Parkinson: Com apoio e tratamento adequado, é possível viver com qualidade

Karine Salles

11/04/2014 às 14h59 - sexta-feira | Atualizado em 11/04/2023 às 10h55

A medicina ainda desconhece a causa, mas a doença de Parkinson está presente em todas as regiões do mundo, acometendo mais de 1,2 milhão de homens e mulheres. No Brasil, a doença já atinge cerca de 300 mil pessoas, segundo dados da Associação Brasil Parkinson.

Essa enfermidade provoca a destruição progressiva e irreversível da dopamina, neurotransmissor que ajuda na realização dos movimentos voluntários do corpo e, por isso, "é necessário que os pacientes contem os seus sintomas e que os sinais sejam vistos pelo médico para um diagnóstico clínico", explicou o neurocirurgião Erich Fonoff, 41, livre-docente e pesquisador da Divisão de Neurocirurgia Funcional do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. É por meio dos sintomas — "rigidez neuromuscular das articulações, diminuição da velocidade dos movimentos, tremores e dificuldade de se equilibrar quando anda ou fica em pé" — que, segundo Fonoff, o diagnóstico é feito.

O mal de Parkinson pode se desenvolver em qualquer pessoa, mesmo sem histórico na família. De acordo com o neurocirurgião, "estamos diante de uma doença que é progressiva: inicia com sintomas que não são motores; quando a pessoa começa a ter esses sintomas, parte das células já degenerou e morreu".

11 de abril é o Dia Mundial da Doença de Parkinson. A data faz referência ao nascimento de James Parkinson, médico inglês que descreveu a doença em 1817. O dia, então, é propício para a conscientização da sociedade, de forma a desfazer mitos em relação à enfermidade. Por exemplo: embora os tremores sejam a característica mais conhecida, o neurologista explica que os sintomas, chamados de não motores (depressão, alteração do sono, alterações do olfato, dor, constipação intestinal e disfunções da bexiga) geralmente aparecem muito antes de a pessoa receber o diagnóstico.

Foi o que aconteceu com a aposentada Cleide, diagnosticada aos 45 anos. "[Foi] precoce, pois em 2004 eu comecei a sentir os tremores, o que quer dizer que eu já estava com a doença antes disso", contou. "Inicialmente, comecei a perceber um tremor na mão esquerda no momento de dirigir. Isso chamou a minha atenção. Depois comecei a sentir uma pequena dificuldade para andar e fui procurar um médico."

Por conta dos tremores, algumas pessoas acabam se isolando da sociedade por vergonha e constrangimento, ficando deprimidas. O dr. Erich explicou que "na verdade, a depressão é uma morbidade associada". Ou seja: não se trata só de algo emocional, mas tem uma causa biológica também: "O paciente que tem Parkinson, além da redução da dopamina, também tem redução da serotonina, um neurotransmissor relacionado a genes da depressão".

Mesmo tendo que lidar com o público, pois trabalhava com formação de professores, Cleide recordou que trabalhou até completar os 30 anos para a aposentadoria. Ela lembra que "tremer na frente das pessoas é identificado como medo, insegurança, e isso era muito negativo. Quanto mais eu tentava esconder, mais aquilo se revelava. Fiquei muito deprimida, sim".

Especialistas alertam que, quanto mais tempo o paciente se fecha por vergonha dos sintomas, mais deprimido ele fica, e isso só piora a doença. Por isso, a melhor solução é aceitar o problema e reagir: "Até que um dia uma amiga terapeuta falou para mim: 'Se te incomoda que as pessoas percebam, revela logo de cara'. Depois disso, comecei a me sentir melhor. As coisas ficaram mais fáceis para mim. Não diria que eu não tenho nenhum momento de tristeza, mas são superáveis".

Infelizmente, o mal de Parkinson é uma doença que não tem cura e, segundo o dr. Erich, "não há uma maneira de expelir, remediar ou prevenir". Por isso, requer tratamento multidisciplinar com uso de antidepressivos e terapias alternativas para amenizar os traumas emocionais. "Atualmente, muitas pessoas vivem muito bem com a doença de Parkinson. Elas têm suas dificuldades, que são vencidas com união e boa vontade tanto dos pacientes e médicos/cuidadores quanto dos familiares, que são muito importantes no cuidado dessas pessoas", ponderou o neurocirurgião.

O segredo, portanto, é manter o corpo em movimento. Os sintomas interferem nas atividades diárias dos pacientes. Por causa dos tremores e da rigidez, eles podem ter dificuldades para fazer ações simples, como segurar um copo. Contudo, algumas técnicas de fisioterapia ajudam a reduzir essas dificuldades. "Defendemos que, se for possível, a pessoa continue trabalhando! A ideia é que a pessoa procure o tratamento, faça a reabilitação, seja eventualmente operada, mas continue trabalhando".

É importante também que a família dê apoio e procure informações e orientações para compreender melhor o quadro. Conviver com a doença e manter uma melhor qualidade de vida é possível, desde que os sintomas sejam controlados. Para isso, tratamentos alternativos, como fisioterapia, terapia ocupacional, acupuntura, fonoaudiologia e exercícios físicos no geral, têm sido considerados tão importantes quanto os medicamentos. "Estar com outras pessoas ajuda muito no tratamento, porque você começa a ver como outras pessoas enfrentam e que nem todo mundo tem o desenvolvimento da doença. Para algumas pessoas, pode ser muito agressivo, muito rápido; e para outras pessoas, não. Há pessoas que convivem há muitos anos com essa doença e mantêm uma vida praticamente normal. Com esse convívio, acabamos formando outra família: um apoia o outro, e a gente acaba aceitando e entendendo melhor a doença".