Sistema Cantareira: de muita água a escassez

Karine Salles

21/03/2015 às 10h48 - sábado | Atualizado em 22/09/2016 às 16h04

O Sistema Cantareira é um dos maiores produtores de água do mundo. Ele é composto por seis represas que estão interligadas em diferentes níveis por vários quilômetros de túneis criados com o objetivo de aproveitar os desníveis e a consequente acumulação da água por gravidade. Uma obra cara e gigantesca que, desde sua criação em meados de 1960, já se sabia que não seria suficiente para abastecer a população da maior capital econômica do Brasil. Hoje, o Sistema Cantareira passa por uma escassez que afeta mais de 8 milhões de pessoas.

Inaugurado em 1974, o sistema produz 33 mil litros de água por segundo, em médica. Mas antes não era assim, de acordo com o professor do Departamento de Recursos Hídricos da Unicamp, Antônio Zuffo,  “na década de 1980 tínhamos uma realidade que começou chover mais, o sistema chegou a produzir 40 mil litros por segundo”.

E na época da construção e inauguração, a cidade contava com pouco mais de 4 milhões de habitantes. Número que dobrou, chegando na casa dos mais de 8 milhões atualmente. Ou seja, a falta de chuva não é o único motivo da crise de abastecimento do Sistema Cantareira. Outros fatores como a expansão industrial e agrícola agravam a situação. “O consumo diário na década de 70 e 80 era em torno de 450 litros por habitante dia”, lembra.

Além disso, “tivemos o aumento da precipitação que causou aumento da produção de água em todos os sistemas produtores, o que favoreceu também o sistema elétrico brasileiro, principalmente no Sudeste e no Centro-Oeste, porque aumentando a vazão dos rios também aumenta a energia produzida”. Tanto é que 'portas' dos reservatórios foram abertas para liberar o excesso de água.

DEPOIS DA ÁGUA, AO INVÉS DA BONANÇA VEIO A SECA

Entre 2009 e 2013, São Paulo viveu a situação contrária. Era natural. Zuffo explica que a agora a falta de água é "resultado de um cíclo natural da atividade solar, o que chamamos em hidrologia de 'Efeito José'. Ele prevê um longo período de baixas precipitações, sucedidas de altas precipitações. Observamos que, da década de 1930 até a 1960, as precipitações ocorreram abaixo da média. Houve um aumento a partir da década de 1970. E agora eu acredito que vamos passar por mais ou menos 30 ou 40 anos de precipitações mais baixas".

MEDIDAS PALIATIVAS VIRARAM FIXAS

Até 2014, o pior cenário enfrentado pelo Sistema Cantareira tinha sido em 1953, quando a vazão média de entrada de água no sistema chegou a 56% da média histórica. E as chuvas não vieram na proporção esperada. E em maio do ano passado, o governo paulista passou a retirar água da reserva técnica, também conhecida como volume morto, para a Estação de Tratamento de Água Guaraú, na zona norte de São Paulo.

A estimativa da Sabesp era de que esta água fosse suficiente para abastecer a região metropolitana de São Paulo até 2015. Se começasse a chover com regularidade, o uso do volume morto seria suspenso. Mas isso não aconteceu e foi retirada também a segunda cota do volume morto. Porém, desde o dia 1º de fevereiro de 2015, o nível do Sistema Cantareira vem apresentando estabilidade e elevação. Além das chuvas mais frequentes, que resultam em um acumulado bem acima da média histórica, as ações de redução no consumo com o bônus para quem gasta menos água e de multa em caso de desperdícios também contribuem com a alta.


Especialistas alertam que ainda é cedo para determinar uma mudança climática para a região, e destacam o retorno de dias quentes e secos. De acordo com o Grupo de Trabalho em Previsão Climática Sazonal do Ministério de Ciência e Tecnologia, haverá chuvas abaixo da média no Norte e Nordeste e acima da média no Sul do País. Vladimir Caramori, vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Hídricos, explica que “tanto a estiagem quanto a cheias são cíclicas, o que nós não conseguimos prever com precisão quando elas vão acontecer. Não dá pra dizer com tanta antecedência de que nos vamos ter estiagem para 2016”.

Por isso, "a população tem que estar preparada para saber que a situação será difícil. Teremos problemas de escassez mais severos do que foi em 2014. Portanto a contribuição de todos é importante”. E Vladimir recordou “sem água nós não temos condições de manter, minimamente, a nossa sobrevivência”.

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Com informações da Agência Brasil e Memória Sabesp