Fumar antes, durante e depois da gestação pode prejudicar a saúde do bebê

Karine Salles

30/05/2014 às 15h38 - sexta-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h01

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Um único cigarro fumado por uma gestante é capaz de acelerar, em poucos minutos, os batimentos cardíacos do feto, devido ao efeito da nicotina sobre o sistema cardiovascular. Nessa tragada, mais de quatro mil componentes tóxicos chegam até os pulmões e são liberados para a corrente sanguínea.

O Dia Mundial Sem Tabaco, comemorado neste sábado, 31 de maio, ressalta a importância do combate ao vício, afinal, atualmente, 6 milhões de pessoas perdem a vida por usar produtos derivados do tabaco. Desse total, 10% são fumantes passivos.

A placenta não consegue impedir a passagem dessas substâncias, e a entrada da nicotina dificulta a chegada de alguns nutrientes necessários para o desenvolvimento do feto. O resultado pode trazer uma série de problemas para a saúde da mãe e do filho. "O cigarro faz mal durante a gestação e depois dela", afirmou ao Portal Boa Vontade o pneumologista João Paulo Lotufo, do Hospital da Universidade de São Paulo (USP). Ele explicou, ainda, que as consequências do fumo podem surgir em médio e longo prazo. Segundo ele, são comuns doenças como "inflamação do ouvido, sinusites, bronquites. E, se houver outras infecções respiratórias, estas serão mais evidentes, com mais sintomas, porque o pulmão já está inflamado", apontou.

Estudos internacionais afirmam que bebês que nasceram de mães que fumaram durante a gravidez correm mais riscos de enfrentar atrasos no desenvolvimento neurobiológico. A mulher grávida fumante tem 70% mais chances de ter um aborto espontâneo, de dar à luz antes da hora, de o bebê nascer com baixo peso e altura, com riscos de malformações e complicações cardíacas, ou até mesmo de ocorrerem mortes fetais e de recém-nascidos.

Além disso, estudiosos concluíram que crianças com sete anos de idade nascidas de mães que fumaram 10 ou mais cigarros por dia durante a gestação apresentam atraso no aprendizado quando comparadas a outras crianças: observou-se atraso de três meses para a habilidade geral, de quatro meses para a leitura e de cinco meses para a matemática.

+ Fumar diminui produção e qualidade do leite da mãe

Alguns estudos indicam que o fumo passivo também pode prejudicar o feto, o que o pneumologista confirmou no pronto-socorro do Hospital Universitário. De acordo com ele, "dosamos a nicotina na urina de crianças de 0 a 5 anos, e é bem evidente a presença dessa substância em 24% delas".

Geralmente, o que acontece é que, quando a mãe descobre que está grávida, para de fumar. O dr. Lotufo afirma que abandonar o vício nessa fase é bom, pois "a nicotina é eliminada do organismo em 36 horas". Mesmo assim, "ela ainda vai demorar de cinco a dez anos para ter um pulmão com menos risco de doença, ou seja, um pulmão igual ao de um não fumante".

Mas só parar de fumar durante a gravidez não é o suficiente. Se a mãe fuma depois do parto, o bebê também sofre imediatamente os efeitos do cigarro. Durante o aleitamento, a criança recebe nicotina por meio do leite materno, podendo ocorrer intoxicação em função da nicotina (agitação, vômitos, diarreia e taquicardia), principalmente em mães fumantes de 20 ou mais cigarros por dia.

Em crianças de zero a um ano de idade que vivem com fumantes, há uma maior prevalência de problemas respiratórios (bronquite, pneumonia, bronquiolite) em comparação com aquelas cujos familiares não fumam. Além disso, quanto maior o número de fumantes no domicílio, maior o percentual de infecções respiratórias, chegando a 50% nas crianças que vivem com mais de dois fumantes em casa.