Contra o tráfico de pessoas

Mais de 40 milhões de cidadãos no mundo vivem em regime de escravidão. O problema afeta principalmente as mulheres

Da redação

06/03/2018 às 18h33 - terça-feira | Atualizado em 09/03/2018 às 10h16

Shuttestock.com

Provavelmente, o dado citado surpreenda grande parte dos cidadãos do planeta, visto que muitos não cogitariam tamanho absurdo existir em pleno século 21. A informação consta do relatório “Índice Global da Escravidão” (2016), produzido em conjunto pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela ONG australiana Walk Free Foundation, em parceria com a Organização Internacional para as Migrações (OIM). No entanto, conforme estimam essas entidades, o número real pode ser ainda maior.

UN Photo/Mark Garten

António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas.

De acordo com o documento, a escravidão moderna é definida como “uma situação de exploração da qual não se consegue sair devido a ameaça, violência, coerção ou abuso de poder”. Portanto, trata-se não apenas de trabalho forçado, mas, igualmente, de casamentos por obrigação e de exploração sexual — ocorrências em que costuma haver ausência de proteção e de violação aos direitos humanos.

A fuga do país de origem em decorrência de conflitos é também uma das causas da escravização nos dias atuais. Ilustra bem isso o caso de milhares de africanos traficados ao longo de 2017 na Líbia, que se tornou importante ponto de passagem para os refugiados os quais tentam chegar à Europa pelo mar Mediterrâneo. Nessa nação, localizada no norte da África, muitos deles são negociados como escravos.

“Agora é a hora de nos unirmos para erradicar essa prática abominável.”

António Guterres
Secretário-geral das Nações Unidas durante a 72ª Assembleia Geral da ONU

Segundo Othman Belbeisi, chefe da missão da Organização das Nações Unidas (ONU) na Líbia, o comércio de seres humanos na região intensificou-se nos últimos anos. “O problema é que a maioria dos migrantes que fogem por motivos econômicos não possui nenhum documento. Eles entram na Líbia através de fronteiras não oficiais e se tornam completamente dependentes dos atravessadores. E eles, então, são muitas vezes sequestrados — e, se o dinheiro do resgate não é pago, são vendidos, torturados ou até mortos”, afirmou.

Helen Winkler

Todo esse cenário é lamentável e extremamente alarmante. Outro motivo de preocupação é saber que o público feminino é o que mais sofre nesse caos. Conforme constatou o “Índice Global da Escravidão” (2016), mulheres e meninas são 71% das vítimas do tráfico, a maioria delas com os fins de matrimônio e de exploração sexual.

Para as Nações Unidas, um dos fatores que favorecem o tráfico de pessoas é o de que este não recebe a mesma atenção de outros problemas globais, entre estes o enfrentamento do comércio ilegal de drogas e a punição a quem o realiza — o que precisa mudar. Durante a semana da 72a Assembleia Geral da ONU, ocorrida em setembro de 2017, em Nova York, nos Estados Unidos, o secretário-geral da organização, António Guterres, enfatizou que é responsabilidade dos líderes internacionais lutar contra o tráfico de gente. Ainda explicou que o combate a essa violação dos direitos humanos requer maior uso da Convenção contra o Crime Organizado Transnacional, assim como de outras convenções e de outros protocolos da entidade. De acordo com Guterres, “agora é a hora de nos unirmos para erradicar essa prática abominável”.