Contra o esgoto nos ecossistemas, atenção com saneamento básico sustentável

Wellington Carvalho

25/05/2016 às 08h46 - quarta-feira | Atualizado em 22/09/2016 às 16h04

Marcelo Camargo/Agência Brasi


Logo que acordamos e vamos escovar os dentes, não nos lembramos de todo o trajeto pelo qual a água que sai da torneira passou até jorrar ali. Mal passa pelas nossas cabeças toda a extensa quilometragem de canos e instalações necessárias para que o líquido fosse disponibilizado adequadamente, mas é necessário também que depois de sair da torneira essa água continue por um caminho planejado. Porém, em muitos lugares o saneamento básico deixa a desejar, colocando em risco a saúde da população e do meio ambiente.

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), na América Latina e no Caribe existem 100 milhões de pessoas sem saneamento. O Banco Mundial ainda aponta que 45% da água é perdida antes de chegar aos consumidores no países latinos.

Ao Portal Boa Vontade, o relator especial da Comissão de Água Potável e Saneamento Básico da ONU, Leo Heller, 59, também professor de engenharia ambiental e sanitária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), afirma que, apesar dos avanços, “ainda existem muitos problemas de qualidade da água, de fornecimento, [precisamos de] uma maior presença de ligações de água nas casas”.

De acordo com o especialista, devido à falta de saneamento básico eficiente, “a maior parte das causas em relação à poluição das águas são de caráter coletivo. Dejetos de indústrias, aplicadores de agrotóxicos [são os principais agravantes]”. E isso coloca em risco os ecossistemas.

Os poluentes químicos presentes em agrotóxicos e metais, por exemplo, provocam um efeito tóxico em animais e plantas aquáticas, podendo se acumular em seus organismos. Um relatório divulgado em 2013 pelo Ministério de Recursos Hídricos da China indicava que 97% dos lençóis freáticos de 118 cidades do país estavam poluídos por conta do esgoto não tratado.

Aqui no Brasil, o Rio Negro, um dos mais importantes do País, sofre com o esgoto não tratado da feira do Porto da Ceasa. Outro caso é o do Rio Amazonas, que recebe as preocupações de ambientalistas na região de Macapá, AP: a Companhia de Água e Esgotos do Amapá (Caesa) constatou, em 2014, que ligações clandestinas na rede de drenagem pluvial levam o esgoto sem tratamento para o rio, já contaminado pelo lixo.

Para Leo Heller, o compromisso com o saneamento básico deve receber maior atenção, pois ele colabora na poluição e pode gerar prejuízos à Natureza quando não cuidado com maior atenção, já que “muitos ecossistemas aquáticos dependem de água em quantidade e qualidade e devemos manter preservadas as fontes do líquido, também cuidando do clima e da biodiversidade". Na opinião dele, "a responsabilidade de tratar o esgoto não é dos cidadãos e sim dos prestadores de serviço”.

As Nações Unidas ainda defendem que “há uma necessidade de se deslocar para as políticas econômicas ambientalmente sustentáveis ​​que levem em conta a interligação entre os sistemas ecológicos”. Nesse sentido, uma medida interessante é o tratamento de esgoto em estações ecológicas, como já é realizado em Araruama, no litoral fluminense, pela estação Ponte dos Leites. Nela, o esgoto é tratado sem agentes químicos ou máquinas caras, reduzindo os gastos com esses produtos e com energia elétrica. O tratamento é feito somente com plantas aquáticas, como a salvínia, papirinho, papiro e sombrinhas chinesas. Elas extraem da água boa parte da poluição, junto aos compostos orgânicos que carrega, além de se beneficiarem com fósforo e nitrogênio. No fim do processo as plantas se tornam excelentes adubos e a água tratada pode retornar para a indústria e vários serviços, como a lavagem de asfalto.