Zika Vírus: infectologista do Emílio Ribas explica mais sobre a doença

Karine Salles

11/02/2016 às 18h32 - quinta-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h05

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Erupções na pele, dor de cabeça, no corpo e nas articulações, vermelhidão nos olhos, náuseas, fotofobia, conjuntivite e coceira intensa são sintomas parecidos com os da dengue e da febre de chikungunya, mas estamos falando do zika vírus.

Desde que foi confirmada no Brasil, a doença, que também é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, tem trazido bastante preocupação pelo crescente número de casos e da sua relação com os casos de microcefalia.

Infectologista Jean Carlos Gorinchteyn.

Para esclarecer as principais dúvidas sobre esse assunto, o Portal Boa Vontade conversou com o infectologista Jean Carlos Gorinchteyn, do Instituto Emílio Ribas. Abaixo, apresentamos outros detalhes sobre o assunto:

O que é

 “O Zika é um vírus já conhecido no continente africano, muito mais presente nos chimpanzés. Não havia relato de comprometimentos em seres humanos”, explicou.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), dada a expansão dos ambientes onde os mosquitos podem viver e da raça, facilitada pela urbanização e globalização, há potencial para grandes epidemias urbanas da doença para ocorrer em todo o mundo. “A partir de 1966, por uma modificação genética, ele passa a gerar, em algumas comunidades, doenças não tão alarmantes e num pequeno número de casos. E acabou progredindo para a região do Pacifico, chegando à América do Sul no ano passado.”

Transmissão

Até então, a transmissão da doença era feita exclusivamente pelo mosquito Aedes aegypti, porém, um estudo recente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) constatou a presença do vírus zika ativo, ou seja, com potencial de provocar a infecção, em amostras de saliva e de urina. Segundo a entidade, agora, essas novas formas de transmissão serão mais estudadas.

Sobre isso, o infectologista reforçou: "Não é só a picada do mosquito que promove isso. Sabemos que essa é a mais importante, porém existe ainda a transmissão sexual, a transmissão por meio da transfusão de sangue e pelo transplante de órgãos".

Sinais e sintomas

De acordo com o infectologista, “o Zika pode promover manifestações desde poucos sintomas até manifestações mais intensas, porém, sem grandes riscos para aqueles que estiverem contaminados. Não existe evolução de óbito, pelo menos não há relatos, apenas situações absurdamente especiais”.

A doença causa febre baixa, olhos vermelhos sem secreção e sem coceira, dores nas articulações e manchas ou erupções na pele com pontos brancos ou vermelhos, dores musculares, dor de cabeça e dor nas costas.

A evolução da doença costuma ser benigna e os sintomas geralmente desaparecem espontaneamente em um período de 3 até 7 dias. O quadro de zika é muito menos agressivo que o da dengue, por exemplo. “Normalmente ele tem o período de concentração no sangue e pode ser eliminado pela urina lá pelo oitavo dia”, explicou.

Zika e microcefalia

No final de novembro, após uma alta incidência de microcefalia em alguns Estados no Brasil onde também há alta do número de casos de zika vírus, foi confirmada pelo Ministério da Saúde a relação entre o Zika e a microcefalia.

Vale lembrar que as gestantes têm o mesmo risco que o resto da população de serem infectadas com o vírus Zika. Segundo o infectologista, “a preocupação do Zika Vírus acaba sendo maior nelas, porque ele pode passar a placenta e atingir o bebê, promovendo alterações neurológicas, não só na formação”.

O que acontece é que muitas delas podem não saber que têm o vírus, por não terem apresentado sintomas. O bebê vai ter complicações quando a mãe é picada “principalmente no final do primeiro trimestre e início do segundo, porém, ao longo de toda a gestação esse bebê corre o risco de ter algumas alterações, que nós ainda não sabemos”.

Apenas uma em cada quatro pessoas apresenta sintomas de infecção por Zika e, nas que são afetadas, a doença é geralmente leve.

Tratamento

Não há vacina ou tratamento específico para a infecção por zika. Por isso, a maneira de lidar com a doença é aliviar os sintomas, inclusive para as grávidas, que devem seguir as recomendações de seu médico. A OPAS/OMS recomenda às gestantes que façam as consultas pré-natais para receberem informação e serem acompanhadas.

Prevenção

A melhor proteção contra o vírus é impedir as picadas, bem como o nascimento do mosquito transmissor, como eliminar os possíveis criadouros, evitando deixar água acumulada em recipientes como pneus, garrafas, vasos de plantas, fazer uso de repelentes, entre outros.

"Nós sabemos que 80% dos focos estão dentro das casas. As pessoas passaram a se sensibilizar de forma geral, inclusive no próprio Brasil, a partir do surgimento da microcefalia causada pelo Zika. Isso trouxe uma preocupação, e hoje as pessoas estão muito mais envolvidas no controle dos focos".

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Com informações do Ministério da Saúde, da EBC Brasil, da OMS e da Fiocruz