ficar na rua sem fazer nada, ela pode jogar basquete e, quem sabe um dia, mesmo que não se torne um jogador ou jogadora, mas, no mínimo, possa aprender sobre respeito, disciplina sobre regras. E eu tenho certeza de que a gente está plantando uma boa semente”.

Sobre o esforço para fomentar ações solidárias por meio do Esporte, Karla Costa é categórica: “No caso do basquete, para quem tem Síndrome de Down, (...) a gente fez algumas aulas experimentais antes de começar o [projeto] e vou falar pra você, foi uma das melhores experiências que tive na minha vida: a de ver a sensação e a emoção deles fazendo uma cesta. Essa interação da nossa equipe adulta com a de Síndrome de Down, beneficia todo mundo, e a intenção é essa, a de trocar experiências”.

Comparou com sentimento similar que o time da Unimed teve ao receber a visita de atendidos pela Legião da Boa Vontade em Campinas: “É a mesma impressão que tenho quando a gente traz as crianças da LBV, de que quem está aprendendo mais somos nós. Por isso, tenho mais vontade de fazer essas atividades, porque tenho certeza de que vou ficar mais feliz”