Neste Dia da Consciência Negra, o respeito a todas as diferenças

Ao Portal Boa Vontade, a diretora da Faculdade Zumbi dos Palmares, Francisca Rodrigues Pereira, analisa a situação dos negros no Brasil

Wellington Carvalho

20/11/2017 às 11h13 - segunda-feira | Atualizado em 20/11/2017 às 18h23

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Esta segunda-feira, 20, é um dia ainda mais propício — como todos devem ser — para se pensar em como o negro brasileiro tem alcançado seus direitos de cidadania, já que é instituído como Dia da Consciência Negra — uma homenagem a Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares e principal representante da resistência à escravidão na época do Brasil Colonial.

Passados 129 anos desde a abolição da escravatura, será que o negro brasileiro não sofre mais preconceito relacionado à cor de sua pele? Em quais aspectos avançamos desde a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888? Para saber como está a situação da população negra no Brasil em pleno fim de 2014, o Portal Boa Vontade conversou com a jornalista Francisca Rodrigues Pereira, diretora da Faculdade Zumbi dos Palmares.

MERCADO DE TRABALHO

Se antes os afrodescendentes, na Era Colonial, não tinham direito à remuneração, hoje recebem seu salário junto com as outras garantias trabalhistas. Porém, dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) confirmam, com base em 2011 e 2012, que um profissional negro recebe em média um salário 36,11% menor que um trabalhador não negro, em qualquer comparação que se faça, seja por setores de atividades ou nível de escolaridade.

SEGURANÇA

Recentemente, o Mapa da Violência 2014 divulgou que o jovem negro representa o perfil de quem mais morre violentamente no País. Em 2012, morreram, proporcionalmente, 146,5% mais negros do que brancos no Brasil. Considerando a última década, o número de negros vítimas de violência em relação à população branca mais que duplicou.

Para Francisca, "a violência contra o afrodescendente ainda é gratuita. Resolver isso ainda demandará muita conscientização, para que se perceba que não é porque você é negro que é culpado de algo sem um prévio julgamento. O que tem de jovens que morrem no Brasil por simplesmente serem de cor escura é um genocídio, um número muito maior do que qualquer país em guerra. Precisamos de políticas públicas que reduzam essa violência".

EDUCAÇÃO

Vivian R. Ferreira
25px;">Francisca Rodrigues Pereira, diretora da Faculdade Zumbi dos Palmares.

"Hoje temos, por meio das cotas e do Prouni [Programa Universidade para Todos], cerca de um milhão de jovens negros sendo formados a cada ano. Isso é um avanço — ainda que pouco, se comparado ao número de negros no Brasil, mas um avanço. O ideal é que não necessitássemos de cotas. Mas defendemos por um certo período, para que seja formada uma geração que tenha condições de educar filhos e netos. Elas melhoraram o acesso do negro às instituições de ensino, principalmente públicas", explica a jornalista.

De acordo com a mestre em Comunicação, ainda é necessário que as pessoas afrodescendentes tenham mais acesso à educação básica, para que a convivência entre crianças de várias etnias favoreça a prevenção ao racismo: "Precisamos incluir as crianças negras já nas creches. Assim, elas terão contato com brancos, asiáticos e perceberão que há a diferença na cor da pele, mas que elas são iguais".

CONSCIENTIZAÇÃO

Se compararmos ao contexto de décadas atrás, a população negra já obteve importantes conquistas na sociedade, mas ainda é preciso que todos avancemos juntos contra o preconceito, não só racial, mas a qualquer tipo de diferença. 

Sobre esse assunto, o jornalista, radialista e escritor Paiva Netto ressalta em seu artigo Zumbi e Ecumenismo Étnico que o povo brasileiro tem muito do que se orgulhar e valorizar sua pluralidade: "Se ainda não há democracia étnica dentro de nossas fronteiras — embora o Brasil seja um povo de etnias mescladas, para cuja sobrevivência é essencial estar plenamente legitimada e vivida a sua brilhante mestiçagem —, é porque o espírito de senzala continua grassando. Contudo, é justamente na natureza miscigenada que consiste a sua força".

Quando entendermos que "só existe uma raça: A Raça Universal dos Filhos de Deus", como elucida Paiva Netto, compreenderemos melhor a importância de anularmos segregações e, com espírito de Boa Vontade, unirmos nossas forças em prol de uma sociedade mais justa e fraterna. Afinal, podemos ter inúmeras discordâncias, sejam políticas, filosóficas, religiosas e, em muitas outras áreas do saber humano, mas partilhamos de uma mesma morada, que é a Terra. A "união de todos pelo Bem de todos" é fator a contribuir para a pacífica convivência planetária.

Para que a sociedade brasileira continue avançando em oportunidades justas para todas as etnias de que é composta, a jornalista Francisca Rodrigues Pereira, diretora da Faculdade Zumbi dos Palmares, salientou a importância de ser disseminada ainda mais a consciência contra o preconceito: "Não temos uma receita [para extinguir o racismo]. Mas estamos sempre lutando. Tudo melhora com o acesso à informação. Com conhecimento, todos nós iremos nos libertar do preconceito. Afinal, somos todos iguais perante Deus e perante o mundo; as pessoas que precisam entender isso".
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Com informações da Agência Brasil.
Colaboração: Rafael Bruno Abrantes Ferro.