Clodoaldo Silva, ícone paralímpico, conta novos rumos profissionais

Em entrevista ao programa Momento Esportivo, da Super Rádio Brasil, o ex-nadador falou ainda sobre como o esporte contribui para a inclusão social.

Simone Ferreira Barreto

14/03/2018 às 14h48 - quarta-feira | Atualizado em 16/03/2018 às 12h45

O ex-nadador Clodoaldo Silva, ícone do esporte paralímpico brasileiro, concedeu, nessa quarta-feira, 14, entrevista ao programa Momento Esportivo*, da Super Rádio Brasil (940 AM), e revelou os novos rumos da carreira, após abandonar as piscinas. Ele ainda reiterou, no descontraído bate-papo, o esporte como importante ferramenta de inclusão social e relembrou momentos marcantes de sua vitoriosa trajetória esportiva.

Bruna de Jesus
O medalhista paralímpico Clodoaldo Silva com a equipe do programa Momento Esportivo, da Super Rádio Brasil. 

"Estou trabalhando muito mais agora do que quando nadava", contou, bem-humorado. Aos apresentadores Maurício Moreira e Marcelo Figueiredo, explicou como se deu a transição de atleta para palestrante motivacional: "Foram 20 anos de carreira, seis medalhas de ouro, seis de pratas, dois de bronzes, mais de 700 medalhas. Resolvi me aposentar nas Paralimpíadas do Rio, em 2016, e foi melhor do que imaginava. Acendi a Pira, consegui ganhar a medalha de prata no revezamento e tive uma despedida sensacional da torcida e dos meus companheiros. Quando decidi parar, foi uma decisão muito planejada".

Os novos caminhos profissionais vão de vento e popa. Recentemente, o medalhista foi convidado para ser um dos palestrantes na quarta edição da Brazil Conference at Harvard & MIT. O evento será realizado nos dias 6 e 7 de abril, na Harvard University e no Massachusetts Institute of Technology, nos Estados Unidos. A palestra de Clodoaldo Silva será no dia 6 de abril e terá o seguinte tema: “Esporte como ferramenta de inclusão social”.

"Fico muito feliz em ter recebido esse convite. Hoje, a sociedade consegue ver as pessoas com deficiência não mais como coitadinhos, incapazes, e sim como pessoas produtivas, que podem contribuir para a sociedade, e muito disso por causa do esporte. Eu fico muito feliz por ter sido um desses pioneiros para que a sociedade brasileira pudesse descobrir esse nosso potencial. E tudo isso eu vou mostrar lá, em Harvard, nos EUA, na cidade de Boston, nos dias 6 e 7 de abril", disse.

Vitrine para o desporto paralímpico

O convidado falou também de diversos aspectos do esporte paralímpico e a visibilidade mundial que ele conquistou aos olhos da sociedade, da mudança de mentalidade na esfera esportiva e na vida das pessoas com deficiência, além do limite entre o bom humor e o preconceito.

Marcello Casal Jr/ABr
O ex-nadador é um dos ícones do esporte paralímpico brasileiro e mundial.

“As Paralimpíadas de Atenas, em 2004, foi um divisor de água para o esporte paralímpico brasileiro. A sociedade começou a ver depois disso. Tive a sorte de, naquela edição, ter ganho seis medalhas de ouro e de prata, o Brasil conseguiu 14, e dali começaram a conhecer o esporte paralímpico brasileiro. Comecei a realizar palestras motivacionais por todo o Brasil, ter outras atividades, ou seja, depois de 2004, comecei a fazer outras coisas, a me engajar em projetos sociais. Decidi me aposentar e comecei a fazer muito mais palestras e a me envolver em muito mais trabalhos sociais. Ainda não deu tempo de sentir a falta da piscina”, destaca.

Clodoaldo Silva fez um resgate histórico para destacar que o reconhecimento público veio muito tarde, apesar da visibilidade conquistada naquela edição dos Jogos. “A primeira Paralimpíada aconteceu em 1960, em Roma. O Brasil teve a sua primeira participação só em 1972 [na Alemanha] e, desde então, vem ganhando medalhas, fazendo boas campanhas. Só que até 2004 a sociedade brasileira ouvia falar muito de longe. Em Atenas, eles passaram a ouvir e a ver pela televisão, foi transmitido pela primeira vez. Por isso houve aquele boom, tanto que hoje o esporte paralímpico brasileiro é potência mundial."

Desafios a serem enfrentados

O ex-nadador paralímpico ainda falou sobre os desafios enfrentados pela população com deficiência no Brasil, citando, especificamente, a questão da acessibilidade e o preconceito. Para ele, os dois maiores problemas. 

Bruna de Jesus
 Clodoaldo Silva dedica-se, atualmente, em palestrar no Brasil e exterior, falando sobre o esporte como ferramenta de inclusão social. 

"Acredito que o maior preconceito e discriminação que as pessoas com deficiência sofrem é a falta de acessibilidade. Quando eu, por exemplo, ou qualquer pessoa que tenha limitação, vai a um shopping, encontra sua vaga de deficiente ocupada por quem não tem deficiência. Ou quando você chega a um lugar e, ao invés de rampas, tem escadas, degraus. A cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos de 2016 deu essa mensagem. Quando eu cheguei, com a tocha, tinha degraus e, de repente, abriram-se rampas e graças a elas, consegui chegar à tocha para acendê-la. A mensagem é que podem haver degraus, sim. Mas se houver rampas ao lado, todo mundo pode chegar ao mesmo lugar com o mesmo objetivo", pontuou.

Sentindo-se em casa, Clodoaldo interagiu com os apresentadores, comentando matérias, relembrando fatos da sua vida esportiva, das competições nacionais e internacionais, do futebol brasileiro, arbitragem e outros assuntos do esporte, como se fosse parte da equipe do Momento Esportivo.

Bruna de Jesus
 O campeão paralímpico foi homenageado por alunos que representaram o Centro Educacional José de Paiva Netto, da Legião da Boa Vontade.

Ao final do programa, o ícone do esporte paralímpico brasileiro e mundial foi homenageado por alunos do Centro Educacional José de Paiva Netto, Unidade da Legião da Boa Vontade (LBV) no Rio de Janeiro. Ele agradeceu o carinho das crianças e retribuiu com muita simpatia o convite para palestrar na Escola da Instituição.

Ouça de segunda a sexta-feira, das 12h05 às 13h55, o programa Momento Esportivo, da Super Rádio Brasil AM 940. Informações: (21) 2518-0940.

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* Grande admirador do esporte, o líder da Legião da Boa Vontade criou um espaço na programação da Super Rede Boa Vontade de Rádio e da Boa Vontade TV para as notícias e transmissões denominado Momento Esportivo. Paiva Netto lançou a Campanha LBV— Esporte é Vida, não violência!, em 1978, com o objetivo de levar Paz aos estádios no Brasil e no mundo. A iniciativa recebeu o respaldo do então Presidente da FIFA, Dr. João Havelange, que homenageou Paiva Netto com a famosa Bola de Ouro. Grandes ícones do esporte, como Zico, Romário, Zagallo, Bebeto, Taffarel, Dunga, além do saudoso Telê Santana, e tantos outros craques, sempre apoiaram a iniciativa do dirigente da LBV.