Tecnologia para o empoderamento da Mulher

Declaração apresentada pela LBV e traduzida pela ONU para os idiomas oficiais do organismo internacional.

06/03/2018 às 20h09 - terça-feira | Atualizado em 07/03/2018 às 21h10

Vivian R. Ferreira

Na capital paulista, Taline Leite Vieira, de 17 anos, participa do programa Aprendiz da Boa Vontade, por meio do qual a LBV prepara adolescentes e jovens para a inserção no mercado de trabalho.

Por meio do relatório transcrito a seguir, a Legião da Boa Vontade (LBV) expõe suas proposições aos nobres participantes da 62ª sessão da Comissão sobre a Situação das Mulheres (CSW), realizada de 12 a 23 de março de 2018, em Nova York, nos Estados Unidos. Nele, a Instituição apresenta as melhores práticas que tem empreendido nas áreas da educação e da assistência social, a fim de contribuir para os debates nesse importante evento. O documen­to foi traduzido pela Organização das Nações Unidas (ONU) para os seus idiomas oficiais.

UN Photo/Mark Garten e UN Photo/Evan Schneider

Duas mulheres em cargos Primordiais | A LBV parabeniza nova dupla, que, a convite do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres (1), integra o alto escalão do organismo: a jornalista Alison Smale (2), secretária-geral adjunta para a Comunicação Global no Departamento de Informação Pública (DPI); e Audrey Azoulay (3), ex-ministra da Cultura francesa, escolhida para ocupar o cargo de diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Nós, da Legião da Boa Vontade, vimos colaborar para a discussão do tema de revisão da 62ª sessão da Comissão das Nações Unidas sobre a Situação das Mulheres: “Acesso e participação da mulher na mídia, impactos e uso das tecnologias da informação e da comunicação como um instrumento para o avanço e o empoderamento da mulher”. Por isso, neste documento compartilhamos algumas de nossas experiências bem-sucedidas e propomos ações inovadoras, exequíveis, acessíveis e sustentáveis, que podem ser adotadas por veículos de comunicação e instituições educacionais desse ramo de atividade, bem como por organizações que implementam programas socioeducativos destinados a famílias em situação de vulnerabilidade social. O objetivo dessas ações é promover a cidadania digital de meninas e mulheres, uma das dimensões da cidadania global.

Atuamos em mais de 170 cidades no mundo, por intermédio da LBV da Argentina, da Bolívia, dos Estados Unidos, do Paraguai, de Portugal, do Uruguai e do Brasil, onde tudo começou, em 1o de janeiro de 1950. Somente nos últimos cinco anos, proporcionamos cerca de 70 milhões de atendimentos e benefícios a pessoas, famílias e comunidades em situação de pobreza, em um grandioso trabalho humanitário.

A missão da LBV

Promover Desenvolvimento Social e Sustentável, Educação e Cultura, Arte e Esporte, com Espiritualidade Ecumênica, para que haja Consciência Socioambiental, Alimentação, Segurança, Saúde e Trabalho para todos, no despertar do Cidadão Planetário.

Vivian R. Ferreira
O Instituto de Educação José de Paiva Netto, em São Paulo/SP, demonstra que Educação de qualidade, Solidariedade e Espiritualidade Ecumênica são indispensáveis à formação do cidadão pleno. Tais valores refletem a Pedagogia do Afeto e a Pedagogia do Cidadão Ecumênico, preconizadas por Paiva Netto e aplicadas, com sucesso, na rede de ensino e nos programas socioeducativos da Instituição. Em um grande totem, ao lado do frontispício, o dirigente da LBV fez colocar esta máxima de Aristóteles (384-322 a.C.), grafada em letras douradas: “Todos quantos têm meditado na arte de governar o gênero humano acabam por se convencer de que a sorte dos impérios depende da educação da mocidade”.

Educação digital de meninas e mulheres

Consideramos o conceito de cidadania digital muito mais do que o simples uso da tecnologia de forma responsável pelas pessoas. Na verdade, cremos que ela é um direito humano fundamental. O domínio das ferramentas tecnológicas básicas é, cada vez mais, um requisito para que os indivíduos possam acessar seus direitos, bem como melhorar suas situações social e econômica.

