Renomados especialistas debatem por que é tão difícil emagrecer

Os doutores Claudio Domênico, José Carlos Appolinario e Amélio Godoy Matos desmistificaram e esclareceram diversos aspectos referentes à obesidade.

Simone Barreto

20/10/2017 às 14h43 - sexta-feira | Atualizado em 01/12/2017 às 10h44

Embora tentem emagrecer, fazendo uma dieta à risca e seguindo as orientações nutricionais de uma alimentação saudável, muitas pessoas não conseguem eliminar o excesso de gordura corporal, gerando, com isso, frustração por não conquistar o objetivo almejado. Mas por que isso ocorre?

Andreia Fontenele
As palestras, abertas ao público, os médicos esclareceram diversos aspectos ligados à obesidade.

Para debater o tema e responder a essa indagação, na tarde da última quinta-feira, 19, o Encontros Saúde e Bem-estar, da Casa de O Globo, no Leblon, zona sul do Rio, convidou os doutores José Carlos Appolinario, médico e professor do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Psiquiatria da UFRJ e Amélio Godoy Matos, médico-professor do curso de Pós-Graduação de Endocrinologia da PUC-Rio e do serviço de metabologia do Instituto Estadual de Diabetes e endocrinologia, associado a PUC-RJ.

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O coordenador do debate, dr. Claudio Domênico, ladeado pelos convidados, dr. Amélio Godoy Matos e dr. José Carlos Appolinario.

A coordenação de Encontros em Saúde está sob a responsabilidade do renomado do dr. Claudio Domênico, doutor e mestre em cardiologia pela UFRJ e coordenador da unidade de cardiooncologia do Hospital Procardíaco, que, na oportunidade, conduziu o debate e a mediação foi feita pela jornalista de O Globo, Josy Fischberg. Na palestra, aberta ao público, os médicos esclareceram por meio das palestras, diversos aspectos ligados à obesidade.

Obesidade: uma doença complexa

Logo na abertura do evento, dr. Domênico ressaltou que cerca de 100 milhões de brasileiros não fazem nenhuma atividade física e o Rio de Janeiro é a cidade que menos pratica atividades. “É um contraste, porque a paisagem maravilhosa, que propicia fazer uma série de atividades ao ar livre, talvez o fator impedidor seja a violência", afirmou.

Em entrevista à Boa Vontade TV, o coordenador da unidade de cardiooncologia do Hospital Procardíaco destacou a importância da prevenção, dos encontros, da informação ajudam na questão da obesidade. “A prevenção deve ser feita na infância. A boa educação alimentar começa em casa, em família, na escola, na mídia, a Boa Vontade levando essa informação com especialistas. ” (...) Essa é a importância desses encontros, dessas palestras, dessa entrevista."

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O dr. Amélio Godoy Matos, médico e professor do curso de Pós-Graduação de Endocrinologia da PUC-Rio, falou sobre a chamada balança energética. 

Sob o ponto de vista médico-científico, a obesidade já passou a um fator de epidemia. Acerca da balança do equilíbrio de entrada e gasto de energia, explicou o dr. Amélio Godoy Matos: “Nosso organismo é regido pela primeira lei da termodinâmica: energia que entra menos energia que sai é igual a energia estocada. Se eu como mais e eu gasto menos, tendo a aumentar meu estoque de comida, ou seja, de gordura. Esse é o princípio básico do controle de peso, a chamada balança energética.”

Dr. Godoy acrescenta que as influências ambientais menos conhecidas, como a cronobiologia, têm a ver com o trabalho dos laureados com o prêmio Nobel de medicina este ano. “Cerca de 75% do peso é determinado geneticamente, o restante é influência ambiental. As pessoas estão engordando mais porque os genes não mudaram. Vem a questão do ambiente. O nosso ambiente hoje é obesogênico, favorece o ganho de peso. Nós, hoje temos mais acesso ao alimento, menor atividade física, as pessoas gastam cada vez menos energia, mais estresse, que é um fato de ordem importante, mudanças dos nossos ritmos biológicos, cronobiologia, a janela alimentar do ser humano era de oito a dez horas. (...) Hoje, temos mudanças nesses ritmos biológicos comendo mais tarde, dormindo menos, essas coisas vão mudando de forma, ganhando peso”, pontuou.

Por que comemos?

O ciclo de palestras seguiu com as explanações do dr. José Carlos Appolinario, que esclareceu a dúvida sobre porque comemos e ainda deixou algumas técnicas para controlar o peso: comemos porque necessitamos comer ou comemos por que queremos comer?

"Na realidade, a resposta são as duas coisas. Comemos porque a gente necessita da alimentação, então é um aspecto biológico. Você precisa comer porque tem os nutrientes que fazem falta ao seu organismo, mas cada vez mais tem se prestado atenção em outra forma de comer, que é esse comer por prazer, por um conjunto de estímulos.  A capacidade de o indivíduo lidar com esses estímulos ambientais, é que muitas vezes vai fazer com que ele se descontrole e ganhe peso (...) Nós temos essa capacidade dupla, de comer por necessidade e comer por prazer. Isso é normal. O que é anormal na sociedade contemporânea, é que você começou a explorar demais esse aspecto do comer emocional, tanto pela propaganda, quanto por estímulos repetidos e acabou gerando esse descontrole em pessoas pré-dispostas que por algum aspecto de personalidade, aspecto emocional, já não conseguem se controlar”, explicou.

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Dr. Claudio Domênico, doutor e mestre em cardiologia pela UFRJ e coordenador da unidade de cardiooncologia do hospital Procardíaco.

Sobre isso, dr. Claudio Domênico pontuou: "Nós temos que ser o CEO, o diretor-presidente da empresa mais importante que temos, que é o nosso corpo. Por isso que as práticas de meditação, as técnicas de respiração lenta são tão decantadas hoje em dia, porque nos fazem olhar para dentro de nós mesmos. São as chamadas medidas não farmacológicas.”

Ao final do evento, o conceituado cardiologista parabenizou o trabalho realizado pela LBV, no que se refere aos cuidados de crianças, jovens e adultos: "Traçando uma diagonal no gráfico, de um lado temos o propósito e de outro o prazer. O que traz mais propósito e prazer para o ser humano é o trabalho voluntário. É isso que vocês fazem na Legião da Boa Vontade. É aquilo que você faz para o outro, faz mais bem pra você do que faz bem para o outro. (...) Será que trabalho voluntário, a ida à igreja, a vida em comunidade, uma vida com mais propósito possa ser um fator de proteção? Nós sabemos que existem hábitos emocionais que promovem a doença e tem hábitos emocionais que protegem da doença. A vida em comunidade é um fator promocional de saúde".