Educação para o futuro

Espiritualidade Ecumênica, Cidadania Planetária e acesso a tecnologias: três estratégias indispensáveis para construir um mundo justo e igualitário

Wellington Carvalho de Souza

05/03/2018 às 20h41 - segunda-feira | Atualizado em 07/03/2018 às 20h30

Leilla Tonin

Aracely Lopez Narbaez, 13 anos, participa de oficina de informática que utiliza jogos educativos para desenvolver o raciocínio lógico. A atividade é realizada no Centro Comunitário Jesus, da LBV da Bolívia, localizado em La Paz. Ali, centenas de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social têm a oportunidade de acesso às novas tecnologias.

O estudo “A Revolução das Competências”, realizado pelo ManpowerGroup, em 2016, pretendeu quantificar os efeitos dos avanços tecnológicos no emprego. Entre os dados coletados pela pesquisa está o prognóstico de que 45% da prática profissional poderá ser automatizada nos próximos dois ou três anos. Essa é uma ideia atrativa para as indústrias eletrônica e mecatrônica, mas que, certamente, mexerá com aqueles que exercem atividades operacionais.

De acordo com o referido estudo, que cita o exemplo dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é preciso preparar melhor o gênero feminino para que encare essas mudanças. “Os setores mais afetados terão impacto desproporcional sobre alguns trabalhadores em relação a outros: os pouco qualificados, com baixo nível educacional e as mulheres. Os cargos em vendas, operações financeiras e comerciais, escritório e administração estão sob a ameaça da automação, e eles tendem a ter uma proporção maior de mulheres. Os setores para os quais se espera crescimento nos empregos, como arquitetura, engenharia, computação e matemática, tendem a ter menor participação de mulheres”, aponta a pesquisa. E conclui: “Se a trajetória atual se mantiver, as mulheres podem enfrentar a perda de três milhões de postos de trabalho e ganho de apenas um milhão e meio, mais de cinco empregos perdidos para cada emprego ganho”.

Diego Ciusz

Plataforma on-line de ensino

A fim de contribuir para o acesso a uma educação inclusiva e de qualidade, a Legião da Boa Vontade busca, por meio de suas ações, realizar a inclusão digital e social de seus atendidos. Exemplo disso ocorre no Conjunto Educacional Boa Vontade, em São Paulo/SP, que começou a fazer uso de uma arrojada plataforma virtual de aprendizagem em 2015. O recurso é utilizado pelos alunos, pelos pais destes e pelos educadores desde o Ensino Fundamental I até o Ensino Médio. Dentre os benefícios proporcionados pela ferramenta destacam-se a divulgação de datas e de orientações para a produção de trabalhos escolares, a discussão de conteúdos por intermédio de fóruns, a disponibilização de chats e de videoaulas para que os estudantes tirem dúvidas diretamente com os professores, além do lançamento mais rápido pelos docentes de notas e de presença dos educandos.

Contudo, engana-se quem pensa que o processo de aprendizagem é algo puramente mecânico diante das facilidades adquiridas com o ambiente virtual de estudo. A pedagoga Aline Braga Trevisan, assistente de direção do Conjunto Educacional Boa Vontade, ressaltou a vivência de valores da Espiritualidade Ecumênica — entre os quais a solidariedade e a empatia — nos conteúdos que os estudantes recebem. “Os bons princípios entram nos planejamentos das aulas e são sempre aplicados na abordagem dos assuntos do cotidiano.” Ainda segundo a educadora, “o professor age como mediador e motivador do diálogo e do respeito, destacando a responsabilidade dos alunos em utilizar bem essas ferramentas e de usá-las em situações que favoreçam o semelhante”.

Vivian R. Ferreira

Curso de robótica na escola da LBV

Vivian R. Ferreira
Paula Mayumi Siano, ex-aluna da 3ª série do Ensino Médio do Conjunto Educacional Boa Vontade.

Além do uso da plataforma digital e das oficinas no laboratório de informática, desde setembro de 2017 uma novidade empolga os alunos da 3ª série do Ensino Médio da escola: o curso de Iniciação à Robótica. O projeto visa introduzir o segmento da robótica referente à programação de arduínos*, assim como estimular o raciocínio lógico, a criatividade e a investigação científica.

Laura Pedrotti
Paula Mayumi Siano, ex-aluna da 3ª série do Ensino Médio do Conjunto Educacional Boa Vontade.

A grade de conteúdos inclui classificação e montagem de robôs, edição de programas, programação de arduínos, aplicações práticas com controle de robôs utilizando infravermelho (IR) e Bluetooth, montagem avançada de robôs e de dispositivos e tipos e princípio de funcionamento de motores e de sensores. Entre os benefícios que o curso proporciona aos educandos estão o desenvolvimento de aptidões e de habilidades de trabalho em grupo, a aquisição de noções de algoritmos e o fomento da criatividade e da capacidade de resolução de problemas.

Paula Mayumi Siano, de 18 anos, participou da iniciativa e teve a oportunidade de montar dois protótipos de mecanismos automáticos, um movido a energia solar e outro feito de material reciclável. De acordo com a jovem, o curso favoreceu novas perspectivas da carreira que deve escolher. “Estou cogitando entre veterinária e medicina, e, nessas áreas, as tecnologias estão revolucionando. Com esse aprendizado que tenho na LBV, desejo ajudar as pessoas, como [criando] algum equipamento para [realizar] raios X”, afirmou.