Por esse motivo, nos últimos cinco anos, dois terços das mais de 35 mil pessoas que frequentaram nossos cursos e oficinas de educação digital no Brasil eram compostos de meninas e mulheres. Destas, um quarto era formado de idosas. Nossa meta é ajudar a remover os obstáculos socioeconômicos e culturais que impedem as mulheres de exercer plenamente a própria cidadania e de participar em condições de igualdade do mundo do trabalho. Sobre esse assunto, o diretor-presidente da LBV, José de Paiva Netto, destaca em seu artigo “Solidariedade: a razão e o coração da Economia”, publicado na edição 2017 da revista BOA VONTADE Mulher (São Paulo: Editora Elevação):

“Se tratamos aqui da urgência de à mulher ser facultado o empoderamento econômico, é porque devemos extirpar, de uma vez por todas, a discriminação contra ela no acesso às mesmas oportunidades de desenvolvimento que os homens recebem no âmbito do trabalho. Não mais podemos aceitar os impedimentos que as mulheres encontram nesse campo, gerando atraso na luta pela igualdade de gênero e pela erradicação da pobreza. Como imaginar a efetiva elaboração de políticas públicas, enquanto ainda se lega a um patamar econômico inferior metade da população mundial? É um contrassenso!”.

Esse trabalho de educação digital se alinha a uma das resoluções firmadas na 47ª sessão da Comissão sobre a Situação das Mulheres, ocorrida nas Nações Unidas, em março de 2003: “4g: Fazer da educação formal e não formal uma prioridade, em particular para o desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação, e tomar medidas para promover a educação das meninas, a fim de facilitar o acesso das mulheres e das meninas às tecnologias da informação e da comunicação”.

Porém, ressaltamos que, de acordo com a perspectiva da igualdade de gênero, a educação digital vai além de capacitar meninas e mulheres com as novas tecnologias. Essa tarefa ainda é importante, e nós a realizamos, pois a desinformação pode levar ao uso precário ou limitado dos recursos existentes. Entendemos que a educação digital tem o papel também de conscientizar os indivíduos dos novos perigos. Em vez de impulsionar a emancipação feminina, a internet pode ser usada no aliciamento para o tráfico de seres humanos, na objetificação, no assédio e na violência contra a mulher.

Organização brasileira dedicada à promoção e defesa dos direitos humanos no ambiente virtual, a Safernet, que já palestrou no 7º Congresso Internacional de Educação da LBV e conduziu oficinas nesse evento, recebeu nos últimos onze anos mais de 3,8 milhões de denúncias anônimas. O assunto mais frequente delas é a pornografia infantil, mas também aparecem os temas tráfico de pessoas, homofobia e outros crimes associados à violência de gênero. Daí nossos cursos e oficinas de inclusão digital integrarem dois de nossos programas: Capacitação e Inclusão Produtiva e Criança: Futuro no Presente!, os quais partem de um diagnóstico social prévio das comunidades em que estamos presentes, mas também se adaptam às demandas espontâneas da população assistida. Nessas iniciativas, cada atendida e a família dela são acompanhadas de forma particularizada por um assistente social e, conforme as respectivas necessidades, por uma equipe multidisciplinar, recebendo orientações e suporte social.

Helen Winkler

Mídia e educação

As organizações da mídia também têm papel importante na promoção da igualdade de gênero. Segundo o último relatório do Projeto Global de Monitoramento de Mídia, de 2015, os avanços nessa área vêm sendo lentos. Nesse ano, apenas 24% (percentual já observado em 2010) das pessoas ouvidas, vistas ou sobre as quais se ficou sabendo por meio de jornais impressos, do rádio e da TV eram mulheres. Nas novas plataformas digitais, a porcentagem sobe ligeiramente: para 26%. Por outro lado, mais que dobrou o percentual de histórias que evocam questões de equidade de gênero, alcançando 9%.

Os conteúdos de mídia que produzimos têm compromisso com a mudança dessa realidade. Além disso, cerca de 60% de nosso quadro de colaboradores internos são do sexo feminino, que atuam desde a área operacional até a da alta gestão. Em nossos veículos de comunicação, abordamos tópicos relevantes, entre os quais a prevenção e o combate à violência de gênero, ao tráfico de seres humanos, à erotização infantil e à discriminação contra as mulheres no mundo do trabalho.

André Fernandes

Volta Redonda/RJ.

Propagamos nossos conteúdos no Brasil por intermédio de 30 canais abertos de TV, que atingem mais de 18 milhões de habitantes, e de 3 canais nacionais de TV por assinatura, que abrangem mais de 10 milhões de assinantes. No rádio, 13 emissoras transmitem nossa programação 24 horas por dia no Brasil, e emissoras na Argentina, na Bolívia, no Paraguai, em Portugal e no Uruguai reproduzem-na em horários específicos. Por meio da internet, alcançamos 4 milhões de pessoas em 2016. Na área de publicações, a revista BOA VONTADE, destinada a formadores de opinião, tem tiragem de 50 mil exemplares.

