ESPECIAL COP21 — O Brasil e a importância da energia eficiente e limpa

Da redação

23/11/2015 às 14h55 - segunda-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h05

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Para falar das expectativas que envolvem a 21ª Conferência das Partes (COP 21)*, que se realizará em dezembro de 2015, em Paris, na França, a revista BOA VONTADE entrevistou especialistas de vários segmentos da sociedade sobre os mais destacados temas do encontro e as graves consequências das transformações climáticas no dia a dia das pessoas em todo o mundo, facilmente percebidas em razão da maior ocorrência de fenômenos naturais extremos, entre estes cheias e secas, e de enfermidades favorecidas por essas transformações. 

Confira nesta reportagem a opinião do doutor em Ciências Físicas, professor e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), José Goldemberg sobre a importância da energia eficiente e limpa.

BOA VONTADE — Como as mudanças climáticas podem afetar a geração de energia em nosso país?

Goldemberg — O aumento da temperatura da Terra está criando mais instabilidades nos fatores que determinam o clima, o que faz com que haja precipitações anormais em certos lugares, por isso tem havido enchentes extraordinárias, sem precedentes na China e em alguns países da Europa Oriental, e em outros lugares são secas extraordinárias, como a que estamos atravessando aqui no Brasil. (...) Havendo menos chuva, os reservatórios não conseguem ser preenchidos e algumas dessas usinas hidrelétricas param de funcionar. Esse é o caso do Estado de São Paulo, a Usina de Porto Primavera praticamente deixou de produzir energia elétrica e vários outros reservatórios na Região Sudeste estão nessa situação. Cerca de 25% da energia elétrica que é usada hoje no Brasil não provêm mais de hidroelétricas, mas de usinas que queimam derivados de petróleo.

“(...) o progresso à base do uso do carvão e do petróleo cria problemas de poluição. As despesas com saúde crescem extraordinariamente (...) por causa desse modelo de desenvolvimento. Por isso, a China está se voltando para a energia renovável.”

BV — Quais setores do Brasil precisam repensar suas estratégias?

Goldemberg — O principal é o da geração de energia, o das hidrelétricas, [para] evitar que elas sejam substituídas por usinas que queimam combustíveis fósseis. O outro é o do transporte. Cerca de 40% das emissões brasileiras vêm dele. Precisamos introduzir padrões de emissão, pois os veículos brasileiros emitem mais do que os usados no exterior. No caso da indústria, é necessário adotar medidas para modernizá-la, produzir mais utilizando menor energia, além de estimular o uso de energias renováveis, como a eólica, a solar e a biomassa.

BV — A COP 21 abre espaço para os países repensarem suas economias de forma sustentável?

Goldemberg — Certamente que sim. É claro que, para os países ricos, é fácil falar isso, porque eles usam energias em quantidades imensas, e economizar um pouco não fará grande diferença. Mas há exemplos como o da China, que está crescendo 7% ao ano e percebeu que o progresso à base do uso do carvão e do petróleo cria problemas de poluição. As despesas com saúde crescem extraordinariamente lá por causa desse modelo de desenvolvimento. Por isso, a China está se voltando para a energia renovável. No passado, o Brasil mostrou isso com o desenvolvimento de usinas hidrelétricas. Éramos exemplo para o mundo, com mais de 80% de nossa matriz energética limpa e renovável. Perdemos esse papel por causa das perdas elétricas e da seca. Temos que recuperá-lo.

Está matéria está disponível na revista BOA VONTADE (edição 240). Adquira seu exemplar pelo telefone 0300 10 07 940 ou baixe o aplicativo gratuito da revista para iOS e Android.

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* 21ª Conferência das Partes (COP 21) — É o órgão supremo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), elaborada durante a Conferência de Cúpula das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92, na capital fluminense. Nesse encontro, os países signatários da convenção, que entrou em vigor em 29 de maio de 1994, comprometeram-se a criar uma estratégia global “para proteger o sistema climático para gerações presentes e futuras”, tendo como meta principal estabilizar as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera em um nível que impeça transformações drásticas do clima no planeta.