Já ouviu falar na herpes-zóster? A doença parece simples, mas pode causar graves consequências

Wellington Carvalho

23/06/2015 às 14h25 - terça-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h04

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Cartaz divulgado pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Ele integra a campanha lançada pela entidade no início deste mês de junho para o esclarecimento da população em geral quanto à doença.

Você já teve catapora quando criança? Bem, essa matéria sobre herpes-zóster pode ser ainda mais alertadora a você, já que ambas as doenças são causadas pelo mesmo vírus: o varicela-zóster. Apesar de ser pouco conhecido pela população, 95% dos brasileiros carregam o varicela-zóster e, com o passar do tempo, podem sofrer com a reativação dele no organismo — razão pela qual, em todo o mundo, uma em cada três pessoas poderão ter a infecção herpes-zóster no decorrer da vida, conforme alerta o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados Unidos.

Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), cerca de um milhão de novos casos de herpes-zóster ocorrem por ano entre os norte-americanos. Aproximadamente 4% resultam em hospitalização. No Brasil, a cada ano registram-se cerca de 10 mil internações causadas por complicações do vírus em todo o País, de acordo com o Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS).

Em 2011, o engenheiro químico Igor Ribeiro de Souza, 29, do Rio de Janeiro, RJ, foi vítima da doença. Ao Portal Boa Vontade, o jovem, que teve catapora na infância, relembrou alguns dos sintomas que sentiu na época: “Senti dor intermitente na região das costelas e coluna, e uma grande ferida que coçava (prurido vermelho) no lado esquerdo das costas e do abdômen. De início, achei que fosse algum problema neurológico e que a ferida era outra coisa que nada tinha a ver com as dores que sentia”. A doença se agravou ao ponto dele mal conseguir levantar uma panela.

Vivian R. Ferreira
Enquanto sofria as consequências da herpes-zóster, Igor mal podia levantar objetos de casa. Muito menos praticar tênis, esporte que tanto aprecia.

Ao procurar o médico, Igor descobriu estar com herpes-zóster e começou um tratamento com analgésicos e outros medicamentos por cerca de 40 dias, ficando curado. O caso do engenheiro não é tão comum, já que ele ainda mal chegou aos 30 anos: os idosos são as pessoas mais acometidas pela doença. Para saber o porquê e estar atento(a) à prevenção, confira abaixo a entrevista exclusiva com a geriatra Renata Salles, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia — seção São Paulo (SBGG-SP):

Portal Boa Vontade —  O que é a herpes-zóster?

Doutora Renata Salles — Causada pelo vírus varicela-zóster, o herpes-zóster é uma doença de manifestação cutânea, causando bolhas muito dolorosas na pele que podem durar em torno de sete a dez dias. A primeira manifestação da doença, que é a própria catapora, ocorre na infância. A partir daí, o vírus fica adormecido no corpo, e com o envelhecimento e a diminuição da defesa imunológica, pode ser reativado, causando lesões cutâneas.

Por isso, os idosos são os mais prejudicados. É uma doença que 70% dos casos ocorrem em pessoas acima dos 50 anos. Então, a idade é o principal fator de risco. Em pacientes com mais de 85 anos, essa prevalência chega até 50% dos casos. Por isso, nós, geriatras, precisamos estar atentos para fazer a prevenção e o reconhecimento assim que os primeiros sintomas da doença apareçam.

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O sintoma principal entre as pessoas que sofrem a herpes-zóster é o surgimento de dor aguda.

Portal Boa Vontade — A característica mais marcante de 96% dos pacientes com zóster é a dor aguda e debilitante, que pode durar meses e dificultar atividades cotidianas como tomar banho, se vestir ou até pentear o cabelo. Quais os outros sintomas da doença?

Dra. Renata Salles — A manifestação no quadro agudo começa com um pequeno adormecimento da pele, uma perda da sensibilidade, um certo formigamento. Cerca de duas semanas depois podem aparecer as bolhas e uma vermelhidão na pele. Associado ao quadro, pode haver uma pneumonia, devido à baixa imunidade.

O vírus está localizado nos gânglios dos nervos da medula espinhal; e quando ele é ativado, essas bolhas acompanham o trajeto dos nervos na região do tórax, do abdômen e, às vezes, na face, podendo ocorrer próximo aos olhos.

Em situações atípicas, pode ser comprometido um lado do corpo e ocorrer algumas complicações conforme as localizações e gravidade das bolhas:

— Fraqueza muscular, que pode desencadear numa paralisia motora;
— Um comprometimento ocular, que pode ser uma lesão na córnea, evoluindo para a cegueira;
— Perda auditiva;
— Além de depressão por conta desses agravamentos já citados.

Portal Boa Vontade — Como é feito o tratamento da herpes-zóster?

Dra. Renata Salles — O tratamento, na fase aguda da doença, que é quando as primeiras bolhinhas aparecem, é feito com medicamentos antivirais, analgésicos para controlar a dor, além de corticóide, que diminui o processo inflamatório. Durante o tratamento crônico, que é quando as bolhas se rompem, secam e formam cascas, já não há a presença do vírus. Então, os medicamentos antivirais não são mais necessários. Os analgésicos são mantidos e é feito um tratamento contra a dor crônica até mesmo por anos, até que passe.

Portal Boa Vontade — Medicamentos caseiros, como pastas, podem ser aplicados nas feridas?
Dra. Renata Salles — Não devem ser utilizados, pois podem prejudicar o tratamento e até favorecer infecções bacterianas nas lesões. Assim que o paciente começar a ter os primeiros sintomas, como o formigamento da pele e o surgimento das primeiras bolhas, deve procurar um atendimento médico.

Portal Boa Vontade — Como é feita a prevenção do zóster?
Dra. Renata Salles — Quem ainda não teve catapora mas recebeu a vacina contra ela, já realizou a primeira prevenção do vírus. Para as pessoas que já tiveram a catapora, a melhor forma de se prevenir é com a imunização a partir dos 50 anos, com a vacina própria para a doença, que foi liberada pela Anvisa em 2014 (a vacina não está disponível na rede pública de saúde).

O vírus da herpes-zóster não se passa por via respiratória, mas enquanto houver as vesículas, ou seja, as bolhas, pode estar presente nelas. Por isso, é importante evitar o contato físico com as lesões, que precisam ficar sempre limpas e protegidas com curativos. Lembrando que, sempre ao realizá-los, as mãos devem estar muito bem lavadas para não se promover infecções.

SOLIDARIEDADE NOS MOMENTOS DE DOR

Que saibamos considerar todos estes alertas e não esquecer dos devidos cuidados, além de prestar a solidariedade necessária a todos os que enfrentam a doença, sempre libertos de qualquer preconceito que os sintomas possam sugerir. Compartilhe a matéria no Facebook e dê a seus amigos e entes queridos a oportunidade de se informar sobre a herpes-zóster.