Igualmente, contamos com a divulgação gratuita de nossas campanhas de conscientização e de mobilização social e de nossas mensagens de valorização da Vida. De janeiro a setembro de 2017, conseguimos somente no Brasil mais de 29 milhões de inserções desses conteúdos em 3,8 mil meios de comunicação parceiros (emissoras de rádio e de TV, páginas de internet, veículos impressos e mídia exterior).

Leilla Tonin
Lisboa, Portugal.

Com base em nossa experiência, estruturamos um trabalho de formação de profissionais com consciência crítica e, sobretudo, solidária acerca dos desafios sociais, econômicos e ambientais contemporâneos. Em 2017 teve início a primeira turma do curso técnico de rádio e TV, com aulas teóricas e práticas, na Escola de Capacitação Profissional Boa Vontade, em São Paulo/SP. Logo no primeiro módulo do curso, que é gratuito, os estudantes tomaram conhecimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, firmados pelas Nações Unidas. O assunto também é abordado constantemente por meio de atividades com a população em nossos Centros Comunitários de Assistência Social, em nossas escolas de Educação Básica e em nossos lares para idosos.

Essas iniciativas vêm ao encontro de duas resoluções da já citada 47a sessão da Comissão sobre a Situação das Mulheres:

“4o: tomar medidas eficazes que permitam a liberdade de expressão, para combater a crescente sexualização do conteúdo dos meios de comunicação e o uso de pornografia nesse conteúdo, no contexto da rápida evolução das tecnologias da informação e da comunicação (...)” e “4j: criar ou, quando já existam, ampliar as escolas técnicas, a formação profissionalizante e os programas de desenvolvimento de capacidades destinados às mulheres, às meninas e às organizações de mulheres, no que se refere à utilização, desenho e produção de tecnologias da informação e da comunicação, inclusive preparando as mulheres e as meninas a assumir funções de liderança e promovendo sua participação no processo político, e integrar uma perspectiva de gênero nos programas de formação em matéria de tecnologias da informação e da comunicação destinados aos professores e nos programas de formação de profissionais dos meios de comunicação”. 

Para que se alcancem essas metas, é imprescindível que as ações existentes de educação digital sejam pautadas pelos princípios da igualdade de gênero e, mais especificamente, da cidadania global, tal como propõem a Pedagogia do Afeto e a Pedagogia do Cidadão Ecumênico, que integram a linha educacional criada pelo educador Paiva Netto. Por isso, nós, da Legião da Boa Vontade, nos pomos à disposição de todos os agentes interessados na continuidade do diálogo sobre esse tópico.

Para finalizarmos, saudamos a todos pelo engajamento nesse importante debate e destacamos alguns trechos que condensam pontos importantes de nossa tese acerca desse tema, defendida ao longo de quase sete décadas:

“(...) A melhor tecnologia a ser desenvolvida nestes tempos de globalização desenfreada é a do conhecimento de nós mesmos. É superior a qualquer descoberta tecnológica, pois tem o poder de impedir que o indivíduo (informatizado ou não) caia de vez no sofrimento por ter desabado na barbárie mais completa.

“Sem o sentido de Fraternidade Ecumênica, acabaríamos com o planeta, mantendo nossos cérebros brilhantes, mas os corações opacos. A almejada reforma da sociedade não virá em sua plenitude se o Espírito do cidadão (ou cidadã) não for levado em alta conta. (...) O mundo precisa de progresso, sim e sempre, que lhe dê pão e estudo; todavia, necessita igualmente do indispensável alimento do Amor e, por conseguinte, do respeito.

“A Solidariedade e a Fraternidade são justamente combustíveis que motivam a ação diligente de todos os atores sociais idealistas da comunidade internacional.

“Se a tecnologia, pois, supera barreiras humanas — a internet é um exemplo disso —, é fundamental que a Solidariedade se desenvolva à sua frente, a fim de iluminar-lhe os caminhos. Nunca estivemos em momento mais auspicioso para demonstrar quão potencialmente grandes são as possibilidades de usá-la a serviço dos povos” (Paiva Netto, no artigo “Ciência, Tecnologia, Inovação, Cultura e o papel da Solidariedade Ecumênica”, constante da edição 2013 da revista BOA VONTADE Desenvolvimento Sustentável, São Paulo: Editora Elevação).