Autismo: mais informação, menos preconceito

Ele é um transtorno neurológico que se caracteriza por um conjunto de alterações no comportamento social, na comunicação funcional, no engajamento ativo

Gabriele de Barros

11/04/2023 às 14h41 - terça-feira | Atualizado em 13/04/2023 às 10h42

Cerca de 1% a 2% da população mundial possui Transtorno do Espectro Autista (TEA), e, no Brasil, estima-se que dois milhões de pessoas tenham o transtorno. Nos Estados Unidos, um relatório do Center of Diseases Control and Prevention (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, em tradução livre), com dados de 2018, ofereceu uma nova prevalência, dando conta de que uma em cada 44 crianças tem algum grau de autismo.  

O certo é que se tem observado um aumento no número de indivíduos com TEA no mundo, e isso pode ser explicado pelo avanço da Ciência, que busca estudar e entender o transtorno, pela maior conscientização e abordagem do tema, possibilitando que as informações se tornem mais acessíveis e haja maior busca pelo diagnóstico.  

Portanto, essa data* planetária de conscientização do autismo é bastante importante para que mais cidadãos tenham conhecimento sobre o assunto e sejam diagnosticados precocemente, tendo, assim, acesso a terapias que podem influenciar no desenvolvimento e na qualidade de sua vida. Além disso, o entendimento do TEA é a chave para o fim do preconceito e da discriminação.  

ENTENDA O TEA 

O autismo é um transtorno neurológico que se caracteriza por um conjunto de alterações no comportamento social, na comunicação funcional, no engajamento ativo e na regulação emocional — habilidade que um indivíduo possui de gerenciar seus sentimentos. Ele afeta o processamento de informações, modificando a maneira como as células nervosas e suas sinapses se conectam e se organizam. O TEA impacta na forma como o indivíduo percebe e se comunica com o mundo.  

Seus sintomas podem ser observados na primeira infância, persistindo na adolescência e na vida adulta. Quem tem o Transtorno do Espectro Autista pode apresentar ampla variedade de sinais e sintomas, em diferentes níveis de necessidade de suporte, ou seja, enquanto alguns conseguem viver de maneira independente, tendo facilidade de realizar qualquer atividade pessoal, outros, nos casos mais severos, precisam de atenção e apoio constantes ao longo de suas existências.  

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), da Associação Americana de Psiquiatria, e a Classificação Internacional de Doenças e Transtornos Mentais (CID-11), da Organização Mundial da Saúde (OMS), estabelecem critérios para o diagnóstico do TEA conforme os níveis de intensidade dos sintomas, como dificuldades na comunicação e interação social e comportamentos repetitivos ou restritos.  

Existem três níveis de autismo: 1 (leve), 2 (moderado) e 3 (severo), que descrevem a gravidade dos sintomas que afetam as habilidades sociais e o comportamento das pessoas com o espectro. Dessa forma, indivíduos com TEA que conseguem realizar as atividades diárias de modo independente e com pouca ajuda podem estar no nível 1, e aqueles que precisam de mais suporte nas etapas do desenvolvimento podem estar no nível 3. 

Confira alguns sinais do autismo que podem ser observados na primeira e na segunda infância no box ao lado. 

É válido ressaltar que nem todos os autistas possuem todas as características apresentadas, e pessoas que não estão no espectro também podem se identificar com um ou mais sintomas. Por isso, é fundamental a avaliação de um profissional antes de chegar a qualquer conclusão.  

O TEA é diagnosticado clinicamente, ou seja, não existe um exame que possa verificar se alguém é ou não autista. Os especialistas fundamentam o diagnóstico com base na observação dos indicadores de desenvolvimento, comportamento e habilidades emocionais, sociais e cognitivas, além de avaliar o histórico do paciente. Também são realizadas entrevistas com a família ou pessoas próximas. Em alguns casos, ainda podem ser solicitados testes genéticos ou exames específicos para detectar problemas de saúde relacionados com o autismo e/ou descartar outras síndromes.  

DIAGNÓSTICO TARDIO DO AUTISMO 

Com a maior conscientização do Transtorno do Espectro Autista, tem sido cada vez mais frequente ver adultos descobrindo a condição. Isso ocorre, principalmente, porque se identificam com pessoas que conhecem e que estão no espectro ou até mesmo com personagens de filmes e séries. No entanto, o diagnóstico pode ser um pouco mais complicado, uma vez que os sintomas do TEA são facilmente confundidos com outros problemas de saúde mental, como o transtorno de ansiedade ou o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).  

De acordo com especialistas, os sinais do autismo em adultos podem ser um pouco mais sutis, o que, de certa forma, justifica o diagnóstico tardio de muitos pacientes. Nesses casos, os profissionais da saúde — neurologista, psicólogo ou psiquiatra — em geral fazem algumas avaliações para chegar a um quadro preciso, ao verificar se há desafios de interação e comunicação social, dificuldades com estímulos sensoriais, ou seja, a sensibilidade para sons, e interesses restritos.  

O autismo é uma condição para a vida toda, e compreender seu funcionamento, seja na infância ou na vida adulta, é fundamental para garantir que o indivíduo entenda seus desafios, identifique seus pontos fortes e tenha uma melhor qualidade de vida.  

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CUIDADOS 

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) alerta para a importância da intervenção de uma equipe multidisciplinar e interdisciplinar, a fim de garantir que a pessoa com autismo desenvolva todo seu potencial. Ainda com esses acompanhamentos, a família também recebe a orientação necessária para lidar com possíveis comportamentos desafiadores e incentivar o autocuidado do paciente.  

As mediações mais comuns no TEA são: terapias ocupacional e comportamental, fonoaudiologia, acompanhamento pedagógico, fisioterapia e/ou atividade física. Além disso, cuidados com a alimentação e atividades como musicoterapia, gameterapia e equoterapia (método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar) também contribuem muito para a redução dos sintomas. 

O principal objetivo dessas terapias é identificar os desafios de aprendizado de cada um e trabalhá-los de maneira saudável e sempre adaptados à realidade na qual vivem.  

TRABALHO INCLUSIVO DA LBV 

A Legião da Boa Vontade (LBV), dentre tantas atividades que realiza em benefício dos seus atendidos, aplica na sua rede de ensino o Programa Potencializando Habilidades (PPH), que tem o objetivo de acompanhar o desenvolvimento pedagógico e social dos estudantes que possuem distúrbios de aprendizagem ou diagnósticos diversificados, incluindo o Transtorno do Espectro Autista.  

Os trabalhos desenvolvidos a partir da utilização de materiais lúdico-pedagógicos e de jogos adaptados são aplicados de acordo com os laudos e especificidades de cada aluno e são enriquecidos por estratégias desenvolvidas pelos profissionais que atuam no programa.  

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*Dois de abril é conhecido como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, uma data que objetiva o esclarecimento da sociedade sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Este ano a campanha é norteada pelo tema “Mais informação, menos preconceito”.