Leilla Tonin

Inclusão Digital

Bettina Lopez

Na LBV, Cecilia Pimienta encontrou todo o apoio para cuidar de seus filhos: a pequena Hanna, de 3 anos de idade; Lautaro (D), de 5 anos; e Gabriel, de 8 anos.

Na LBV do Uruguai, os atendidos usufruem um ambiente comunicacional digital, propiciado graças à implementação do Plano Ceibal (Conectividade Educativa de Informática Básica para o Aprendizado On-line), do governo desse país, que oferece um computador portátil a cada estudante da Educação Básica pública. A iniciativa também beneficia meninas e meninos do Jardim Infantil Jesus e os participantes do programa Criança: Futuro no Presente!, empreendimentos esses cujas atividades são realizadas pela LBV no prédio do Instituto Educacional e Cultural José de Paiva Netto, em Montevidéu, capital do país. O objetivo dessa iniciativa é o de oferecer-lhes acesso gratuito à internet, assistência geral para uso do computador e para a tomada de cuidados com ele, o compartilhamento de experiências e o ensino de conceitos relacionados às Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e à aplicabilidade destas na área educacional. Além de ser frequentado por crianças e adolescentes, esse ambiente pode ser usufruído pelos familiares deles e por moradores da região.

O suporte da web é aproveitado, ainda, para o acompanhamento psicológico dos estudantes que apresentam necessidade desse apoio. Durante a realização de oficinas, o psicólogo Iván Krisman reúne os pais das crianças ou os responsáveis por elas em grupos e orienta-os em pesquisas na rede mundial de computadores sobre tópicos relativos aos desafios que os educandos enfrentam, entre os quais dificuldades na aprendizagem e na comunicação familiar. Juntos, respondem a testes on-line de análise psicológica e fazem resumos das recomendações do especialista. Todo esse amparo da LBV do Uruguai tem sido imprescindível para o progresso de Hanna Molina, de 3 anos. A respeito disso, a mãe dela, Cecilia Pimienta, declarou: “Ela tinha muitos problemas para relacionar-se com os colegas de sua idade e, agora, com a atenção personalizada recebida dos profissionais do Instituto, está realmente muito melhor. Agradeço enormemente à Legião da Boa Vontade por esse apoio”.

Mãe encontra inclusão para filha com deficiência

Imagine quanto é angustiante para uma mãe ou um pai não conseguir vaga na pré-escola para um filho com deficiência. Essa foi a realidade que a paraguaia Cynthia Villalba teve de enfrentar. Além de uma disfunção visual decorrente de erro médico após seu nascimento, a pequena Zuelem Villalba, de 3 anos, precisa conviver com a rara síndrome de Pallister-Killian. Essa mutação genética prejudica — e muito — a cognição da garotinha, fazendo com que ela tenha dificuldade para falar, manter-se em pé e andar. Depois de tentar matriculá-la em vários estabelecimentos de ensino de Assunção, foi na LBV do Paraguai que Cynthia recebeu amparo.

Raquel Diaz

“Eu tinha que encontrar um colégio onde Zuelem pudesse estudar, compartilhar conhecimento e socializar-se, mas me recomendavam lugares que fossem pagos e muito caros”, relatou a mãe, que dispõe de poucos recursos financeiros. Depois de Cynthia ter conhecido o Jardim Infantil e Pré-Escolar José de Paiva Netto, a vida da menina começou a melhorar. “Na sala de aula, [Zuelem] se comunica muito bem, mostra uma grande transformação”, detalhou. A mãe ainda revelou: “Estou muito calma, porque sei que minha filha está em boas mãos. Recebe o carinho dos professores e de todos da LBV, onde há também acompanhamento nutricional e atenção psicológica. E, graças ao tempo em que Zuelem fica aqui, posso trabalhar. Faço comida e sobremesas para vender (...). Só tenho que agradecer pela ajuda de vocês [da Instituição].

Para a professora Karen Paola Rojas Dávalos, licenciada em Psicopedagogia e atuante na LBV há alguns anos, “a Pedagogia do Afeto, criada pelo educador Paiva Netto, ajuda bastante na inclusão, já que, por meio dela, se ensina as crianças a respeitar as diferenças umas das outras, sem discriminação. Nota-se nos alunos a Solidariedade, pois, por serem tratados com carinho, todos cultivam o Amor ao próximo”.

Projeto nascido na LBV é sucesso na web

Divulgação

Professor Paulo Valim.

A experiência pedagógica via internet do professor Paulo Valim, que trata de temas relativos a Química, foi retratada em reportagem da Veja São Paulo, uma das principais revistas do Brasil. A matéria mostra que os vídeos da plataforma on-line Química em Ação, criada pelo educador, surgiram como material de apoio às aulas que ele ministrava no Conjunto Educacional Boa Vontade, na capital paulista.

De acordo com Valim, mais de sete milhões de estudantes têm sido beneficiados pela iniciativa, que ainda dispõe de um canal de mesmo nome no YouTube, do qual participam cerca de 500 mil inscritos. “Recebemos centenas de mensagens por dia de alunos agradecendo pelas aulas e celebrando suas conquistas”, afirmou o docente. Lembrando-se da época em que trabalhou na Legião da Boa Vontade, fez questão de salientar: “Sempre fui apoiado na LBV em todas as minhas ideias e agradeço muito, pois grande parte do professor que sou hoje foi pelo carinho e pela mentoria das pessoas que atuam [lá]”.

____________________________________________________________________________
*Arduínos — Plataformas de prototipagem eletrônica de hardware livre e de placa única, das quais se criam ferramentas acessíveis, com baixo custo, flexíveis e fáceis de usar.